Extravagante

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Finalmente chegou o dia da festa. Eu estava uma mistura de ansiedade e raiva daquele evento, mas a única certeza que eu tinha era que eu iria de qualquer forma e meu namorado iria comigo.

O convite chegou formalmente na minha casa, endereçado inteiramente a mim. Eu pensei que não seria convidada, afinal era o noivado da minha ex namorada com um patife qualquer que ela encontrou por aí. Mas não me abalei, confirmei a presença de duas pessoas mesmo sem falar com o meu atual, afinal ele não tinha escolha.

Eu precisava mostrar que estava muito bem, então comprei o vestido mais extravagante que encontrei. Ele era vermelho, com detalhes em paetê, um decote bem exagerado e uma abertura na perna esquerda. Calcei o maior salto que eu conseguia me equilibrar. Fiz meu namorado vestir um smoking e o levei em uma costureira para que ela o deixasse bem ajustado ao corpo.

A festa era em um dos salões mais conhecidos da cidade. O preço do lugar era muito alto, então imagino que ela também estava preparada para mostrar ao mundo o quanto estava ganhando bem. Aquele maldito emprego deveria ser meu.

Namorávamos na época, e uma das etapas da entrevista para ser redator da revista era escrever uma crônica. Planejei meu texto por dias, pesquisando sobre alguns problemas sociais para escrever algo que fosse cômico e ácido ao mesmo tempo. Deixei tudo pronto faltando três dias para terminar o prazo, que foi quando minha antiga parceira veio me dizer que estava desesperada pois não conseguia produzir nada bom.

Eu tentei a acalmar e me dispus a escrever um texto pra ela. Eu sabia que isso podia ter alguma consequência depois, mas tinham duas vagas abertas então se as duas redações ficassem boas, as chances de trabalharmos juntas era bem alta. E foi o que eu fiz, redigi sobre outro tema e a entreguei para que ela pudesse enviar.

Terminei tão em cima do prazo que ela nem conseguiu ler antes de enviar, apenas pegou o arquivo e submeteu para os recrutadores. Eu guardei meu texto para enviar junto com ela, tudo para ser bem romântica. Na época eu fiquei feliz por ela não ter tempo de ver, afinal eu tinha escrito um texto um pouco pior do que o meu para garantir que se apenas uma de nós entrasse, seria eu. Porém minha surpresa e desolação vieram quando ela e um outro candidato foram aprovados e eu não.

Esse não foi o motivo do nosso término, mas foi uma das coisas que colaboraram. Depois de um tempo eu descobri que ela estava me traindo, e a única desculpa que ela me deu foi que nosso relacionamento já estava desgastado. Nos separamos, ela encontrou o atual no trabalho e eu encontrei o meu em um bar enquanto afogava minhas mágoas.

Cheguei na festa com meu companheiro e apresentei os convites. Entramos e eu fiquei embasbacada com a decoração do lugar. Tudo era muito brilhante, com várias rosas dispostas em arranjos complexos. Tecidos milimetricamente medidos pendiam do teto, e as lâmpadas colocadas entre os espaços deles fazia com que a iluminação fosse indireta e suave, deixando tudo em um tom de rosa bebê. Não esperava nada diferente, afinal aquela era a cor favorita dela.

Assim que cheguei fiz questão de ir até minha ex e seu agora noivo para os cumprimentar. Fiquei surpresa quando ela apontou dois lugares na mesma mesa que eles, dizendo que estavam reservados para nós. Me sentei já com raiva, afinal ela estava usando um vestido vermelho como o meu. Ela sabia que é minha cor favorita então com certeza fez isso para me provocar pois sabia que eu iria vestida assim.

Começamos a conversar sobre assuntos aleatórios, até que o noivo resolveu perguntar sobre trabalho. A dissimulada começou a dizer que jamais teria entrado no atual emprego sem a minha ajuda.

- Eu tenho muito a te agradecer. Além da sua ajuda incrível, aquele foi o melhor texto sobre assédio que eu já li na vida.

- Assédio? Não, o seu texto era sobre racismo.

Contos de um dia de chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora