PRIMEIRO ATO - A CIDADE DOS ESQUECIDOS

53 13 101
                                    


2



Acordei novamente com aquele feixe de luz queimando meu rosto. Sentia dores, porém mais brandas que ontem. Ao levantar por completo e vi sobre o criado mudo um conjunto de objetos de higiene pessoa. Os peguei, e depois de examinar novamente o cômodo, encontrei uma segunda porta escondida atrás de uma das cortinas de divisão de leito. Um banheiro.

Andar por aqueles corredores era como estar dentro do Labirinto de Dédalo, por um momento temi encontrar o monstro de Minos. Depois de minutos perdidos tentando seguir aquelas malditas placas que pareciam mais perdidas que eu mesmo, decidi me guiar pelo som alto das pessoas conversando. Obtive sucesso.

Aquilo que um dia tinha sido um luxuoso restaurante onde mulheres e homens desfilavam com suas roupas absurdamente caras, estava agora atulhado de pessoas com roupas simples e desgastadas. Era uma visão medíocre, mas não melancólica.

O restaurante era composto de dois pisos ligados por uma gigantesca escadaria e decorado com uma majestosa cúpula de vidro. Perto da cozinha os moradores formavam uma fila para pegar sua porção do mana divino.

Sentei-me e observei aquela cena digna de um documentário sobre a queda de Paris, e novamente fui arrastado para o dia em que o chão debaixo de minha casa tremeu; que o alicerce e as colunas caíram, e que o fogo consumiu o mundo que eu conhecia. O Dia em que os alemães fizeram de minha cidade natal, Sodoma e Gomorra.

Estava preso nesta lembrança amarga e odiosa quando alguém me puxou para fora:

— Oi! — um garoto baixinho sorriu para mim, seus olhos quase totalmente fechados por causa desta ação. Delicadamente ele colocou um prato de comida em minha frente e sentou-se na cadeira ao lado. — Eu me chamo Phillip!

— Daniel.

Imediatamente mais três meninos sentaram-se à mesa, do outro lado, de frente para nós:

— Estes são Bem, Sam e Jim! — disse o pequeno Phillip apontando da esquerda para direita. Balancei minha cabeça em cumprimento.

— Então você é o novato, o que foi atropelado por um bonde?

— Sim — sorri envergonho.

— Uau! — disse os três em uníssono.

— Deixem ele comer em paz! — ao meu lado sentou-se a jovem que vi quando acordei ontem.

— Muito prazer, Clara! — seu sorriso desta vez não era condescendente, era sincero. Quente.

Dei início a doce missão de encher meu estomago. Eu comia em silêncio ouvindo uma avalanche de histórias e piadas sobre pessoas que eu não conheço e, de vez em quando me pegava olhando para Clara, até alguém tocar em meu ombro:

— Daniel, fico feliz em ver que já está fazendo amizades! — disse o Capitão. - Senhorita, senhores! — cumprimentou o grupo que sorriu em resposta. — Depois da refeição procuraremos um quarto para você.

— Em nosso quarto há uma cama desocupada, se quiser pode ficar conosco! — ofereceu Phillip.

Assenti:

— Maravilha! Cuidem bem de nosso amigo garotos! — o Capitão despediu-se de nós e caminhou em direção à escadaria no pé da qual Max o esperava.

A CIDADE DOS ESQUECIDOSOnde histórias criam vida. Descubra agora