Prólogo

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— Você tem certeza disso? — Meu irmão me pergunta pela milionésima vez

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— Você tem certeza disso? — Meu irmão me pergunta pela milionésima vez.

— Pela primeira vez na vida eu tenho certeza absoluta de algo, Romeo.

Entendo que para ele é difícil ver o irmão caçula saindo debaixo das asas da família, mas é algo que eu preciso. Pela minha lucidez. Simplesmente não posso mais continuar vagando como um moribundo por essa vida, sem saber o que fazer, para onde ir, com quem estar.

Muitas vezes minha companhia foi suficiente para mim. É solitário pra caralho pensar assim, mas não tive escolhas. Elas foram tiradas de mim abruptamente e eu fiquei sem nada, somente uma casca, um nada jogado ao limbo.

Não quero que sintam pena de mim, ou me enxerguem como o pobre jovem que perdeu a mãe muito cedo. Foda-se. Esse não sou eu.

Minha mãe se suicidou quando eu tinha vinte e dois anos, a idade de ouro. Estava curtindo a faculdade, aproveitando tudo que a vida tinha de bom para me proporcionar. Eu estava no auge da minha vida, repleto de amigos, festas, mulheres, diversão. E então, a queda foi grande.

Em Oxford era como se o tempo passasse em uma velocidade completamente a parte da sociedade, e eu me orgulho de dizer que dei valor a cada mísero segundo daquele tempo. Mas voltar a Londres e encontrar minha família em ruínas, me fez desejar ardentemente voltar no tempo. Fazer as coisas diferentes? Absolutamente não, eu não me arrependo de nada do que vivi e faria tudo novamente. Mas eu daria tudo aquilo para ter mais tempo, ter mais voz e aprender a lidar com as situações de forma diferente.

Foi insuportável estar de voltar e meu irmão tomar conta de tudo como se fosse a porra do homem da casa. Meu velho se afundou na depressão com a morte da esposa, o filho prodígio assumiu a empresa e todas as responsabilidades, e eu fiquei sem porra alguma. Somente com a dor dilacerante de perder a única mulher que já teve algum espaço no meu coração.

Jovem, recém-formado, com sangue nos olhos e um buraco negro dentro do peito. A receita perfeita para uma viagem só de ida ao inferno.

Aprendi a lidar com a dor e o luto por conta própria. Ninguém me estendeu a mão, ou perguntou se eu precisava de algo. Ninguém perguntou que porra eu queria da minha vida. Todos deduziram que o melhor seria deixar meu irmão tomar conta de tudo e diminuir o peso dos meus ombros.

A porra do peso. E alguém pensou em perguntar se eu queria diminuir a porra do peso? Era a única coisa que poderia ocupar minha cabeça e me fazer lúcido novamente. Eu também perdi a porra da minha mãe.

Não culpo Romeo pelo que aconteceu; meu irmão é o cara mais altruísta que eu já conheci em toda a minha vida. Sei que tudo o que ele fez foi pensando no melhor para nossa família. Mas ao mesmo tempo sinto vontade de socar a cara dele por me achar tão imprestável a ponto de precisar que o irmão mais velho pegue na minha mão durante todo o caminho. Como uma maldita criança.

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