Palavras Cumpridas

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Capítulo 15


Pov Macarena

Depois de ver a professora saindo pela porta demorei algum tempo para pôr a cabeça no lugar. Ainda estava com o coração acelerado e escutando em looping suas últimas palavras. Me contorço em cima da mesa na tentativa de sair da posição que me encontrava. Eu tento me controlar, mas minhas lágrimas não param de descer pelo meu rosto. Procuro com as costas das mãos secá-las, mas percebo que é inútil. Não estava chorando de tristeza mas sim de raiva.

Por que tinha deixado tudo isso acontecer? Aquela mulher conseguiu mesmo sair daqui como se nada tivesse se passado. Se Helena gosta dela, a menina está cega construindo em sua cabeça uma pessoa que não existe, porque essa professora é uma sádica nojenta.

'Mas você gostou dos toques dela ao ponto de quase chegar a ter um orgasmo, não foi?' Digo para mim mesma que agora não é hora de pensar nisso. Eu tinha que bolar um plano urgente que me fizesse não mais ficar nas mãos dessa árabe.

Pov Autora

Macarena saiu da sala um tanto abalada, estava se sentindo perdida não só com o que aconteceu mais cedo, mas também com o que poderia vir a ocorrer caso ela não tomasse as rédeas.

A garota caminhou pela rua depois de parar em um fast-food para almoçar. Sabia que não era o tipo de comida que deveria comer se quisesse manter seu peso para competir na mesma categoria de sempre nos campeonatos de boxe. Mas não conseguiu pensar em nada que pudesse melhorar seu humor além de um sanduíche gorduroso com batatas fritas e um sundae com calda de chocolate.

Depois de descontar suas frustrações na comida a loira seguiu para fazer uma visita para Helena. Elas haviam combinado que depois da aula Maca iria revisar os assuntos de outras disciplinas com a colega para que pudesse tirar notas boas nas provas que perdeu. A menina tinha sido expulsa da escola anterior, onde estudava em Barcelona, e ficou esses meses todos sem frequentar escola alguma já que seus pais insistiram que ela se dedicasse a pensar nas merdas que tinha feito.

Passou meses trancada em casa sem poder sair tendo que aturar as brigas constantes de seus pais que nesse período estavam com a relação ainda mais fragilizada depois da filha ter espancado com um soco inglês alguns garotos de sua antiga turma. Ela tinha ultrapassado todos os limites com esse ato. Mas o que eles não sabiam é que Macarena só teve essa atitude devido às constantes "piadas" que os estudantes faziam com ela.

Antes de chegar na casa de Helena ela volta a se recordar do que havia acontecido. Fábio, Palácios e Sandoval infernizavam sua vida sempre dizendo que ela era lésbica. Até então não sabia o porquê isso a afetou tanto ao ponto de fazer o que fez. Todos eles foram parar no hospital e suas famílias só não entraram com um processo porque apesar de seu pai ser um alcoolatra e não tratar bem a sua mãe, ele era o tipo de pessoa que precisava de uma vida de fachada e para mantê-la não hesitava em construir amizades com juízes e advogados. A verdade é que os pais dos rapazes tiveram medo de perder qualquer processo que viessem a fazer contra a menina e seus responsáveis.

Maca procura dissolver essas lembranças pensando em outra coisa. Ao tocar a campanhia da casa de sua nova colega ela se vê às voltas com o que vai pedir como pagamento pelo acidente do café que derramou.

Pov Helena

Quando abro a porta vejo uma Macarena com uma feição muito triste, que me faz esquecer da pergunta que passei o dia pensando em lhe fazer.

A cumprimento com um abraço e noto que ela não é muito boa em dar abraços, pois logo se afasta e me olha esperando que a convide para entrar.

Quando estamos no meu quarto sentadas em cima da cama cheia de papéis com anotações para estudarmos me levanto para pegar a fotografia de Zulema na frente da porta da sala de informática.

- Tirei naquele dia que você me disse que gazeou aula nessa sala... - mostro a foto para a minha amiga que prende a respiração mas não esboça nada além de uma expressão neutra.

- Me pergunto se nesse dia vocês por um acaso não se encontraram... - procuro formular a frase procurando fazer com que ela não percebesse o ciúmes que se formava no meu peito e sem demonstrar que estive às voltas com isso durante todo o dia... 

'Queria ter gazeado aula nessa sala e passado alguns minutos com Zahir. Não é justo que uma aluna novata tenha tido a sorte de ficar a sós com ela assim...' me pego com esse pensamento feio e sinto um emaranhado de emoções.

Quero fazer amizade de verdade com Maca, acredito que seja uma boa pessoa e como não tenho nenhuma amiga na escola... Seria muito bom que a tivesse como companhia. Por outro lado, são tantas as meninas que procuram ficar perto de Zulema que não sei se aguentaria lidar com mais uma no meu caminho.

Pov Macarena

Observo o peito de Helena subindo e descendo tão rápido com sua respiração acelerada que me questiono rapidamente como obter informações sobre o que me deixou intrigada desde o primeiro dia de aula. Afinal, ela entregou no corredor um envelope, que parecia uma carta de amor, para a professora. E se fosse verdade que estava apaixonada por Zulema eu poderia ajudá-la a esquecer essa hija de puta. Ninguém merece estar apaixonada por aquela louca.

'Como assim ninguém merece? Os dedos dela são bem convidativos a meu ver...' ouço aquela voz que ultimamente não tem me deixado em paz. Balanço a cabeça tentando deixá-la de lado e retorno para a conversa com Helena:

- Provável que ela tenha entrado na sala em um horário que eu já não estava mais lá, porque nesse dia a última vez que a vi foi no banheiro quando ela falou que você fosse à lavanderia com a minha blusa e...

Dou uma pausa para ver se Helena está acreditando na minha versão mentirosa da história e percebo que sim. Aproveito para mudar de assunto:

- Falando na blusa e sobre os seus pedidos de desculpas... Saiba que está mais do que perdoada... Assim que cumprir sua palavra. - digo forçando um sorriso tímido e a vejo ansiosa para escutar o que irei pedir.

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