Darkside [Dia 18 - Férias]

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— O que está fazendo aqui? — Bakugou perguntou surpreendentemente calmo. Ah, isso era tudo que precisava em sua tão esperada folga.

Eles se conheceram na escola, formaram-se na mesma turma no curso de heróis, topo da classe e tudo mais.

E então, sem mais, nem menos, Todoroki surtou. Como uma princesa invertida, ele se sentou num trono de gelo e assistiu toda a devastação de tudo que havia sido conquistado pelo sangue do seu sangue, e se provou fodidamente bom nisso também, talvez até mais do que seu potencial para o heroísmo, o poder que ele exalava como vilão era puro e sem grilhões.

O que quer que fosse que seu velho alucinado tinha em mente, com certeza não era isso. Mas Bakugou conseguia apreciar de longe o grande dedo do meio metafórico que isso era. Um enorme foda-se para os esquemas de Endeavor, porque Shouto jamais seria domado como ele esperava. Realmente o homem havia criado um monstro.

E esse monstro estava imobilizando-o em sua cama do quarto de hotel que ele tinha reservado para relaxar em suas curtas férias de uma semana, o máximo que um herói de seu ranking podia se afastar sem causar sérios danos colaterais a fragilizada noção de paz que eles protegiam.

Acontece que isso não era uma ocorrência incomum. Todoroki estava sempre na garganta dele, mas nunca realmente desferia o golpe fatal. Bakugou engoliu com um pouco mais de tensão apenas por reflexo pela adaga de gelo pronta para ser afundada em sua jugular — ou era pelo encaixe perfeito dos quadris imobilizando-o sem reservas contra o colchão?

— Quem disse que você podia tirar férias? — Todoroki respondeu com outra pergunta, parecendo realmente incomodado por aquele simples fato.

— Do que está falando, pavê estragado? — Bakugou franziu o cenho. Ele também apoiou as mãos nas coxas do vilão que ficou tenso por dois segundos, depois relaxou.

Sempre houve uma tensão entre eles na escola, treinos de luta em que a pressão para imobilizar o oponente durava um pouco mais que o necessário, olhares trocados no vestiário e esquecidos enfaticamente, porque o que eles poderiam fazer, eram rivais naquela época, agora então, estariam sempre em lados opostos do campo de batalha.

— Não tem graça se você não estiver lá para lutar comigo. — Ele retorquiu em tom de confissão, afrouxando o aperto da estaca.

Havia algo também. A maldita tragédia que rondava Todoroki, a melancolia que ele carregava no olhar, como se tudo que fizesse fosse apenas uma grande tentativa de se desprender de algo, desde os anos em que eles conviveram e lutaram lado a lado. Não havia funcionando como herói e, claramente, não estava funcionando como vilão também.

Bakugou sempre o observou de longe, nunca trabalhou na coragem para se aproximar. Em contrapartida, sentia como se Todoroki sempre o estivesse seguindo de perto. Ele aparecia para foder com as suas missões, tentava matá-lo em qualquer oportunidade, mas nunca concluía o trabalho mesmo que algumas vezes tivesse chegado perto.

Todoroki salvou a vida dele uma vez, Bakugou sabia que tinha sido ele, embora ele tivesse partido antes do socorro chegar. Não poderia ter sido mais ninguém.

A lâmina improvisada caiu no colchão, Todoroki trouxe os dedos para a frente da camiseta de Bakugou e segurou com força, os cabelos caindo em seu rosto cobriam seus olhos, mas não era preciso vê-los para enxergar a dor. O loiro fez a coisa que ele quis ter feito em todos aqueles anos atrás e se absteve por vergonha e medo, com as duas mãos ele segurou o rosto do bicolor com uma suavidade que um herói jamais deveria lidar com um vilão.

Bem, o rosto acomodado em entre suas palmas também era suave e delicado como nenhum vilão deveria ter o direito de ser. Parecia pequeno, o olhar sempre resguardado deu lugar a uma expressão aberta, exposta. Bakugou só via dor e, por alguma razão, seu coração estava doendo também.

— O que aconteceu com você, Shouto?

Aquela era uma pergunta carregada, não se referia somente ao momento presente, estendia-se de forma mais ampla. Ele realmente queria saber o que havia acontecido com um dos alunos mais brilhantes da UA para ele enlouquecer daquele jeito.

Todoroki se abaixou, escondeu-se no peito do herói e estremeceu, Bakugou percebeu que os pequenos sons estrangulados eram de um choro angustiado, como se ele tivesse guardado todas essas lágrimas por anos — talvez realmente tivesse.

Braços fortes envolveram aquele que um dia lutou do mesmo lado que ele, deixou que ele chorasse até perder a voz.

E que cena peculiar era aquela, um herói que só queria aproveitar sua folga e um vilão desequilibrado buscando consolo nos braços do inimigo.

Coletânea Todoroki & Bakugou | OTPtober | BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora