Foguete

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E lá estava eu a caminho de uma nave que supostamente não responde ao contato da central. Desde que nosso planeta resolveu expandir suas fronteiras espaciais há muitos anos atrás, mais e mais regras tiveram que ser criadas para controlar o trânsito de naves entre as colônias.

Uma grande nave estacionária é responsável pela logística de entradas e saídas das colônias, além do tráfego comum de pessoas. Fora isso, vários engenheiros trabalham lá e estão sempre a postos para atender emergências mecânicas que acontecem com cargueiros oficiais. Foi um deles que entrou em contato com a central dizendo que estava com falhas técnicas e precisava de ajuda, pois a pessoa responsável pela manutenção ficou na colônia mais próxima por complicações médicas.

Geralmente os responsáveis pela manutenção são velhinhos simpáticos que aprenderam a profissão na marra, sem estudo algum, e ainda são saudosistas do tempo de pé no chão e rodas atritando em asfaltos. Complicações de saúde eram muito frequentes, assim como panes no sistema de comunicação.

Diariamente as grandes naves perdem a frequência com os controladores enquanto estavam em contato para tirar dúvidas ou pedir direções. Para evitar perdas ou catástrofes a central criou uma regra em que um cargueiro precisa dar um reporte de sua localização a cada hora e, caso não recebamos este sinal, uma equipe é mandada para averiguar o ocorrido e ver se está tudo bem.

Meu cotidiano no trabalho era esse: ser enviado em socorro das naves apenas para chegar lá e descobrir que está tudo bem, fora apenas uma falha nos comunicadores. Com esse cargueiro não seria diferente, exceto que eu teria que ir sozinho já que estava no turno da noite e não tinha mais ninguém disponível para ser minha dupla.

Não era como se naquele lugar o dia e a noite fossem muito bem marcados, então eu preferia o turno noturno para ter menos gente enchendo o saco. Fiz o contato primário com a nave que estava cruzando Alpha Centauri para dar instruções remotas e, quando a comunicação falhou e não consegui contactar de volta, segui o protocolo de preparar a nave e ir até lá.

O trânsito estava vazio naquele horário, nenhuma alma se atrevia a cruzar o espaço sideral em plena madrugada terráquea. Por mais que parecesse besteira o horário oficial da galáxia era o da Terra, considerando o horário de Greenwich. Todos trabalhávamos seguindo este horário, mesmo que houvesse iluminação de alguma outra estrela durante o que deveria ser noite.

Não era incomum ter que viajar sozinho para os atendimentos, então eu até gostava. Mesmo que alguma situação perigosa ocorresse nós tínhamos permissão para portar armas e disparar em qualquer ameaça. Em todos esses anos eu nunca vi um extraterrestre então eu nem imagino que eles existam, o perigo realmente são outros seres humanos.

Segui minha viagem silenciosa até o destino e topei o cargueiro vagando sem rumo no espaço. Tudo parecia desligado e eu não conseguia ver a iluminação interna que geralmente aponta das grandes janelas das naves. Aproximei meu pequeno transporte, que mais parecia um foguete antigo das grandes missões que iam a lua, e estacionei na doca de entrada.

Estava tudo escuro, o que me lembrou bastante dos filmes de terror que já assisti, então desci com a minha taser sacada e a lanterna presa ao ombro. O traje que eu usava era confortável porém ainda muito largo para ter uma movimentação eficiente. Era justificável considerando que havia um respirador e oxigênio embutidos, mas ainda assim a tecnologia precisava evoluir um pouco mais.

Como eu não tinha certeza se a nave estava pressurizada ou não, ou se havia de fato alguém ali, resolvi ir com o traje completo e capacete para não correr o risco de morrer sem ar ou ainda respirar alguma substância tóxica que possa ter vazado. Me desloquei até uma porta grande de entrada que parecia estar com defeito.

Contos de um dia de chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora