PRIMERIO ATO - A CIDADE DOS ESQUECIDOS

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A ÚLTIMA LEMBRANÇA que eu tenho são as luzes vindo em minha direção, depois disto, minhas lembranças são turvas.

Senti minha cabeça latejar, e foi esta dor que me trouxe novamente a consciência. Entretanto, ao abrir os olhos fui nocauteado por um feixe de luz. Quando meus olhos se acostumaram com a luz, observei que seja lá onde eu estivesse tinha paredes pintadas de um azul claro bem gasto, e uma janela redonda por onde entrava a luz.

Com um misto de esforço e dor consegui me sentar naquilo que vi ser um leito. Meus olhos correram pelo cômodo, era maior que eu imaginei. Tinha três janelas redondas, uma única porta e mais cinco leitos envolta do meu.

Me preparava para levantar quando ouvi a porta se abrindo:

— Não, não, não você precisa descansar! - uma jovem de roupas desgastada segurou meu corpo impedindo minha ação.

— Onde estou? - perguntei.

— Deite-se, vou lhe trazer algo para comer.

A jovem se retirou assim que conseguiu me fazer deitar novamente. Escutei barulhos vindos de todas as partes, mas não consegui identificar nenhum deles. Fiquei neste impasse até a jovem retornar trazendo consigo uma tigela com algum líquido fumegante. Ela sentou-se ao meu lado e começou a servir-me colheradas.

Não percebi que estava com fome até a primeira parcela do líquido cair em meu estômago. Arranquei a tigela de suas mãos e engoli aquele caldo de uma vez só. A jovem não parecia espantada, olhava-me e ofertava-me um sorriso condescendente:

— Obrigado. - disse lhe entregando a tigela. Ela penas sorriu. — Onde eu estou?

— Você se sente bem?

— Sim!

— Consegue ficar de pé?

— Acredito que sim!

-— Ótimo. — ela levantou-se e caminhou até a porta, a ouvi falar com alguém, em questão de segundos um rapaz alto de barba a fazer parou em minha frente.

— Como está? — sua voz era grave e sua expressão fria.

— Bem, obrigado.

— Poderia fazer o favor de me acompanhar?

— Claro. — levantei lentamente com ajuda da jovem. Minha cabeça e minhas costas doíam.

Caminhamos por um labirinto de corredores ornamentados com móveis, quadros e papéis de paredes bem desgastados. A cada passo que eu dava ficava mais claro a onde eu estava, mas ainda me perguntava como fui parar ali.

Nosso passeio terminou em uma grande biblioteca com inúmeras poltronas devoradas por traças, pinturas a óleo e até esculturas. As estantes onde repousavam os livros eram feitas de madeira de primeira linha. Paramos ao nos aproximar de uma mesa na qual dois homens examinavam um amontoado de papéis.

Meu guia caminhou até um deles homem e falou algo em seu ouvido. Pela proximidade dos dois percebi que suas roupas eram bem similares:

— Fico feliz em ver você de pé! — sua voz era pacífica, seu sorriso condescendente como o da jovem, mas seu olhar era afiado. Era um homem feito, mas duvido que já tenha chegado aos trinta anos. — Sente-se, por favor, não gostaria que gastasse sua energia emergente!

A CIDADE DOS ESQUECIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora