Capítulo 3

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Por Dulce María

Não sei como, mas tudo terminara bem. Ninguém pareceu perceber a semelhança entre as gêmeas e Christopher e muito menos perceber os olhares furtivos que trocávamos vez ou outra.
Por incrível que pareça, aqueles olhares fazia-me aquecer completamente por dentro. A cada segundo me lembrava das noites que havíamos passado juntos. "Como seria esse novo Christopher na cama? Mais sedutor? Mais quente?", perguntei-me mordendo os lábios enquanto saía do chuveiro.
De qualquer forma, ele fora claro com aquela ultima frase naquele bilhete: "Não podemos ficar juntos. Você não é o melhor para mim. Por favor, não me procure." Relembrar esse maldito bilhete era como cutucar numa ferida, que nem se quer, cicatrizou. Causava dor e raiva. Não, dor não. Eu estava bem. Tinha duas filhas, ótimos amigos, uma rede de lojas e um noivo que fazia de tudo por mim.
"É isso Dulce María, você tem um noivo. Não deveria estar lembrando-se de um passado que só lhe causou dor." Com esse pensamento, tratei de limpar as lágrimas que ameaçavam a começar cair e saí do banheiro só com um hobby preto e os cabelos molhados de lado.
E foi então que o vi sentado ao lado de Cecília, balbuciando-lhe uma história. Minha pequena filha fitava-o com admiração, com o mesmo brilho nos olhos quando me olhava trabalhar.
Das duas, Cecília sempre foi a mais doce, carinhosa e estava sempre atenta as coisas ao redor. Já Alicia, era agitada, além de ser extremamente fria. Se caía, não engolia o choro. Da mesma forma que não engolia desculpas mal contadas.
Dulce - Uckerman chamou-me atenção
Oi filhinha - não tive coragem de encarar e instintivamente abracei a mim mesma, como se estivesse me protegendo.
Mamãe, tio Ucker estava me contando uma história - disse ela esfregando os olhinhos - E ele me disse que ainda estou com febre.
Cecilia cala a boca? - Alicia sentou-se na cama - Daqui a pouco mamãe vai querer ir embora para te levar no médico.
Alicia. - Adverti enquanto Christopher parecia divertir com a situação - Cecilia, já te dei o remédio. Não é possível que não tenha melhorado.
Viu? Eu disse. Ela não está sentindo nada. Tá é fazendo manha pra ele ficar paparicando ela.
Não estou paparicando ela Alicia - ele riu - Ela está sim com um pouco de febre. Acho que pode ser garganta.
Não entendo por que todos protegem ela. - Alicia resmungou e se deitou.
Caminhei devagar até a cama onde Cecilia já fazia cara de choro. Sempre que a irmã implicava, fazia a mesma carinha de sentida. Christopher por sua vez, levantou-se dizendo que ia preparar uma caneca de leite quente com canela para Cecilia e Alicia. Fazendo questão de destacar o nome dela quando a mesma resmungou.
"Por que ele tem que estar fazendo isso?" Ainda de ser um amor com minhas filhas, ele tem que estar no mesmo quarto usando apenas uma calça de moletom cinza e uma blusa xadrez aberta exibindo seu abdômen e o seu V.
Sacudi a cabeça tentando livrar desse pensamento enquanto verificava se havia trago algum medicamento para dor de garganta.
Posso ir até a farmácia comprar o remédio. Na cidade há uma drogaria 24 horas.
Não precisa se incomodar. Além do mais, ela não reclamou de dor. Pode ser só febre mesmo.
A garganta está começando a inflamar.
Claro Doutor Uckermann.
Não preciso me especializar na área para identificar uma garganta inflamada. Ele colocou as xícaras na mesa e depois voltou à mirada para mim - Mas se eu fosse você, realmente a levaria em um pediatra. Parece que tem amidalite.
Agradeço. - Baixei a cabeça enquanto dizia - Mas de qualquer forma, não quero incomodar.
Não será um incômodo.
Dito isso saiu do quarto e logo depois ouvi o barulho do carro saindo pela garagem. Por que ele se importava tanto?
Mamãe, ele fez leite com canela para mim? - Alicia virou para mim.
Apenas sorri e dei as xícaras para elas que me olhavam com certa curiosidade.

XXX

Acordei com as meninas pulando em mim.
... biquíni mamãe.
Quero ir para praia Dulce! - Alicia disse nervosa
Ei... - esfreguei o rosto - Calma e bom dia. Está cedo e vocês não tomaram café.
Não está cedo, não. - Cecilia apressou-se
E o tio Ucker fez torrada com ovos mexidos e bacon para nós. - Alicia sorriu ao dizer - E ja escovamos os dentes.
Está certo.
Levantei da poltrona onde havia ficado a espera de Christopher, mas não me lembro se ele entrara ou não no quarto.
Depois de refazer-me, colocar os biquínis nas meninas, resolvi ir tomar café.
Bom dia - disse a todos
Dorminhoca, estávamos preocupados - Poncho apertou meu nariz.
Apaguei na poltrona. Estou com corpo dolorido. - bufei enquanto me servia com uma xícara de café
Você tem estado exausta, Dulce.
Mai, você sempre preocupada.
Mais é sério amiga! - ela me abraçou - Você mal mal tem tempo de conversar no nosso grupo do Whatsapp.
É verdade, só aparece lá para falar mal do Felipe. - Any disse
Deixem-o fora da conversa. - Resmunguei - Tem sido um santo.
Dulce, Dulce... - Poncho arqueou a sobrancelha
Não Poncho, não! - coloquei o dedo a riste impedindo-o te continuar - Ele tem sido sim um santo, não vem com esse papo que ele não presta.
Tudo bem, Dul - Poncho levantou os braços com quem se rendia.
Então, cadê as crianças? - perguntei.
Estão com Chris e Ucker na praia. - Mai apressou em responder - Nico foi à cidade comprar umas coisinhas. Mais tarde estamos querendo fazer um "lual", o que acha?
Perfeito! - respondi e Any bateu palmas - Trouxe meu violão e Mai cantará para nós.

XXX

Bem dito e feito.
Depois de passarmos o dia todo na praia, observando as crianças brincarem e até mesmo fazendo nossas brincadeiras de adultos, estamos todos sentados ao redor da fogueira, ora jogando conversa fora, ora cantando.
Parada, olhando todos meus amigos, agradeço a Deus por tê-los, e mais do que isso, fazê-los de minha família. Com certeza, eu não seria a mesma sem eles.
Tentando disfarçar a emoção enquanto eu os admiro, peço licença e vou até a casa com a desculpa de ter que pegar uma manta para as crianças.
Depois que pego as mantas, paro em frente a um espelho e me ajeito. Após perceber, que não tem muita coisa que eu possa fazer, além de um coque (mal feito), vejo um porta-retratos atrás de um vaso de flores.
Na foto vejo Christopher em um elegante terno cinza com uma gravata azul marinho e uma mulher ao seu lado, alta, cabelos loiros naturais e os olhos cinzas e expressivos. Os dois estão abraçados e sorriem felizes.
Quem será que é essa mulher? Conhecendo linguagem corporal, sei que não se trata somente de uma amiga. Enciumada, coloco a foto no lugar e quando viro, me dou com Uckermann me fuzilando com o olhar.
- Minha esposa - diz como se estivesse lendo meus pensamentos.
- Esposa?! - arregalo os olhos - Não sabia que... Que... Olha, desculpa. Não tenho nada haver com isso e... Enfim, não deveria estar mexendo em suas coisas.
- Sim, esposa. - diz secamente - Não sabia que eu era casado? - ri irônico - Há muitas que você não sabe Dul.
- Tem razão, Ucker. - desvio o olhar e quando volto a olhá-lo, dou meu melhor sorriso - Mais o que sei, é o suficiente...
- Gente! - Any aparece gritando - Por que demoram? Cadê a cerveja? E as mantas?
- Aqui Any, leve as mantas e eu ajudo Christopher a pegar as cervejas. - entrego as mantas para ela que sai dando-se por satisfeita.
Eu e Christopher vamos até a cozinha e pegamos as cervejas calados, mas antes que possamos sair da casa, ele para na minha frente, me olha por um bom tempo e depois volta a caminhar.
Eu não entendo esse cara!

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