Guerreira Real

21 - O retorno e a partida

Lory estava em seu quarto, com os pensamentos distantes, não sabia o que poderia acontecer com ela no futuro, sempre pensou que as únicas coisas ruins que aconteceriam em sua vida seriam causadas por ela. Pensou nos prováveis ferimentos que teria arrumado em batalhas que viriam a acontecer, por território ou por tesouros. Jamais pensou que sofreria pelas ações de outras pessoas, que a dor em seu coração seria tão grande ou talvez maior que a dor de um ferimento físico.

— Nyx, o que será que vai acontecer comigo? — questionou olhando a gatinha que estava deitada ao seu lado.

“Absolutamente nada”

— Quem está aí? — questionou um tanto assustada.

“Você não estava falando comigo? Quem mais seria além de mim?”

— Nyx? Você consegue falar? — espantou-se.

“Isso é porque estamos ligadas. Eu precisei dormir por bastante tempo para ter força o suficiente para isso.”

— Já faz seis meses que estamos juntas, você nunca falou antes!

“Como eu disse, precisei dormir para adquirir essa habilidade. Nossos corpos precisavam se harmonizar e agora que evoluí, estamos ligadas de fato uma a outra”

— Então eu posso te perguntar por que me escolheu? Por que quis vir comigo? — perguntou.

“Sinto uma sensação familiar vinda de você, como se já nos conhecêssemos antes”

— Você é tudo que eu poderei levar comigo e espero que eu não atraia desastres.

"Não se preocupe. Às vezes desastres nos trazem liberdade." Nyx respondeu, aconchegando-se ao seu lado novamente.

(...)

Faziam oito dias que Virgínia, Leona e Aiden saíram de Triwland do Sul, eles estavam em seu território, mas como o animal o qual montavam chamava muita atenção e seus cavalos já deveriam estar de volta à suas baias se não mortos, não tiveram outra escolha a não ser irem andando quando próximos da cidade de Triwland.

Em algumas poucas horas caminhando, chegaram aos grandes portões em que se despediram de Lory anteriormente, estranharam que a cidade estava em clima festivo.

Os três dirigiram-se a corte, indo diretamente ao quarto de Lory, que em tempos normais os receberia, mas ao aproximarem-se de seu quarto, foram informados de que a princesa não poderia ver ninguém e naquela hora, entenderam que algo estava muito errado em Triwland do Norte.

Lory estava trancada em seu quarto, sem receber ninguém além de Drisa, a criada. Sua mãe parecia ter enlouquecido com o pensamento de vingança e seu pai parecia não se importar, não gostou do sentimento de ser vendida, pois assim sentia-se ela, trocada por cinco mil soldados.

Faziam dois meses desde que fora posta em isolamento e a criada não era a melhor companhia, inesperadamente seu pai viera visitá-la, mas Lory não ficou feliz, ela sentia-se traída.

— Você se importaria, se esse velho lhe fizesse companhia?

— Melhor a sua do que a do próximo e de qualquer forma, mercadorias não tem direito de escolha — disse ela, extremamente magoada.

— Filha, eu não queria que isto acontecesse, mas espero que você um dia me entenda — deprimiu-se o rei.

— Mas por que deixou as coisas chegarem a esse ponto? Se você contasse a verdade ao tio, ele entenderia – disse seu ponto de vista.

— Você não entende seu tio...

— Eu não entendo meu pai! Poderíamos viver em paz, eu sei que você e mamãe não são mais um casal desde que a troca fora feita há quinze anos. Sei que nunca mais dormiram juntos e eu entendo minha mãe, ela sentiu-se traída pelo homem que dizia amá-la e não consegue nem mesmo amar a própria filha. Pai, a culpa é sua, toda sua! — gritou ela, chorando incessantemente pela primeira vez.