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Qualquer coisa que pudesse ser dita, e sem dúvida algo seria dito, aquela não tinha sido uma decisão impulsiva. Taylor de West Reading não era uma mulher impulsiva.

Era, todavia, uma mulher desesperada.

Desespero, ela foi forçada a admitir, que vinha se instalando há meses. Naquela noite abafada, pegajosa e infinita de junho, o desespero, apesar de seus esforços, havia atingido o pico.

Os paparazzi que a perseguiram quando ela tentara sair do evento beneficente daquela noite tinha sido a última gota.

Mesmo enquanto os seguranças tentavam bloquear o assédio da imprensa, e Taylor conseguira chegar à limusine com algum remanescente de dignidade, sua mente estivera gritando.

Deixem-me respirar. Pelo amor de Deus, dêem-me algum espaço.

Agora, duas horas depois, excitação, nervosismo e frustração continuavam presentes enquanto ela andava de um lado para o outro na suntuosa suíte em Washington, D.C.

Ao sul ficava a fazenda onde Taylor tinha crescido (Tennessee - Pensilvânia) e alguns quilômetros de distância o lugar onde nascera e passara sua juventude no fabuloso castelo (West Reading - Pensilvânia)  Sua vida havia sido dividida em dois mundos. Apesar de amar os dois igualmente, se perguntava se algum dia encontraria seu próprio lugar em algum deles.

Já era hora, mais do que hora, de encontrar seu próprio lugar.

Para isso, precisava encontrar a si mesma primeiro. E como podia conseguir isso se o tempo todo estava cercada? Pior, pensou, quando começava a se sentir continuamente perseguida. Talvez, se não fosse a mais nova das mulheres da  geração de princesas de West Reading — e, pelos últimos anos, a mais acessível, devido ao fato de seu tempo passado em New York—, as coisas tivessem sido diferentes.

Mas a realidade era aquela. Naquele momento, parecia que sua existência inteira estava associada à política, obrigações sociais e imprensa. Pedidos, demandas, compromissos, obrigações. Havia cumprido com seu dever como co-presidente no grupo de Assistência às Crianças Deficientes. uma tarefa que compartilhara com sua mãe.

Ela acreditava no que estava fazendo, sabia que o dever era necessário e importante. Mas o preço tinha de ser tão alto?

O evento levara semanas de organização e esforço, e o prazer de ver todo aquele trabalho dar frutos havia sido estragado por sua própria exaustão.

Como eles a sufocavam, pensou. Todas aquelas câmeras, todos aqueles rostos!

Até mesmo sua família, que Deus os abençoasse, parecia sufocá-la ultimamente. Tentar explicar seus sentimentos para sua assistente pessoal parecia uma atitude desleal, ingrata e impossível. Mas sua assistente era também sua amiga mais antiga e mais querida.

— Não aguento mais ver meu rosto em capas de revistas, ler reportagens sobre meus supostos romances, Tree. Estou simplesmente muito cansada com as pessoas me definindo.

— Realeza, beleza e sexo vendem revistas. Combine os três e você não pode imprimi-las tão rápido. — Tree Paine era uma mulher prática, e seu tom refletia isso. Por conhecer Taylor desde criança, o tom também refletia mais descontração do que respeito. — Sei que a noite foi horrível, e não a culpo por ter ficado abalada. Se descobríssemos quem deixou a informação por onde você sairia.

Princesa em fugaOnde histórias criam vida. Descubra agora