Capítulo 5

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POV. Louis

- Você teve sorte garoto, não teve nem um osso quebrado nem nada. – Diz a médica enquanto passa uma pomada verde ao redor do meu olho. – Primeiro olho roxo?! – Ela parece se divertir com as minhas caretas. Acho que ela está acostumada com essas coisas.

- Au! – Pierre ri encostado na parede perto da porta da enfermaria. – Sim.

- Você vai ter que passar essa pomada todo dia, duas vezes ao dia. Daqui uns três dias tá tudo normal com seu rosto. – Ela me entrega uma pomada do mesmo tipo que ela usou, mas lacrada e uma cartela de remédios. – Para dor.

A porta é aberta de supetão e Louisa entra vermelha e olha para todos os lados. Ele olha na minha direção e arregala os olhos.

- Porra. O que ele fez com você?! – Ela vem até mim e analisa meu rosto. – Me desculpe por isso.

- Você não tem culpa de ele ser um babaca. Eu só preciso de ajuda para cobrir isso. Tenho um compromisso, que já estou um pouco atrasado e não posso ir com a cara desse jeito.

- Eu cuido disso. – Louisa pega minha mão e começa a me levar para fora da enfermaria.

- Louis. – Olho para meu braço que é segurado por Pierre antes de olhar para ele. – Eu posso te levar até seu compromisso. Se você quiser.

- Eu iria agradecer muito. – Sorrio para ele. Meu deus, se ele não fosse meu professor eu daria um beijo nele.

- Vamos logo, eu tenho que dar um jeito na sua cara. – Louisa volta a me puxar.

Ele me leva até um dos bancos que tem espalhados pelo Instituto e abre a bolsa. De lá ela tira um estojo e o abre. Como tanta maquiagem cabe em um estojo tão pequeno e como ela trás tudo isso pra a escola.

- Ter esse rostinho lindo as vezes não é fácil. – Ela fala enquanto começa a passar algo no meu rosto. Como ela sabe o que eu penso?! – Eu sou uma bruxa, ainda não te falei?! – Eu arregalo os olhos e ela ri, mas fecha a cara logo depois. – Ajeita essa cara, tenho que fazer meu trabalho.

Uns 5 minutos depois e muita maquiagem ela se afasta do meu rosto e me mostra um espelho. Meu rosto está mais limpo e sem sinal do roxo que estava lá instantes atrás. Louisa faz mágica realmente.

- Muito obrigado. Você acabou de me salvar. – Sorrio e lhe abraço.

- Você levou uma surra por minha culpa. É o mínimo que eu posso fazer.

- Como você sabe que foi por sua causa?! – Lhe lanço um olhar desconcertado e ela me olha cínica

- Eu vi o jeito que o Lorran te olhou quando eu te abracei na aula. Ele não ia deixar barato, eu deveria saber.

- Você não tem culpa dele ser um babaca maluco. Seja lá o que vocês tem você vai me contar quando formos fazer nosso trabalho. – Vejo ela sorrir. – Aliás, me passa seu número.

Ela me passa o número e nós nos despedimos com um beijo no rosto. Vou até a saída da escola e uma buzina ressona do outro lado da rua. Olho na direção e Pierre acena pra mim janela. Olho para os lados e ninguém está olhando para nós. Por mais inocente que a situação possa ser, pega mal um aluno entrando no carro de um professor sem mais nem menos depois da aula. Ainda mais um professor como Pierre...

Se controle Louis!

- Onde é o local?! – Lhe mostro a localização e logo nós partimos. Nós quase não falamos nada, eu fiquei batendo os dedos na minha coxa e de vez em quando sinto uma pontada na costela por causa dos chutes.

Aquele maldito!

Minha vontade é matar o desgraçado do Lorran, mas como vimos anteriormente um confronto direto não é uma boa ideia. Ele dá dois de mim e é três vezes mais forte e ainda por cima uma luta mano a mano pode me levar a expulsão e eu não vou deixar um merda como Lorran estragar meus sonhos e pior, dar motivos para minha família tóxica jogar coisas na minha cara. Aqueles ratos!

Eu saí da minha casa pensando encontrar pessoa menos mesquinhas e idiotas, mas onde quer que eu vá eu encontro pessoas como eles. Não sei como meu pai aguenta viver com eles. Ele tem que ser enterrado como um santo quando morrer.

- Você mal chegou e já está fazendo inimizades. – Pierre me tira dos meus pensamentos com seu comentário e eu o olho de canto de olho.

- Não tenho culpa se não abaixo a cabeça pra pessoas idiotas e mesquinhas. – Ajeito meu cabelos pelo vidro do carro. – Não sei como aquelas pessoas não gostam de mim, seu totalmente amável. – Retiro meu blazer e coloco-o dentro da mochila de qualquer jeito.

- Mais uma coisa que admiro em você. Só tenha cuidado. Lorran e outros alunos tem muita influência na escola, por causa de seus pais e a mesa diretora do Instituto é comprada por eles.

- Tem como eu respeitar pessoas assim?! Eles não conseguem nada por si próprios, sempre pelos pais. Eles tem poder por causa do dinheiro dos pais, são respeitados por causa dos pais. Não conseguem fazer nada sozinhos e por si só. – Ele me olha surpreso. – Tsc, eu tenho é pena deles.

- Você é realmente muito ousado. – Ele balança a cabeça e sorri. – Trevor iria amar você.

Ele andou por mais algumas ruas e logo nós chegamos no mercadinho. É um local mediano, não muito grande e nem muito pequeno. As janelas grandes r e portas de vidro dão uma visão mais ampla da parte de dentro. Na janela esquerda tem um nome feito em LED: Marché du Baron. As paredes de tijolos. Na parte de dentro da para ver que o local está um pouco vazio e só um garoto está no caixa e outras pessoas estão andando pela loja em busca de algo. O garoto olha para as pessoas parecendo perdido, um pouco cansado eu diria.

- Você tem certeza que é aqui?! – Pierre olha para mim como se aquilo fosse o pior lugar do mundo.

- Tenho sim. Obrigado por me trazer aqui.

- Não tem de quê.

Saio do seu carro e olho para a rua que também está meio vazia e ouço o carro atrás de mim ir em embora. Caminho até a entrada do comercial e ao abrir a porta os sinos ecoam por todo o lugar e o menino olha fixamente na minha direção. Me vendo olhar de um lado para o outro ele me arqueia uma sobrancelha e põe a mão em cima do balcão. Em seus dedos tem alguns anéis pratas e o com o baque no balcão fazem um barulho.

- Em que posso ajudar?! – Ele me olha desconfiado e eu vou até ele.

- Eu estou atrás do dono do estabelecimento. Eu sou o amigo que o Charles falou. – Ele faz uma cara de confusão e depois sua cara suaviza.

- Então é você. Eu sou Jacques Baron, o George não vai poder falar com você.

- Olá, Jacques. Eu sou Louis. Por que ele não pode falar comigo?!

- Ele não está bem. Você pode voltar aqui amanhã, talvez ele te atenda. – Ele parece nervoso e começa a bater os dedos no balcão.

- Você está bem?! – Ele parecia muito nervoso, como se a qualquer momento alguém fosse sair do chão e fazê-lo algum mal.

- Eu posso mostrar a loja para você. Já que meu pai avisou que você vinha.

- Ok.

Ele sai de trás do balcão quando o último cliente vai embora e então começa a caminhar comigo pelo local. Pelas pequenas seções me mostrando onde cada coisa fica, os preços, a quantidade de coisa que tem. Em uma das seções eu sinto uma pontada na costela e isso faz eu me apoiar em prateleira.

Péssima ideia.

A prateleira vai ao chão junto com todos os produtos em cima dela. A queda das coisas faz um barulho estrondoso. Olho para Jacques esperando ver uma expressão de raiva, mas ele está pálido, como se acabasse de ver um fantasma. Ele parece com medo.

Um barulho vem dos fundos da loja, um homem calvo e velho atravessa uma porta. Ele vem cambaleando na nossa direção. Ao ver as coisas jogadas no chão ele para e olha na nossa direção, ele começa a vir até nós com passos pesados. Seu olhar nublado pelo raiva, seu cheiro é horrível, bebida, cigarro e suor.

- Quem fez i-isso?! – Ele respira pesado e olha para Jacques. – Foi você não foi?! – Silêncio. - Sua bichinha maldita! Um dia eu ainda vou matar você seu imprestável! – Ele avança em acerta um tapa em cheio na cara de Jacques. O moreno cai para trás com a força do tapa e eu o olho incrédulo. – Você vai limpar tudo isso, olha a merda que você fez! Eu deveria te ensinar a parrar de fazer merda, mas aqui não é o lugar. – Ele olha para Jacques e sorri. O menino ainda continua com o rosto virado para o lado sem olhar para cima.

George vira de costa e vai embora. É como se eu não estivesse ali, eu ainda estou parado, sem reação. Olho para Jacques e ele está ainda no chão. Merda! É tudo culpa minha, eu não deveria ter ficado calado e deixado ele levar a culpa. Vou até ele e agacho ficando perto dele.

- Me desculpa. Eu não deveria ter deixado você levar a culpa. – Ele olha pra mim e sorri depressivo.

- Não adiantaria nada. Só pioraria a situação, ele iria achar que eu estava forçando você a receber a culpa. Não é a primeira vez que acontece e não vai ser a última. – Lhe ofereço a mão e o ajudo a levantar.

- Há quanto tempo isso acontece?! – Ele olha para baixo.

- Há 12 anos. – Ele está envergonhado e continua sem me encarar.

- Quantos anos você tem?! – Ele me encara finalmente, mas ainda parece envergonhado.

- 19.

- Ele te machuca desde os 7 anos?! – Ele abaixa a cabeça envergonhado. – Sua mãe nunca fez nada para para-lo?! – Pergunto revoltado. Esse homem é um monstro. Eu não consigo ver um pai ameaçando a vida do próprio filho e ainda mais desde que ele tinha 07 anos. Isso é desumano!

- Ela me abandonou quando eu tinha 07 anos. – Sinto sua voz embargada, mas ele logo se recompõe.

- Que va...

- Eu não a culpo. – Ele começa a se abaixar e a recolher as latas do chão. – Se eu tivesse a oportunidade de fugir do George eu agarraria com unhas e dentes, mas nem todos tem a sorte dela. Talvez ela volte por mim um dia...

Fico olhando para ele pegar as coisas do chão e ir em direção a uma lixeira. Começo a ajudá-lo e ele me lança um sorriso. Quando todas as latas já estão guardadas ele retira a sacola e vai até um local que me parece ser a porta dos fundos e some. Olho para a prateleira no chão e tento encaixa-la no lugar...

POV. Narrador

Jacques sai pela porta dos fundos com a sacola de lixo e vai até a grande lata. Ao jogar o sacola dentro da lata ele se encosta na parede e desce se sentando no chão.

Ódio

Era esse o sentimento. O moreno tem ódio de si mesmo, por não ser forte. Por não conseguir lutar e por não conseguir se livrar daquela vida que ele tanto odeia. Ele tem ódio da esperança dele de que uma mulher que já foi embora á 12 anos volte por ele. O que ele tem de especial?! Nada. Pelo menos e isso que a cabeça dele diz enquanto ele chora compulsivamente atrás daquela lata de lixo. Ele odeia que outras pessoas vejam sua fraqueza, ele odeia chorar na frente dos outros.

Ele lembra das vezes que seu pai o pegou chorando por algo. O quanto George o batia até ele parar de chorar, quantas vezes o próprio pai cuspiu em sua cara por nojo do filho ser gay. Da vez que George o obrigou a transar com uma mulher e como seu membro não ficou duro seu pai o espancou, por ele ser “uma bicha nojenta que vai morrer de AIDS”. Essas foi uma das coisas terríveis que Jac ouviu em toda sua vida. Coisas que ecoam em sua mente, que estão cravadas em sua alma.

- Você é um desgraçado que até a própria mãe abandona!

Jac puxa sua navalha do bolso. A sua companheira, a única que está com ele nos momentos de dor, a única que está lá para diminuir a dor que ele sente no fundo de sua alma. Do outro bolso o de olhos verdes retira uma carteira de cigarros e um isqueiro. Seus únicos amigos, que sempre está lá para nublar sua mente dos problemas, para esconder seus demônios no meu da fumaça. São seus únicos aliados, que estão o matando aos poucos, mas somente seu corpo físico, pois seu coração já parou a cerca de 12 anos atrás. Outra coisa que Jac odeia em si mesmo: ter a esperança que alguém faça seu coração voltar a bater. Para ele é uma ideia tão patética, mas mesmo assim em todas as suas preces ele pode para que isso se realize.

Jac ascende o cigarro com seu cigarro e sugar o ar. A fumaça sobe em sua mente a turvando, distraindo seus demônios, o livrando de suas dores. Nem que seja por um momento.

- Você é tão patético! Como você pode ainda querer viver?! Como se um dia um príncipe encantado fosse aparecer para matar o seu dragão ou te lhe libertar da torre. – Ele diz para seu reflexo no latão. – Vamos Rapunzel! Jogue seus cabelos! – Ele dá um sorriso triste e levanta a manga de seu moletom. Ali está parte das suas cicatrizes, ali está fragmentos da sua dor.

Jac leva novamente o cigarro a sua boca e depois o joga para longe. Leva sua navalha até seu braço esquerdo e a segura firmemente. Para muitos é um ato estúpido e sem propósito, mas para Jacques é o alívio de sua dor. A dor que ele sente desde os 07 anos, depois de mais uma de suas surras as quais quanto mais ele chorasse pior era, foi quando ele olhou para janela e finalmente percebeu que ela jamais voltaria, que ela havia o deixado. Que ele estava sozinho e contínua sozinho até os dias atuais. Quer dizer sozinho não, com muitos dos seus demônios o fazendo companhia 24 horas por dia e pelo pior deles: Seu pai.

Quando Jac pressiona a navalha contra sua pele que a mesma porta por onde ele passou é aberta e o mesmo jovem de cabelos loiros e olhos azuis passa. Ele olha para todos os lados e quando ele chega perto Jac na pressa guarda a navalha em seu bolso, mas acaba cortando sua mão. Ele solta um grunhido e isso chama a atenção de Louis.

- Você está aí. – O loiro se aproxima e Jac força seu melhor sorriso. Não era para Louis velo daquele jeito. – Você demorou e eu fiquei preocupado. – Louis percebe o nervosismo do outro e começa a ficar desconfiado. – Jac, você tá bem?!

- Eu tô sim. Obrigado por se preocupar comigo. – Ele se levanta e coloca a mão dentro do moletom. – Onde está o George?!

- Ele saiu. Ele fede a bebida e cigarro o tempo todo?! – Louis faz uma cara de nojo e Jac acaba soltando um sorrisinho.

- Você nem imagina. Eu estou de saco cheio dessa loja, não aguento mais ficar aqui. Você quer dar um passeio?! – Jac pergunta animado. Ele poderia fazer um amigo. Não poderia?!

- Mas, e a loja?! O seu pai não vai ficar bravo?!

- Foda-se o George! Quando eu chegar em casa aquele maldito vai estar desmaiado de tanto beber e eu não sou obrigado a ganhar dinheiro para ele. – Jac diz tudo aquilo com ódio tangível. Louis o olha surpreso e até mesmo Jac está surpreso com sua atitude, é raro as vezes que o garoto toma atitudes como essa, mas as vezes ele desliga o lado medroso dele, na maioria das vezes depois de chorar.

- Então?! O que estamos esperando?! – Louis o pergunta animado. Ele realmente gostou de Jac, o moreno é uma incógnita para Louis, mas isso o torna ainda mais atrativo para Louis. A vida de Jac o torna interessante para Louis e o loiro está ansioso para saber mais. Talvez até para ajudar o mais velho.

Le Professeur - Duologia Amor e Desejo - Livro I(Em Pausa)Onde histórias criam vida. Descubra agora