Capítulo 57
Pov Macarena
Desde o encontro que Zulema e minha mãe tiveram não consigo me concentrar em outra coisa... Milagrosamente minha mãe deixou de pegar no meu pé durante vários dias, às vezes até espero receber uma mensagem dela perguntando que horas estarei em casa. Me pego olhando a tela do celular sem ver nenhuma notificação.
Mas ela passou algumas semanas viajando, foi convidada por suas amigas e nem me deu notícias. Só de vez em quando me enviou poucas fotos. Estava curtindo a praia, o mar, comendo com pessoas que eu nunca vi na vida. Por um lado fico contente de vê-la dessa forma, por outro estou estranhando esse movimento que ela fez.
O que viu na Zule que a levou a ficar tão diferente? Nesse momento sigo para mais um dia de aula e faltam poucos meses para dezembro chegar. Estou tentando deixar essas questões de lado, não dar vazão às paranoias que crio na minha cabeça. Preciso estudar para fazer o exame e entrar em uma boa faculdade. As listas são enormes e fico triste que recentemente Zulema tenha me dito que eu tentasse fazer um curso fora. Minha mãe, apesar de não saber dessa sugestão, seguiu com a mesma opinião. As duas me falaram que ir para Londres é uma boa opção e como minhas notas melhoraram, principalmente depois que Fábio saiu da minha vida e que fiquei bem com a Zule, elas disseram que tenho chances de passar.
Olho pelo caminho as árvores da rua que por vezes passo antes de chegar na escola. Hoje não estou atrasada e resolvi ir pelo caminho mais longo, só porque é mais bonito. Quando penso que posso sair de Madrid me dá um frio na barriga, um medo de perder o pouco que conquistei aqui e antecipo as saudades. Parece que tenho me despedido um tanto a cada dia, talvez porque esteja confiante demais de que eu vá passar no curso que quero e de que seguir as indicações das duas pessoas que mais amo seja a melhor opção. Entretanto, ouvir de Zulema que eu poderia estar em outro lugar e longe dela me faz sentir uma pontada de dor no peito.
Começo a entrar em um looping de pensamentos que me acompanham até passar pelo portão principal, o segurança fala comigo e não o escuto. Por educação sempre tiro meus fones para dizer um 'oi' e escutar seu 'bom dia', mas hoje não fiz tal coisa. Diversas perguntam rondam minha cabeça e não me deixam em paz...
Uma insegurança retorna quando penso que para Zahir não seria um problema a distância. Talvez ela até me queira longe e fico tão emotiva com isso que enquanto retiro meus patins sentada no banco perto do estacionamento não reparo o que acontece à minha volta. É só quando um cheiro de cigarro fica muito forte que levanto a cabeça e a vejo na minha frente. Ela esboça um sorriso lindo nos lábios e me contenho para não me levantar e beijá-la agora mesmo. Que bom que Zahir inicia uma conversa me fazendo repensar o que seria um impulso desnecessário:
- Bom dia, loirinha! - ela parece animada hoje e não consigo controlar as sensações que me tomam agora. Sinto uma raiva que sai com as seguintes palavras:
- Bom dia pra quem? - volto a olhar pra baixo desafivelando o patins do meu pé direito. Abro a mochila e retiro meus tênis para trocar o mais rápido possível e sair correndo para evitar qualquer discussão, porém, ela se senta ao meu lado, joga a bituca do cigarro no chão e pisa lentamente com o pé, respira fundo e segue falando:
- Desembucha o que aconteceu. - isso acaba sendo o suficiente para não me fazer correr. Solto o que já estava entalado:
- Falta um mês para o exame que pode me fazer ir pra Londres. O que tem a dizer sobre isso? É o que quer? Que fiquemos longe uma da outra?
- Maca, você tem uma vida pela frente... Não pensa nisso? - eu a encaro incrédula com essa pergunta. Não entendendo o que se passa em sua cabeça para me questionar isso se tudo o que fiz foi demonstrar o tanto que gosto dela. E o que mais quero agora é encerrar essa conversa para evitar pensar mais besteiras...
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O que nasce do ódio?
FanfictionZulema se tornou professora de árabe após conseguir sua liberdade e Macarena que até então vivia em Barcelona se muda com seus pais para Madrid, indo estudar na mesma escola que a morena leciona. A menina passa a nutrir sentimentos ambivalentes por...