Três

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Não SEI o que fazer de meu anfitrião, Taylor pensou. Era tarde agora, e ela optara por aconchegar-se no terrível sofá em frente à lareira, uma vez que o quarto no andar de cima estava gelado,  úmido e escuro.

Não tinha ouvido nenhum som vindo de Joe, e embora tivesse tentado as luzes e o telefone, não conseguira ser bem-sucedida com nenhum deles.

Decidi atribuir a falta de habilidades sociais dele ao fato de que sua linha de trabalho o coloca mais na companhia dos falecidos há muito tempo do que na dos vivos. E, a temperar isso, alguma compaixão devido aos ferimentos de Joe. Mas suspeito que ele seja bruto e rude de maneira imperdoável quando está saudável.

De qualquer forma, ele é interessante, e passar um tempo com pessoas que me tratam como tratariam qualquer um é parte dessa experiência.

Um lado altamente positivo do estilo de vida eremita de Joe é que não tem televisão no chalé. Imagine isso, uma casa  sem um único aparelho de televisão! Também não vi jornais ou revistas atuais. Embora alguns possam estar enterrados no meio da bagunça em que ele vive.

As chances de um homem assim me reconhecer, mesmo nestas condições estranhamente íntimas, são quase inexistentes. Isso é muito tranquilizador.

Apesar da estranha escolha das condições de moradia quando não está fotografando numa escavação, Joseph é, obviamente, inteligente. Quando falou sobre o trabalho, embora brevemente, havia um brilho em seus olhos. Um senso de curiosidade, de procurar respostas, que me agrada muito. Talvez porque eu também esteja procurando alguma coisa. Em mim mesma.

Embora eu saiba que esse não é um comportamento muito apropriado, li mais dos papéis de Joe quando me certifiquei de que ele estava em seu quarto no andar de cima. É um trabalho fascinante! Pelo que entendi das anotações, ele faz parte de uma equipe que descobriu um local de escavação no sul da Flórida. Enterrados sob a turfa preta que estavam removendo para o projeto de um lago, encontraram os ossos de pessoas que viveram na Antiguidade, 7 mil anos atrás, segundo os testes revelaram.

Tais descobertas são incríveis para mim! Uma menininha enterrada com seus brinquedos, artefatos de ossos, chifres e madeira, alguns deles entalhados com padrões. Um forte senso de ritual e apreciação pela beleza. Há desenhos, pergunto-me se foi Joe quem os fez. Desenhos intrincados e bem-feitos. E as fotos. Há as fotos! Á principio não entendi por que ele é fotógrafo já que a parte de arqueologia em si é muito incrível. Mas quando eu vi as fotos entendi. São lindas, ouso dizer que únicas, e o fato dele se aprofundar tanto no conteúdo delas, à ponto de ser facilmente confundido por um arqueólogo, só torna tudo mais interessante.

Há tantas anotações, papéis e itens! Honestamente, eles estão espalhados pelo chalé inteiro. Eu adoraria organizá-los, ler sobre o projeto desde o início até o momento presente. Mas isso é impossível na atual desordem total, sem mencionar minha partida amanhã cedo.

Quanto a mim mesma, estou progredindo. Tenho dormido melhor a cada noite. Meu apetite retomou, e talvez eu esteja comendo um pouco mais do que deveria. Hoje, após dirigir por longas horas e de um pequeno acidente, passei um bom tempo fazendo tarefas domésticas elementares. Algo bastante físico. Há menos de duas semanas, tarefas mundanas pareciam sugar toda a minha energia. Física, emocional e mentalmente. Contudo, depois deste dia, sinto-me forte, quase energizada.

Esse período, essa liberdade de simplesmente ser, era exatamente o remédio que eu precisava.

Quero mais, mais algumas semanas, antes que Taylor Swift volte a ser Taylor Swift de West Reading.

Princesa em fugaOnde histórias criam vida. Descubra agora