Bem-Vinda Novata

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"Vai ficar bem, vizinha?" me pergunta Luz enquanto estaciona o carro em frente ao estabelecimento. É, realmente, um grande galpão; não sei o que eu esperava da primeira vez que o vi, mas fiquei um pouco surpresa quando vi que era, de fato, um "galpão de lutadores".

"Vou sim, não se preocupe", digo, voltando os olhos da janela do carro para olhar para a motorista, com seus cabelos ruivos falsos, sardas feitas com maquiagem e um sorriso encorajador no rosto. Não sorrio de volta.

"Vai querer carona?".

"Se não for incomodar...".

"Você não me incomoda nunca, vizinha" diz. O termo virou uma piada interna entre nós, que moramos de frente uma para a outra há pelo menos dez anos, e Luz nunca perde a oportunidade de usá-lo, principalmente quando quer enfatizar nossa amizade. Ela tem dezenove anos, mas poderia muito bem se passar por dezesseis quando sorri do jeito que faz agora, se sua maquiagem não fosse tão... bem, ela chama de artística. Eu chamo de "delineados exagerados porque você não sabe fazer uma linha reta" e "cores estravagantes porque era a paleta de sombras mais barata da 25 de março".

"Obrigada... O treino acaba às oito.".

"Oito? Tipo, da noite? Mas agora são cinco e meia da tarde!".

Seu espanto me faz rir um pouco, e explico que o treino começa às seis, mas que eu queria chegar mais cedo para me familiarizar com o lugar e não passar vergonha em frente às outras meninas.

É meu primeiro time feminino, e meu primeiro time cuja faixa etária corresponde à minha, e, embora eu não admita, isso é muito mais assustador do que o grupo de homens adultos com quem eu costumava treinar.

"Certo. Bom treino, Cath. Estarei aqui às oito em ponto." promete, e consigo erguer um pequeno sorriso de canto como agradecimento, afinal, Luz adora quando eu sorrio.

Me despeço e desço do carro, que sai arrancando pela rua estreita, deixando-me plantada de frente para minha nova academia de boxe. Nunca pensei que diria isso, para ser bem honesta; sempre pensei que passaria todos os meus anos de lutadora ouvindo "mais rápido, superstar" toda terça e quinta às sete da noite. Mas, se tem uma coisa que meu treinador me ensinou, foi que a grandeza me chamava, e que eu seria estúpida em não atender. Que a pequena academia nos fundos daquela casa amarela não me colocaria nos campeonatos, não me faria competir, não me traria a vitória que eu tanto aspirava.

Pelo menos me colocou dentro da Galpão dos Lutadores, o que já é mais do que muitos conseguem.

Inspiro fundo e entro no recinto, apenas para que luzes LED amarelas fortes me ceguem. Nossa, aqui é muito claro.

A primeira coisa à minha frente são quatro catracas, com várias pessoas indo e voltando nelas, mas sem usar qualquer tipo de cartão, pelo menos não que eu possa ver. Ao lado, está um balcão com duas jovens altas e com rabos de cavalo altos e loiros e um uniforme preto que parece estranhamente confortável mexendo em computadores caríssimos.

Aproximo-me do balcão de madeira. "Com licença..." peço, e a loira mais perto de mim se vira com um sorriso robótico, mas ainda simpático de algum modo.

"Olá, bem vinda à Galpão dos Lutadores. Em que posso ajudar?".

"Olá... então, eu sou nova aqui e estou indo para a aula de boxe...".

A mulher me explica que preciso cadastrar minha biometria, e digita um código para que eu possa passar. A alça da mochila que carrego nas costas fica presa, o que é ridículo, já que a catraca é igual à dos ônibus que sempre pego, e sinto meu rosto ficar vermelho. Que bom que ninguém do time está por perto.

Todos os Buracos Negros ao Nosso RedorOnde histórias criam vida. Descubra agora