Seis

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Estou vivendo os momentos mais maravilhosos. Não era meu plano ficar tanto tempo em um único lugar, ou fazer a mesma coisa por tanto tempo. Mas é um lugar tão maravilhoso e um trabalho tão excitante a realizar.

Arqueologia é verdadeiramente fascinante embora Joe resmunge dizendo que o foco e a paixão dele é a fotografia, eu sei  que no fundo todas as pesquisas e estudo aprofundado sobre arqueologia é por que ele ama tanto quanto fotografar. Tão mais interessante e profundo do que a história que eu apreciava, e que aprendi na escola, ou nas aulas de sociologia que frequentei. Mais fascinante, descubro, do que qualquer coisa que já estudei ou explorei.

Ele sabe tantas coisas! E a quantidade de coisas que sabe é quase casual para Joe, do jeito que um verdadeiro literato pode ser não que o conhecimento em si lhe seja casual, ele o busca, todos os dias. Quer saber.

Acho essa paixão admirável, invejável. E acho tudo isso atraente.

Sinto-me atraída pela mente de Joe, por todos os seus complexos ângulos. Trabalhar com ele, certo, para ele, é difícil e exige muito, chegando a se tomar fisicamente exaustivo, às vezes. Apesar dos ferimentos de Joseph, ele possui um vigor incrível. É impressionante a maneira como, às vezes, ele mergulha, horas a fio, em seu trabalho.

E o fato de eu também conseguir fazer isso é absolutamente estimulante para mim. Estudei fragmentos de ossos de séculos atrás. Selados, é claro, em plástico.

Imagino como seria a sensação de tocá-los. Se alguém tivesse me perguntado se eu queria manusear ossos humanos, mesmo duas semanas atrás, eu diria que ele estava louco.

Como eu gostaria de ir a uma escavação, ou a um local arqueológico, e realmente ver o trabalho sendo feito no local. Embora Joseph pinte uma imagem muito clara quando fala sobre isso, não é o mesmo que ver por mim mesma.

Isso é algo que quero ver, e fazer, sozinha. Pretendo procurar cursos quando voltar para casa. E pelo que Joseph desdenhosamente chama de knap-ins, um tipo de acampamento em locais para amadores e estudantes. Quem sabe eu também não aprenda à tirar fotos tão bonitas quanto as dele.

Acredito que encontrei um passatempo que pode se transformar numa vocação.

Em nível pessoal, ele não é tão irritante quanto finge ser comigo. Pelo menos não durante metade do tempo. É estranho e muito educativo ter alguém me tratando como trataria qualquer pessoa, sem aquele filtro de boas maneiras e respeito exigido por títulos. Não que eu aprecie rudeza, é claro, mas, uma vez que você passa a conhecê-lo, pode ver por baixo do exterior bruto.

Ele é um gênio! E, apesar de cortesia fazer parte da vida, a falta da mesma parece nos tornar mais íntimos, de certa maneira.

Eu o acho atraente. Nunca na vida me senti tão atraída fisicamente por um homem. É excitante, por um lado, e terrivelmente frustrante, por outro. Fui criada numa família adorável, uma que me ensinou que sexo não é um jogo, mas uma alegria e responsabilidade, para ser compartilhada com alguém que você ame. Alguém que respeite, e que nutra por você os mesmos sentimentos. Minha posição no mundo adiciona uma outra camada complexa e cautelosa a essa atitude básica. Não posso arriscar aceitar um amor de maneira casual.

Mas eu o quero como amante! Quero saber como é sentir o fogo no interior de Joe queimando dentro de mim. Quero saber se meu próprio ardor combina com o dele.

O jornal no supermercado me faz lembrar o que quase me permiti esquecer: como é ser observada constantemente, perseguida por uma imagem impressa no papel. Especulada. A fadiga disso, o desconforto absoluto. Comparando como me sinto agora em relação a como me senti na noite que deixei Washington, entendo que estava muito perto de desmoronar, posso voltar ao passado e recordar aquele sentimento de perseguição, sentir os nervos que tinham começado a me incomodar, sempre tão pertos da superfície.

Princesa em fugaOnde histórias criam vida. Descubra agora