A estrada estava molhada, havia chovido boa parte da tarde. Eu tinha passado o dia no ateliê, tratando da venda de uns quadros. O dia tinha sido puxado. Dirijo minha caminhonete pela estrada silenciosa, só eu. Sempre assim. Sempre solitária. Minha mãe morreu há alguns anos. E eu fiquei, ela também era artista, fazia esculturas incríveis. Boa parte das tatuagens que eu tenho são lembranças dela, dos momentos que dividimos, viajando pelo país, vendendo nossa arte, conhecendo gente. Estou nessa cidadezinha faz menos de um ano, resolvi sossegar. Numa das minhas andanças reencontrei Samuel, o cara que transei semana passada. Nos conhecemos ainda adolescentes, tivemos um lance de verão. Agora, ele trabalhava na cidade, cuidava do irmão e do pai. Ele me parecia sempre cansado, carregado, mas algo nele me fazia querer mais. E eu não tô falando só do sexo. Era bom, era foda. Mas eu sentia algo maior quando estava com ele. Quando sentia a pele quente. Eu queria esse homem pra mim. Mesmo sabendo que isso seria difícil de acontecer. Depois de quase uma hora dirigindo, chego em casa, vou pro banho, pego uma roupa macia e ligo uma música. Minha casa não é grande coisa, é um lugar amigável, com uma área consideravelmente confortável, cheia de quadros e tintas por toda parte. Incrivelmente tive a sorte de conseguir me manter do meu trabalho. Tinha compradores de muitos lugares do mundo. Mas gostava de manter distância da fama. Não queria holofotes, só um pouco de dinheiro pra sobreviver. Esta noite eu estava inspirada, não via Samuel há alguns dias, sentia falta dele. Então, pintei ele, com golpes duros na tela, brincando com as cores, queria tirar ele da minha circulação. Queria... Não sei. O queria na verdade. Tomo um susto quando a campainha toca, não espera ninguém. Deixo o pincel suspenso, limpo as mãos e corro pra porta. Samuel? – qual seria o tamanho da minha surpresa ao ver ele ali. Ele nunca tinha entrado na minha casa. Tínhamos sexo bom e quente no fim da rua, no carro dele, atrás de algum bar, num beco escuro. Transávamos a mais de 5 meses e nunca deitamos em uma cama juntos. Eu gostava e odiava isso também. Mas eu não queria me apegar. Tinha me envolvido com um cara e não queria repetir o mesmo erro. Samuel era bom, gostoso e era isso. Nada mais que isso.
– Você aqui? – fiquei presa na porta, a luz da varanda iluminava o rosto branco dele. Ele era bonito, com a barba por fazer, os olhos escuros, as sobrancelhas sempre franzidas como se algo sempre estivesse doendo dentro dele. Ele vestia calças jeans justas que marcavam as pernas grossas e fortes. A camiseta preta era grande, mas não escondia o corpo malhado, os braços eram fortes, por cima ele vestia uma jaqueta jeans que combinava com o estilo largado dele. A mão tatuada descansava no batente da porta. Ele era uns bons 30 centímetros maior que eu. Confesso que gostava disso.
– Desculpe vir sem avisar. Tem planos pra hoje à noite? – ele diz tirando o boné e deixando os cachos aparecerem. Eu amava aquele cabelo escuro e pesado. Não. Estava trabalhando em um projeto novo.
– Quer entrar? – pergunto a ele meio sem jeito.
– Tudo bem se eu te fizer companhia? – ele faz uma pausa. – Posso preparar o jantar se estiver tudo bem pra você. – estava espantada, ele não costumava me fazer propostas assim. Nós não costumávamos falar muito, fazíamos muito juntos. Isso era novo pra mim, mas eu queria provar.
– Claro. Entra, não sei se tenho muita coisa pra fazer um jantar decente.
– Sem problemas, eu vim preparado. Vou pegar as sacolas no carro.
– Tá. – num instante ele some da minha porta. Fico estranha porque nunca esperei uma atitude dessas. Tínhamos um acordo mudo de sermos distantes um do outro. Ele estava avançando o sinal estando aqui. Parte de mim, queria mandar ele embora e parte de mim, queria ficar e ver o que iria acontecer. Eu fiquei, eu apostei na sorte desta noite úmida. Por um momento penso em trocar de roupa, estava usando um vestido longo preto de algodão, mas quando pisquei ele estava de volta.
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O que será de nós?
RomantizmEles não acreditavam em amor, mesmo depois de cada momentos juntos. Eles queriam sexo, forte e quente, eles tinham. Foi suficiente por um tempo, até que as coisas tomam rumos inesperados. Uma artista entusiasmada, cheia de vida, carregando grandes m...