Fogos de Artifício [Dia 3 - Mãos Dadas]

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Katsuki estava irritado e, para piorar, estava também perdido.

Tudo isso era culpa de Kirishima e o loiro faria questão de lhe deixar saber exatamente o que achava disso quando encontrasse aquele maldito com aquele cabelo de merda.

Ele nem queria estar ali, para começo de conversa, no entanto, seus ditos amigos tinham praticamente bolado o plano mais maligno do século para arrastá-lo até o parque, para aquele festival de queima de fogos idiota. Ashido até quis que ele tivesse vestido um dos yukatas de Kirishima, mas a garota prezava demais por sua própria vida para saber que sua insistência naquele tópico talvez pudesse encurtá-la.

O cheiro misturado das gordurosas comidas de rua era um pouco nauseante para Katsuki, havia várias barracas espalhadas pelo lugar e a energia geral dali era meio excessiva, um pouco demais para alguém pouco acostumado com aglomerações.

O garoto foi carregado momentaneamente a um episódio em sua infância, quando se perdeu de seus pais em um festival assim. Estavam ele, sua mãe, seu pai, a tia Inko e o merdinha do Deku. Ele não se lembrava mais de muitos detalhes, apenas do terrível sentimento de que nunca mais poderia voltar para a sua casa, que eles iriam embora sem procurar por ele e ele ficaria completamente sozinho.

Era meio patético, ele nem sabia porque estava se lembrando disso agora, contudo, vinha se sentindo assim algumas vezes quando saía. Katsuki se considerava uma pessoa perfeitamente independente, que não precisava de absolutamente ninguém a sua volta, todavia não estava conseguindo evitar o sentimento angustiante que estava tomando conta de seu peito, o suor nas mãos, o leve tremor.

Ah, claro. Que ótimo, um lugar perfeito para ter um ataque de pânico totalmente não solicitado. Puta que pariu.

Ele estava olhando para trás, tentando avistar em meio ao conglomerado de cabeças, aquele cabelo ruivo de merda, totalmente distinguível entre os demais, só que era meio difícil quando já estava um pouco escuro.

Em sua distração, seu corpo se chocou com outro corpo sólido, fazendo-o se virar imediatamente para a frente, quase dando um mau jeito no pescoço, não para se desculpar, obviamente, mas sim para xingar o infeliz que havia se enfiado no seu caminho.

Olhos rúbeos cruzaram-se com um par de esferas ímpares, que piscaram em surpresa. Katsuki estava diante de Todoroki Shouto, a última pessoa que esperava encontrar ali. O garoto de cabelos distintos estava vestido de forma toda apropriada, com um yukata de tecido refrescante e, aparentemente, acetinado, com cores sóbrias... Que lhe caía muito bem, sussurrou a sua mente antes que pudesse bloquear o pensamento intrusivo.

Ele odiava, odiava e odiava o fato de que a distração foi bem recebida, que o simples fato de Todoroki ser um rosto conhecido o havia aliviado.

— Bakugou? — O bicolor disse, após se recompor.

— Mas você é mesmo um principezinho do caralho, né, olha aí, todo a caráter. — Foi sua forma de cumprimento. — O que está fazendo aqui, pavê de merda?

Katsuki preferia, com certeza, morrer antes de admitir que Todoroki estava, em falta de outras palavras, bonito pra cacete naquelas vestes tradicionais. Mudar de assunto era a sua melhor saída, entretanto aquele pareceu outro erro no segundo em que havia o questionado. Que merda estava fazendo perguntando coisas para Todoroki como se ele se interessasse por sua vida ou qualquer coisa assim?

Shouto olhou para baixo, checando a si mesmo como se tivesse esquecido o que estava vestindo.

— Oh, isto? — Apontou para si. — Minha irmã insistiu que eu vestisse, eu não queria chateá-la. — Nisso, o loiro abandonou uma risada anasalada, revirando os olhos.

— Você veio sozinho? — Olhou ao redor, como se procurasse alguém.

— Eu estava com meus irmãos, mas acabamos nos separando...

Por um tempo, os dois ficaram em silêncio, olhando de forma meio embaraçada um para o outro. Um som alto tirou-os de seus pensamentos, o espetáculo de fogos estava prestes a começar.

Sem pensar, Katsuki agarrou a mão de Todoroki, nem vendo a sua cara de espanto, ignorando o som que o abandonou quando foi puxado de um jeito não tão delicado pela multidão. O loiro empurrou alguns indivíduos do caminho, abrindo espaço para eles, até que encontrou um lugar um pouco mais arejado, com menos gente, onde pudessem ver as explosões que coloriam o céu negro e estrelado em paz.

Ele só percebeu que ainda estava segurando a mão de Todoroki Shouto um longo tempo depois, sentindo seu rosto inteiro esquentar e soltando-o abruptamente. Em sua visão periférica, conseguiu capturar um pequeno sorriso formado nos lábios do bicolor.

— Se soltar uma palavra sobre isso para alguém, eu te mato, meio a meio.

Katsuki sentiu o braço de Todoroki encostar no seu, algo que só poderia ter sido de propósito. O contato quase atuou como eletricidade, eriçando os pelos de seus braços e os fios de sua nuca. Todoroki não havia tirado seus olhos do céu.

— Tudo bem, Bakugou. — Ele disse, parecendo entretido.

O loiro sentiu novamente os dedos roçando nos seus, até que apenas seus dedos indicadores estivessem enganchados. Apesar da queimação em suas bochechas, ele não disse nada, olhando para os fogos ao invés disso, sentindo a temperatura fresca do lado direito de Todoroki amenizando o calor, de um jeito quase (quase) confortável.

Coletânea Todoroki & Bakugou | OTPtober | BNHAOnde histórias criam vida. Descubra agora