SEGUNDO ATO - SCHIMATE

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Sai do quarto do Imediato atordoado, não sabia que horas era, mas a jugar pela correria das crianças pelo corredor, já estavam servindo o almoço. Não pretendia me juntar a eles, tudo o que eu menos queria naquele momento é ter algo em meu estômago.

Esperei na biblioteca até que todo o enjoou que se apoderava do meu corpo passasse, e em seguida, atendendo a receita do meu médico interior, decidi tomar uma boa dose de ar fresco no convés.

Quando cheguei aqui, as pessoas ofertavam-me olhares cheios de condescendência. Hoje conforme passo por eles vejo seus olhares cheios de dúvida, preconceito e incredulidade.

Sentei em uma cadeira próxima ao bote número um, e observei à estranha acinesia dos campos de plantação. Quando estava quase cruzando a fronteira do sono uma figura pequenina emergiu de dentro do bote perto de mim:

— Você está bem Daniel? — perguntou Jorge sorrindo.

— Já tive dias melhores.

— Acho que você não leva jeito para detetive!

— Então vamos ver se você leva; por que ninguém está trabalhando nos campos?

— O Capitão declarou luto!

— Sensato.

— Sabe do que mais eu sei?

— O que? — me coloquei de pé.

— O funeral do Jeremy é daqui a pouco e, eu ouvi algumas pessoas dizerem que não vão comparecer.

— Por quê?

— Não sei, eu só sei o que eu ouso.

— Já me é de grande ajuda; mantenha seus ouvidos aguçados assim e deixo você comer minha sobremesa por uma semana. — seu sorriso estendeu-se de orelha a orelha.

— Pode deixar, vou ficar atento a tudo que falam pelos corredores! — Jorge saltou do bote e imediatamente correu para o interior do navio. Imagens povoaram minha mente, lembranças de quando brincava com meu irmão. Lágrimas quiseram rolar, mas não tinha tempo para isso, tinha algo há fazer.

Enquanto andava pelo navio encontrei o cortejo fúnebre que levava o corpo de Jeremy para o lugar de seu descanso final. Não contei quantas pessoas tinham, mas vi que realmente eram poucas.

Por um breve momento meu olhar e o do Capitão se conectaram, então um arrepio percorreu minha espinha causando leves tremores em meu corpo. Desvie o olhar e segui meu caminho ainda sentindo os tremores.

Parei na porta do quarto 66, o quarto de Jeremy. Me preparava para bater na porta quando esta se abriu:

— Daniel?! — o rapaz de olhos castanhos e cabelos longos que abrirá a porta parecia surpresa com minha presença.

— Isaac?

— Sim!

— Você não era o companheiro de quarto do Jeremy? — o vi engolir saliva.

— Sim!

— Me pergunto por que então você está aqui e não no funeral. — vi o desconforto inundar seus olhos.

A CIDADE DOS ESQUECIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora