Eles não são o tipo convencional de casal, nunca foram, nunca seriam. Nenhum deles foi moldado numa forma de afeto e pequenas delicadezas.
Como esperado, eles não têm apelidos sacarinos um para o outro, salvos os menos que carinhosos deslizes que escapam entre suspiros em meio aos lençóis, e estes sequer podem ser considerados amorosos, leves degradações consentidas para manter a chama ardendo, um velho hábito juvenil que impede a monotonia.
No dia a dia, Shouto argumentaria fervorosamente que já se habituou aos "meio merda" ditos em um tom suave demais para que fossem considerados insultos, e que ele até os aprecia secretamente, mas eles jamais seriam pegos se chamando de "docinho" ou "bebê".
(Katsuki, principalmente, o loiro tem vontade de vomitar quando está perto de Uraraka e Deku — "Você almoçou hoje, meu coelhinho?" "Mas é claro, minha gatinha!" — que porra eles são, afinal? Malditos furries? Qual é o apelo dos apelidos com temática animal?)
No entanto, há uma instância onde Katsuki e Shouto deixam as resistências de lado, um único lugar onde ninguém mais pode ser testemunha da pequena indulgência entre eles.
Os dois têm muito em comum.
Um lar quebrado onde cada coisa querida havia sido esmagada sob a ganância de um único homem, que lapidou a sua obra mais perfeita a ferro e fogo até a sua própria satisfação, e nunca, nunca alcançou o objetivo final.
Uma dúzia de pequenos grandes desastres, um alvo nas costas e um rótulo pairando sempre sobre a cabeça, desde cedo, muito cedo, um sequestro, e depois outro, enquanto sentimentos se empilharam, um atrás do outro, até que um dia talvez sufocaria em tanta culpa, tantos erros.
E nas defesas não tão firmes em suas mentes, as rachaduras sempre visíveis, sempre presentes. Pesadelos, então. Ironicamente, os dois os têm. Uma cortesia subconsciente fruto de todas as pequenas rotas que os levaram até o momento presente.
É nesse fragmento de tempo em que eles se permitem uma pequena quebra de personagem, uma fratura na casca grossa que fortaleceu as suas peles em todos esses anos lutando contra cada um de seus demônios, visíveis e invisíveis.
Katsuki acorda gritando no meio da noite, palmas apontadas para a frente, mirando no inimigo que com certeza — com certeza — está ali. Shouto, em seus piores dias, congela toda a cama, aprisiona seus corpos em uma câmara glacial.
"Está tudo bem, meu amor. Eu estou aqui, sou só eu."
É o único jeito, mas funciona como mágica. Os corpos se acalmam, aninhando-se ao peito firme, o calor acolhedor, a certeza de que nenhum inimigo está ali realmente, só estão os dois — só eles, ninguém mais.
Em nenhum outro lugar essas palavras escapam, nem no ápice do prazer, e nem no calor de um momento de empolgação, mas aqui, entre as quatro paredes do quarto que eles já dividem há uns bons anos, no perímetro da cama grande o bastante para dois, existe um conforto nessas palavras secretas, quase como um encantamento mágico.
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Coletânea Todoroki & Bakugou | OTPtober | BNHA
FanfictionEssa será uma série de histórias independentes que serão postadas durante outubro, cada dia atende a um tema da lista do OTPtober criada por @/DigitalPopsicle no Twitter.