Com quatro anos de idade, não se sabe muito sobre as coisas da vida, porque os adultos não contam nada para as crianças.
Então quando Katsuki e Shouto se encontraram naquele parquinho, foi por acaso, e longe dos olhos de suas mães que eles descobriram algo único, que nenhum deles sabia o que significava, apenas que era incrível.
Talvez Katsuki tivesse empurrado seu novo amiguinho no chão, porque não sabia controlar seu temperamento explosivo, as duas mãos pequeninas apertaram-se em punhos tão estreitos que as juntas ficaram esbranquiçadas. O outro garotinho olhou feio, e com as bochechas infladas, empurrou-o de volta, algo que nunca acontecia, porque as outras crianças geralmente saíam correndo para a barra das saias de suas mães e Mitsuki o castigava por nunca saber se comportar.
Nada disso aconteceu naquele dia, porque quando eles se empurraram, o de cabelos de duas cores diferentes olhou para o loiro com uma expressão mesmerizada. Katsuki arregalou os olhos, fitando para o outro também. Não estavam mais bravos, crianças esquecem rápido das coisas, e aquilo era muito mais interessante do que a briga que tiveram dois minutos atrás.
O peito de ambos brilhava com uma bonita luz dourada que emanava deles, começou no momento em que se tocaram, saindo em pequenos raios pelo tecido de suas blusas. Era como olhar para o sol, mas diferente, pois não doía encarar diretamente aquela luz esplêndida, era quase como se ela atraísse seus olhos.
— Uau, como você faz isso? Me ensina a fazer também! — demandou o loirinho com curiosidade.
Estava empolgado, afinal, sempre quis muito aprender a fazer aquilo também! Já tinha visto pessoas na rua brilhando, mas eram sempre adultos, achava que só eles podiam. Quando perguntava aos pais, eles diziam que quando fosse mais velho entenderia, ele não gostava, cruzava os braços, batia o pé, era tão injusto! Seus pais sabiam brilhar daquele jeito também e poderiam muito bem ensiná-lo. Nem mesmo seu pai, que era muito mais legal que a bruxa, lhe dizia, mesmo quando ele tentava convencê-lo dizendo que não precisariam contar para a mamãe que ele sabia.
— Mas você 'tá fazendo também, olha aí! — Os olhos díspares do outro estavam enormes e bem redondinhos, estrelados e refletindo sob a luz áurea, aquela a coisa mais interessante que já tinha visto em toda a sua vida.
— Ahhh, é igualzinho quando a mamãe chega perto do papai! — Katsuki disse empolgado.
— Como assim? Seus pais também brilham assim? — questionou com confusão, pendendo a cabeça para um lado. — Os meus não brilham! — Os dois ficaram encarando um ao outro, piscando várias vezes, até que Shouto ouviu a voz de sua mãe chamando para irem embora. — Droga, eu preciso ir!
Por alguma razão, ouvir que ele precisava ir encheu o de olhos rubros de tristeza. Ele segurou no pulso de seu amiguinho, que o encarou sem tentar se soltar. Lembrou que os adultos nunca lhe davam as respostas que queria e pensou que aquela oportunidade era perfeita.
Com bastante astúcia para a sua cabecinha de quatro anos de idade, ele disse:
— Shouto-kun, não conte para ninguém sobre a luz, sim?
— Por que não? — perguntou, ainda olhando para ele entusiasmado.
Katsuki deu de ombros, soltando o pulso de Shouto para poder coçar o nariz, fungando.
— Você não acha legal se só a gente souber?
Não fazia sentido, mas com quatro anos, as coisas não precisam fazer nenhum sentido. O bicolor pareceu considerar a ideia por um momento, então seus olhos se iluminaram, talvez até mais que a luz que emanava de si.
— Então tudo bem, Kacchan!
Quando a mãe o chamou de novo, ele correu, acenando. O brilho foi diminuindo conforme o meio-albino-meio-ruivo se afastava, então as mães não viram nada do que havia se passado, e nenhum deles contou para alguém, como tinham prometido.
Era uma alegria compartilhada por eles, sempre que se encontravam no parquinho, escondiam-se dentro de uma casinha, longe dos olhares curiosos de suas mães e ficavam maravilhados com a luz dourada, parecia até quentinha às vezes. Não sabiam o que significava, só que aquilo os enchia de alegria, riam disso como se fosse algo muito engraçado.
Porém, um dia, Shouto parou de aparecer.
Os anos se passaram.
Eles esqueceram quase que completamente um do outro. Katsuki fez esse esforço, frustrado e triste, porque nunca mais encontrou o garotinho de cabelos bipartidos — porque o garotinho de cabelos bipartidos o abandonou.
Mas ele nunca realmente esqueceu.
Katsuki sonhava com vermelho-e-branco, branco-e-vermelho, não havia um rosto, nunca havia, ele sempre acordava antes dele se revelar para si.
Shouto sonhava com rubis e dourado, com o próprio sol, impossível de olhar diretamente, por mais que ele quisesse tanto se aproximar.
Foi por acaso, e totalmente por culpa da pressa, quando um dia Katsuki quase derruba um homem em sua frente na estação. Por educação, apesar de seu aborrecimento, ele foi rápido em agarrar o braço do estranho para impedir que ele caísse para trás.
No instante em que ele o tocou, uma luz dourada explodiu entre eles, fazendo os dois quase saltarem para trás, mas em seu choque, o loiro apenas manteve seu aperto em um braço firme.
Quando os olhares se cruzaram, finalmente, eles lembraram-se, é claro que se lembravam. Nunca foram capazes de realmente esquecer sobre os cabelos bicolores e os olhos de rubi. Hoje eles sabiam o que a luz áurea significava.
Os dois ao mesmo tempo parecem compreender, a realização veio e plantou um largo sorriso nos lábios de ambos, e então, ao mesmo tempo:
— Encontrei você!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Coletânea Todoroki & Bakugou | OTPtober | BNHA
FanfictionEssa será uma série de histórias independentes que serão postadas durante outubro, cada dia atende a um tema da lista do OTPtober criada por @/DigitalPopsicle no Twitter.