Capítulo 1

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A gentileza é uma linguagem que o surdo consegue ouvir e o cego consegue ler

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A gentileza é uma linguagem que o surdo consegue ouvir e o cego consegue ler.

Desconhecido

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Os passarinhos cantam e voam por entre as árvores. O sol queima num calor bem recebido pelo meu corpo. E a brisa leve que entra pela janela aberta anuncia que o dia será fresco e a noite fria. Penso sobre o casal que virá visitar o orfanato hoje. Espero que adote alguma criança mais velha, pois sei como é decepcionante quando eles só dão atenção para as crianças menores ou os bebês. Me atenho para porta quando ouço uma batida.

— Genevive? Já acordou? - pela voz já sei que é Delia.

— Estou saindo. - me levanto e alcanço a bengala ao lado da cômoda.

Caminho até a porta, mas lembro que não fechei a janela e volto para fechá-la e ouço um barulho de carro, provavelmente é o casal que já chegou. Delia abriu a porta e assim que colocou os pés no corredor ela tranca a porta. Não por medo de segurança, mas sim pelas crianças que às vezes se aventuram pelo corredor dos funcionários mesmo sabendo que é proibido. Já de braços dados comigo, Delia segue até o saguão, onde o casal já deve estar.

Consigo sentir a agitação das crianças e também das cuidadoras. Infelizmente, muitos casais desistiram da adoção no meio do processo. Ouço a porta abrir e logo todos prendem a respiração pela ansiedade.

— Crianças esses são o senhor e a senhora Russo.

Invejo Dona Mercedes, por conseguir sempre manter a calma, mesmo em situações difíceis ela mostra que é perfeita no trabalho de diretora. Sempre mantendo a ordem e, ao mesmo tempo, distribuindo carinho e atenção. Devo muito a ela. Ela esteve nos momentos mais difíceis da minha vida desde sempre. O orfanato não era próprio para pessoas com deficiência, mas mesmo assim ela me acolheu e com o médico que me trouxe cuidaram de mim.

Quando tinha quatro anos decidi que queria tocar música, e como no orfanato havia um piano de calda, foi exatamente nele em que me aperfeiçoei. Comecei sozinha, fazendo muito barulho, mas em uma visita do Dr. Enrico, ele me ouviu e disse que eu precisava de umas aulas, rimos e fizemos alguns exames de rotina básico. Continuei tentando tocar o piano, e seis meses depois da conversa com o Dr. Enrico, ele veio me avisar que me matriculou em uma escola de música, fiquei muito feliz, mas acabei tropeçando no tapete que tinha na sala e quebrei a mão. Quando tirei o gesso, já tinha completado cinco anos, Dona Mercedes me disse que minha matrícula na escola de música ainda estava a minha espera se eu ainda quisesse estudar música, aceitei na hora, mas quando chegou o primeiro dia fiquei assustada em como as outras crianças iriam reagir quando me vissem, e para minha surpresa, era uma escola de música para pessoas especiais. Tinha muitas crianças cegas, surdas, autistas e até mesmo crianças paraplégicas. Depois de um ano descobri por meio de uma conversa entre minha professora de música, Larissa e do Dr. Enrico, que a escola era dele e que ele a abriu para mim. Com os anos comecei outros instrumentos, mas só consigo tocar bem o piano e o violino, a escola se tornou uma faculdade, e hoje é como uma segunda casa para mim.

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