John

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Estou feliz por o Liam estar feliz!

Ao sentar-me na cadeira do café reparo que falta a Ella. Vejo que caminha sozinha pelo passadiço. Pensei que também estivesse feliz.

-John não te preocupes com ela.- recomenda-me a loirinha.- Ela fica bem. Só já não está habituada a tantas emoções assim.

-Não foi nada de mais.

-Para ela foi. Ela sente tudo e fica abalada com a mínima coisa. Ela não era assim...

-Como assim? Porquê que ela mudou?

-Depois do acidente...

Ela é interrompida pela empregada de mesa que nos pergunta o que queremos tomar.

-Izza? Que acidente?

-Esquece! Não posso ser eu a contar. Não lhe farei isso.

É melhor não insistir muito. Mas fiquei curioso. Que acidente?

Entretanto chegam as nossas bebidas.
Brindamos ao mais recente casal. Sinto-me uma autêntica vela.

Enquanto eles estão no clima deles escolho levantar me e ir verificar da morena.

Enquanto vou caminhando tento mentalizar-me que não posso falar do acidente. No tempo certo ela conta-me. Eu sei que sim.

-Giraça, estás bem?

Ela vira-se para trás, acena com a cabeça e convida-me a sentar-me junto dela.
Sem pensar muito sento o rabo na areia.

Ela encosta a cabeça ao meu ombro e respira fundo.

-Adoro o mar.- comento.

-É lindo! Pacífico. Dá-me uma paz imensa.

-Ainda há muito para descobrir nele.

-Imenso. Tudo o que eu já conheci dele foi espantoso e acredito que ficaria ainda mais apaixonada por ele se as minhas aventuras continuassem.

-Tens ar de aventureira.- solto um risinho- Porque não continuas a explorar o mundo morena?

Ela levanta a cabeça e limpa uma lágrima que lhe cai pelo rosto. De seguida deita-se na areia. Olha para mim e volta a olhar para o céu estrelado.

-Estás a ver ali?- diz enquanto aponta para o céu -É a estrela polar.

-Hm, acho que já a vi.

-A ursa maior e a menor estão ali.

Que miúda incrível. Enquanto ela olha pra o universo fico a olhar para ela e a admirar a pessoa incrivelmente... nem sei a palavra certa para a descrever!

-Foi há 3 anos...

Olho para ela e não digo nada, apenas ouço.

-Ele estava a vir do trabalho. Vinha a conduzir e como de costume pela autoestrada. No dia a seguir íamos a Nova York fazer uma visita a uma amiga da minha mãe. Vindo do nada veio um camião fora de controle. O motorista tinha tido uma convulsão.

Vejo-a a limpar as lágrimas. A partir daí tudo o que ela disse já foi a soluçar.

-Ele morreu de imediato. Só soube quando saí da escola e ele não estava lá para me ir buscar e sim a mãe da Izza. Ela pediu-me para entrar no carro e disse-me que ia dormir lá em casa naquela noite.
Achei estranho porque íamos apanhar o avião muito cedo. Tive o feeling que algo não estava bem. Algo não batia certo. Pedi-lhe que parasse o carro no estacionamento e me contasse tudo. A Izza já sabia e era óbvio na cara dela que algo se tinha passado. Quando a tia Amber me contou sobre o acidente não consegui fazer mais nada sem ser pegar no telemóvel e ligar à minha mãe. O desespero tinha-se apoderado de mim. De imediato pedi que me levasse à minha mãe. Quando cheguei junto dela não podia acreditar. Caí de joelhos no chão. Tinha perdido a melhor pessoa da minha vida, o meu apoio para tudo, o meu melhor amigo. O meu pai morreu a 14 de maio de 2017 e desde aí que me sinto completamente vazia...

-Eu...eu não sei o que dizer...

-Deixa-me terminar. Todas as férias, feriados, fins de semana, basicamente sempre que tínhamos um dia livre íamos fazer algo fora do comum. Por isso é que eu já vivenciei coisas que muitos outros não puderam. Já fui a 15 países diferentes. Já experimentei comida, roupas e outras coisas muito diferentes do que para mim são normais. Ele era a pessoa mais aventureira que alguma vez conheci e por isso eu e a minha mãe alinhávamos em tudo. Deram-me este fio no dia do funeral. Disseram que o tinham encontrado no carro e que tinha o meu nome na caixa.

Ela mostra-me o fio e atrás vejo escrito: "Para o amor da minha vida, El".

-Uso-o desde aí. Não o tiro por nada e não tenciono. Assim sei que ele estará sempre comigo como antes. Ele era o meu herói. Tirou-me de situações horríveis vezes sem conta. Fez-me rir até doer a barriga milhares de vezes. Depois do acidente fiquei quase um ano sem entrar num carro. Não conseguia. Hoje em dia ainda não sei lidar com a falta dele por isso prefiro chorar sozinha. Não gosto que as pessoas tenham pena de mim. Eu sou o que o meu pai queria que eu fosse. Não tenciono desistir de nada, por ele. Quero ser o seu maior orgulho.

-Ella, tu tens uma força para lidar com as coisas que é inexplicável. Acredita que o teu pai está imensamente orgulhoso de ti.

-Eu espero que sim.

-Ainda tens muito para viver. Continua a descobrir o mundo com a tua mãe. De certeza que ela vai adorar.

-Não sou capaz! Já tentámos fazer algo diferente, mas não foi o mesmo. Tal como eu perdi o meu melhor amigo ela perdeu o amor da vida dela.

-Têm de ser fortes.

-Eu sei que sim mas nem sempre é possível.

Levanto-me e estico-lhe o braço para que se levante também.

Já de pé limpo-lhe as lágrimas que lhe escorrem pela cara e sem pensar muito, tomo a atitude mais estúpida da minha vida...

E beijo-a...

Amar A Pessoa CertaOnde histórias criam vida. Descubra agora