SEGUNDO ATO - SCHIMATE

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PAULATINAMENTE EU me acostumei com aquele lugar, pouco a pouco absorvi e me misturei a tudo aquilo, a cada história, a cada pessoa. Gradativamente a ideia de que aquele era meu novo lar criava raízes em minha consciência.

Minha parcela de contribuição a sociedade ficou em auxiliar o Colégio Eclesiástico em suas aulas. Dom Carlos, o bispo da capela de São Lázaro a quem fora atribuído o tratamento de Vossa Santidade além de outras ocupações que, na Santa Sé são conferidas apenas ao Sumo Pontífice, me catalogava como sendo um devoto militante. Logo boa parte do meu dia já estava ocupado, e o tempo que me restava antes do jantar eu o gastava na biblioteca ou auxiliando Clara na enfermaria.



Acordei com o barulho de pessoas andando no corredor. Junto com os meninos fiz minha higienização, e depois fomos ao refeitório esperar o que pareceu uma eternidade na fila para pegamos nossa porção da providência divina e depois nos sentarmos em uma mesa próxima às janelas:

— Vocês perceberam algo de estranho? — perguntou Phillip.

— O que? — perguntou Jim com a boca cheia.

— Os vigias não estão nos postos de observação! — o garoto apontou para a janela, e todos olhamos, as arvores mais altas estavam decoradas com plataformas fazias.

— Para onde será que eles foram? — perguntou Sam.

— O Capitão sabe disto? — foi à vez de Ben perguntar.

— Vamos descobrir! — fiz sinal para Jorge que caminhou até nós sorridente.

— Oi!

— Você viu o que aconteceu com os vigias? — perguntei ao menino que ajudei a resgatar na noite seguinte a minha chegada.

— Os vi entrando na sala onde fica aquele negócio que controla o navio!

— No passadiço?! — Perguntou Sam.

— O que será que aconteceu para os vigias serem chamados ao passadiço assim, todos de uma vez? — foi à vez de Phillip perguntar.

O som de um prato batendo com violência contra a mesa chamou nossa atenção:

— Encontraram um corpo pendurado na polpa! — disse Clara se jogando em uma cadeira. — Eu estava olhando para o falecido até agora, por um momento tive inveja dele de tanto sono que eu estava!

— Um morto! — exclamou Jorge.

— Podemos ver? — perguntou Jim eufórico.

— Claro que não!

— Chata.

Os garotos e Clara mantinham sua discussão quando dois homens desceram os degraus da grande escadaria e dando mais alguns passos pararam perto de nossa mesa:

— Daniel? — disse um deles.

— Sim? — os dois eram altos e traziam no rosto uma preocupação compartilhada.

A CIDADE DOS ESQUECIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora