Me dirijo ao vestiário, completamente banhada em suor, após o fim de meu primeiro treino. E eu preciso ser bem sincera:
As meninas são extremamente boas.
Elas são verdadeiras máquinas, nem pareceram se incomodar com a uma hora inteira de apenas condicionamento físico que tivemos. Assisti aos sacos de pancada balançando como um joão-bobo com o coração na boca, pensando que, se era isso que elas estavam fazendo com aqueles objetos, o que fariam comigo? Não fizemos nada corpo a corpo hoje, o que foi uma benção, porque eu não estava preparada, e, honestamente, estou com um pouco de medo.
Pude sentir seus olhos em mim, me julgando, analisando minhas habilidades. Volto a repetir: lobos em pele de cordeiro, com sua verdadeira força e habilidade escondidas por trás de uma fachada de menininhas inocentes. Mas eu não caio nessa; não estou aqui para participar de nenhum clubinho, não vim para ser amiguinha de ninguém. Estou aqui para melhorar, para treinar, para vencer; o pódio é meu e nenhuma garota com sorriso de princesa o tirará de mim, nem que eu tenha de treinar todos os dias para ser melhor do que elas.
"Ei. Catharine, não é?" uma pessoa me chama enquanto se posiciona ao meu lado: Verônica. A melhor delas, de longe. Parecia uma lutadora profissional, seus movimentos eram tão precisos que suspeito que seus olhos sejam biônicos para saber exatamente onde e como atingir os alvos, e ela é quase tão rápida quanto eu – sua altura a deixa um pouco mais lenta, bem como o fato de ela ter muita massa muscular, já que seus braços e pernas são extremamente tonificados.
"CatharinA, na verdade" corrijo, e ela sorri, pedindo desculpas.
"Bem, Catharina, foi um ótimo treino. Você é muito boa". Não sei exatamente o que ela ganha me elogiando, mas resolvo devolvê-lo apenas para não parecer grossa, e também porque é verdade.
"Você também é.".
"De qual academia você disse que veio mesmo?" me pergunta enquanto adentramos o vestiário, já repleto de meninas e de vapor vindo dos chuveiros. Os espelhos estão embaçados, e a maioria das pessoas ali está nua ou seminua, então baixo os olhos por respeito, e também por não estar muito confortável. Saudades de quando o vestiário feminino era apenas meu.
"Eu... não disse, na verdade. Venho de uma academia pequena, de bairro" digo, mas logo me arrependo. Certamente ela está me julgando, analisando meu histórico e rindo mentalmente, já que academia de bairro realmente soa patético para pessoas que já estão no melhor centro de treinamento há anos.
"Puxa, você devia ser a melhor de lá" diz, e mesmo eu não olhando em seu rosto, posso dizer por seu tom que ela sorri. Não sei realmente como responder a isso, então apenas dou de ombros e entrego um sorriso tímido. "Você não é muito de falar, não é? Tudo bem, daqui a pouco você começa a se soltar com a gente. É difícil mesmo recomeçar em um lugar novo, mas te garanto que você vai gostar daqui.".
Dito isso, Verônica deixa meu lado e começa a andar em direção às meninas, aglomeradas ao redor dos armários, se trocando e ouvindo música. Elas parecem estar se divertindo, mas sei que são apenas um bando de fingidas e que não devem gostar de verdade umas das outras. São um bando de fúteis, rebolando sem roupa umas nas outras, e novamente minha teoria de que Verônica é a chefe do bando se confirma com a festinha que elas fazem quando ela se junta.
Mas, quando ergo os olhos, elas parecem... estar se divertindo.
Baixo os olhos novamente. Você não vai para lá para fazer amigos, superstar. Ninguém lá vai querer ser seu amigo.
Com a voz de meu treinador na cabeça, me apresso para o armário onde guardei minhas coisas, que, graças aos céus, fica no canto, longe da aglomeração feminina, e agarro minha mochila, levando-a comigo para dentro de uma cabine, a qual tranco a porta para ninguém me ver nua. Apoio minhas coisas na tampa do vaso sanitário e me troco correndo, passo um desodorante e calço meus tênis. Posso tomar banho em casa.
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Todos os Buracos Negros ao Nosso Redor
General FictionAVISO DE GATILHO: [menção a estupro de vulnerável] [violência] [homofobia] [discurso de ódio] [ansiedade] Catharina era a melhor boxeadora de sua academia, e sua ambição a levou a buscar por mais. Foi assim que ela se deparou com a Galpão dos Lutado...