Kai?

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Charlie me acordou pela manhã para tomarmos café juntos. Conversamos sobre seu trabalho e os casos de desaparecimentos que andam tendo desde que cheguei em Forks.

Ele tinha pedido o café da manhã pelo celular mesmo, algumas panquecas doces e dois milkshakes de chocolate. Charlie sábia que era meu preferido.

E era mesmo.

— Desculpa, Chim, eu ainda não aprendi a cozinhar. — Olhei quase que instantaneamente para ele, não pelo fato dele não saber cozinhar — Isso não é uma novidade pra mim — Mas por ter me chamado pelo apelido de quando era criança.

Cozinhar eu já imaginei que ele não saberia, isso é o menor dos meus problemas agora mesmo não tendo nenhum.

— Algum problema?

— V-Você me chamou de "Chim", não ouço esse apelido a muito tempo. — Abaixei a cabeça, corando agressivamente.

Por que eu estava reagindo assim perto do meu pai?

Não sábia que reve-lo me deixaria tão intimidado. Talvez seja porque estou acostumado a ficar em um lugar diferente com pessoas diferentes, vulgo minha mãe e Sam.

— Ah, desculpe, eu posso chama-lo de outra coisa se quiser....

— Não, tudo bem eu gosto desse apelido, me faz sentir uma criança novamente. — Respondi rápido, terminando de tomar café.

— Fiz sua matrícula na escola, aproveitei que estava dormindo e comprei alguns materiais na loja de Abigail. — Abigail. Outro nome a qual não ouço a anos.

Pode se considerar uma tia pra mim, uma que não lembro de muita coisa.

Meu pai foi rápido em relação a meus estudos, agradeço mentalmente por não precisar fazer isso sozinho.

— Vai começar hoje. — Ele finalizou.

Eu parei de respirar por um instante, como eu iria para a escola sem uma roupa? Levando em conta que não tenho um carro e meu pai não poderia ficar me dando carona até o colégio.

Eu mal lembro onde fica o ponto de ônibus.

Quando voltei a respirar normalmente eu estava no quarto, parado e escorado na porta que tinha acabado de fechar. Olhei para a minha mala, as roupas que tinha teriam que dar pra alguma coisa.

Olhei pela janela e agradeci mentalmente por não estar fazendo tão frio como ontem,   até porque está abafado lá fora, mas o céu demonstrava que viria chuva mais tarde.

Peguei uma calça preta, uma camiseta branca que tomava parte da minha coxa e a mesma blusa de frio azul peluda que vestia desde que cheguei.

Charlie gritou do andar de baixo e disse que eu tinha que ir para a escola, corri para calçar o all star preto que tanto usava — Chega estava rasgando na parte da sola.

Peguei meu celular e desci as escadas, meus fones estavam numa mesinha perto da porta junto com a mochila e os materiais que meu pai comprou. Saindo de casa as pressas, avistei Charlie conversando com um homem.

Ele estava de costas para mim e encostado em uma picape azul meio velha e enferrujada, mas perfeitamente cuidada e tinha rodas lisas.... Oque seria um perigo em dias de chuva.

— Charlie, pode me levar até a escola? — Perguntei ajeitando a mochila nas costas.

Assim que o homem que estava junto a ele se virou para mim, meus olhos travaram em seu rosto.

"Kai"

Inconscientemente eu repeti para mim mesmo em minha cabeça.

— Kai? Oque faz aqui?

Um sorriso enorme se formou em meu rosto, minha pele clara pareceu corar levemente ao vê-lo sorrir também.

Kai é um amigo de infância, brincávamos juntos no quintal da minha casa e meus pais sempre o deixavam dormir aqui quando estava nevando. Nos consideravamos irmãos naquele tempo, até que meus pais se separaram e eu tive que ir embora com Bel.

Depois disso nunca mais nos falamos.

Ele estava diferente assim como eu,sua pele — por mais que eu estivesse enganado por dizer que seria difícil achar alguém aqui assim — Era bronzeada num tom puxado para um marrom claro vibrante, seus cabelos caíam sobre sua testa suada e seus músculos por debaixo do tecido fino da camisa indicavam que carregava peso.

Definitivamente qualquer menina ficaria louca por ele, Kai é um verdadeiro príncipe em pessoa.

E sem falar que seu sorriso branco era exageradamente perfeito. Quando se aproximou de mim eu dei um passo para trás e vi o quão alto ele era, eu não batia nem em seu queixo, me sentia mesmo uma criança.

Que raiva. Por que eu não cresço?

"Preciso comer mais fermento"

Pensei.

— Oi Jiminie, é bom te ver também. — Tocou meu ombro e maior parte do meu corpo se esquentou.

Suas mãos eram bem quentes, jurava ser mais quente que o Sol, mas isso é impossível.

Eu nem mesmo sei oque é e oque não é possível, eu só queria poder conversar com ele. Mas a escola me chama. A escola que agora não parecia ter importância para mim.

— Chim... O Kai veio trazer o presente que eu comprei para você. — Charlie apontou para a picape azul velha.

Precisava me acostumar de novo a ser chamado assim.

Olhei para os dois com uma interrogação enorme estampada na cara.

— Isso é meu?...é-é pra mim? — Gaguejei nervoso e ao mesmo tempo ancioso para dirigir. Não seria minha primeira vez dirigindo, eu sempre praticava na garagem do trabalho de Bel, Sam também me ajudou um pouco e me ensinou todos os comandos.

É uma pena que Charlie não estava presente nesse momento especial da minha vida, entretanto nessa cidade não acho que iremos fazer coisas legais juntos que nem eu fazia em Phoenix.

— É todo seu, filho.

— Espero que goste. Eu dei uma pintada nele, Charlie me disse que você gostava de azul. — Kai ainda mantinha um sorriso no rosto.

— Você quem arrumou? Uau, obrigada Charlie e obrigada Kai. Eu adorei o presente, pode deixar que vou proveitar muito.

Eu abri a porta do carro e joguei a mochila no banco do passageiro, entrando dentro do mesmo. Kai jogou a chave para mim e eu a coloquei na ignição com a maior felicidade do mundo.

Estava feliz sim.

Ao menos não precisaria pedir carona a Charlie ou ir de ônibus. A ideia me parecia péssima, enfim agora eu tinha um carro e nunca imaginei que meu pai me daria um presente tão bom.

Eu sei que não é lá essas coisas, nem que o carro está em perfeito estado, mas posso me virar com ele até trabalhar e conseguir comprar um novo.

— Tome cuidado, não acelere muito na chuva os pneus são bem lisos e pode acabar escorregando. — Os braços de Kai foram postos sobre a janela, vendo minha reação ao ligar a picape.

Me revirei de alegria no branco ao ouvir o motor tomando vida, olhei para ele com um sorriso no rosto e me devolveu da mesma forma.

— Agora eu tenho um carro, agora eu tenho um carro! — Cantarolei, Charlie e Kai deram risada — Quer uma carona pra escola, Kai?

— Ah não, eu não sou da mesma escola que você. — Pelo tamanho dele eu diria que terminou o ensino médio a muito tempo, porém Kai é mais novo que eu. 1 ano de diferença.

— Que pena. — Fiz um biquinho — Bom, eu preciso ir pra escola, até depois.

Dei tchau aos dois.

Coloquei o GPS para me guiar até o colégio, a picape rugia com agressividade e deslizava no asfalto. Por sorte eu consegui dirigir bem como Bel e Sam me ensinaram.

Olha pelo lado bom.

Eu não morri.

INNOCENCE • JIKOOK • (Em revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora