Shouto estava sentado em sua cama, balançando os pés para a frente e para trás, inquieto, abanando-se inutilmente com uma das mãos, como se aquilo fosse ajudar com o clima veranesco.
Ao ouvir um barulho, um sorriso iluminou seu rosto, seus olhos imediatamente voltaram-se para a janela e o garoto saltou da cama, dirigindo-se ao peitoril e empurrando a folha para cima, respirando o ar carregado da noite quente.
Sentado despretensiosamente em sua sacada, de braços cruzados e parecendo entediado estava Bakugou. Seus olhos rubinos brilharam sob a iluminação vinda do quarto, intensos, a língua afiada correu entre os lábios, abrindo um sorriso de dentição perfeita, as presas proeminentes destacando-se em seu gesto.
E não só isso. Bakugou se passaria por qualquer outro garoto da idade de Shouto, se não fosse pelos chifres negros enormes, curvados e pontiagudos que despontavam entre os cabelos loiros, as orelhas também pontudas e uma cauda que se movia calmamente, mas reagia às suas variações de humor, o bicolor veio a perceber com o tempo.
Um demônio.
Talvez a situação toda exigisse um pouco mais de preocupação da parte de Shouto, por sua própria segurança, diante do fato de que ele estava escapando no meio da noite para aventurar-se nas ruas da cidade com uma criatura diabólica em seu encalço.
— O que faz aqui? — perguntou o meio a meio, quase sem conter o seu sorriso.
Bakugou olhou em volta, fingiu pensar em uma resposta por cerca de meio minuto, voltando-se para o rosto do garoto a sua frente e dando de ombros.
— Não tinha nada melhor pra fazer — respondeu simplesmente. — O que acha de me fazer companhia nessa noite infernal?
Shouto não segurou a risada acompanhada de um revirar de olhos pela piadinha infame. Ele olhou de volta para seu quarto, pensativo. Sua mãe provavelmente estava desmaiada bêbada no sofá, seus irmãos também não estavam em casa, como sempre, cada um tinha o seu próprio lugar para escapar daquele buraco em que viviam.
Ele tornou a olhar para o demônio, que ainda esperava com expectativa, os olhos vermelhos brilhando feito chamas; ele deveria se sentir apavorado, mas algo lhe dizia que se essa criatura quisesse matá-lo, já o teria feito há um longo tempo.
— Só um momento.
Foi sua vez de dar de ombros, sinalizando para que ele esperasse um segundo, enquanto sumia de volta para dentro do quarto, enfiando algumas coisas que poderia precisar em sua mochila, antes de partir.
Bakugou às vezes era um babaca sacana, o que era de se esperar de um demônio, porém algumas vezes, ele era quase... gentil. Ou o mais próximo de gentileza que um ser das trevas poderia chegar, quando ele ajudava o bicolor a descer da sacada e atingir o chão são e salvo, sem ossos fraturados ou contusões.
— O que você quer fazer, meio a meio? — Bakugou perguntou casualmente, enfiando as mãos nos bolsos da jaqueta conforme eles caminhavam juntos pela calçada.
Enquanto o bicolor vestia shorts jeans acima dos joelhos, uma camiseta de tecido leve e um par de Converse brancos, o demônio era um claro contraste, com uma jaqueta bem pesada, daquelas feitas para invernos severos, pareado com calças grossas e coturnos, claramente não afetado pelo clima terrestre.
— Há um parque aqui perto, nós podemos ir até lá — sugeriu.
— Está bem, vamos passar em uma loja de conveniências antes para pegar uns lanches, você gosta dessas besteiras, não é?
— Er, eu não tenho nenhum dinheiro...
O garoto deveria ter esperado o sorriso sardônico que se instalou no rosto do demônio, a cauda balançando de forma excitada.
— Deixe isso comigo.
O resultado dessa afirmação foram os dois correndo desesperadamente, de um senhor que não parecia ter toda aquela energia, até ele sair de trás do balcão com uma espingarda, atrás deles.
Shouto suspeitava que Bakugou havia diminuído o seu ritmo para que ele pudesse acompanhar, ao invés de deixá-lo para trás com sua supervelocidade e superforça, mas por algum motivo, ele nutria algum tipo distorcido de compaixão por aquele humano.
— Essa foi por pouco! — disse o bicolor, recostando-se em uma árvore e tentando recuperar seu fôlego, quando já estavam bastante afastados do perigo.
— Aqui. — Bakugou tirou de dentro do casaco a garrafa de Beefeater que havia confiscado da loja, desrosqueando a tampa com facilidade, e oferecendo-a ao humano após dar um longo gole.
— Você conseguiu pegar!
— É lógico que eu consegui, porra, quem acha que eu sou?
— Eu acho que você é um demônio muito convencido — respondeu, tomando a garrafa para si, diferente do demônio, ele fez uma careta horrível quando o líquido tocou o seu paladar. — Ew, isso é horrível.
— Vocês humanos são bem frescos — retrucou, puxando novamente a garrafa para si e bebendo outro gole como se fosse água. — Onde fica essa merda desse parque que você queria tanto ir?
Shouto sorriu ao ouvi-lo, e sem pensar, alcançou a mão de seu parceiro sobrenatural, enquanto tomava a bebida dele novamente, bebericando de forma mais cautelosa agora, fazendo-se de forte apesar do gosto ruim, enquanto o puxava consigo a caminho do seu lugar favorito naquela cidade.
Demônios, em sua essência, não deveriam ter sentimentos, ou sequer demonstrar qualquer tipo de emoção que não fossem todas as coisas vis que eram capazes de fazer. No entanto, conforme o bicolor o puxava, Bakugou sentiu algo, um tipo de força, ou energia, era conflituoso o suficiente para fazer a cauda agitar-se nervosamente acompanhando o seu tumulto interno.
O que aquele humano tinha de diferente?
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Coletânea Todoroki & Bakugou | OTPtober | BNHA
FanfictionEssa será uma série de histórias independentes que serão postadas durante outubro, cada dia atende a um tema da lista do OTPtober criada por @/DigitalPopsicle no Twitter.