Ella

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Mas o que é que eu acabei de dizer?

É claro que o amo. Mais do que alguma vez amei alguém!

Vejo que caiem lágrimas pelo rosto dele. Sinto uma enorme necessidade de abraçá-lo, mas não vou fazê-lo.

-John, quero se sejas feliz...

-Eu sou feliz contigo. Para de dizer barbaridades.

-John vou ter de te pedir que saias...

-Ella... por favor...

O passado dele não me deixa acreditar totalmente nas palavras dele por muito que eu queira.

Ele levanta-se e atende o telemóvel.

Ainda com a voz rouca avisa o pai que só irá ele.

Para finalizar a conversa ele pergunta uma única coisa.

-Quem te enviou essa merda?

-Thomas Will.

-Foda-se!

Sai do quarto disparado à porta e eu desabo caindo de joelhos no chão.

A minha mãe vem para me abraçar e diz que se calhar eu não estou a ver as coisas corretamente.

Não me preocupo com o que ela disse e quando finalmente me acalmo vou para o quarto e ponho a Izza em chamada.

-Estás bem?

-Pensei que fosse mais fácil.

-Ella tu nem sabes se é verdade.

-Perguntaste ao Liam?

-Ele disse que não sabia de nada e que o John não lhe falou nada.

-Eu quero descansar. Falamos amanhã.

Desligo o telefone e mergulho na minha almofada que já está cheia de lágrimas.

[...]

O meu fim de semana baseou se em lágrimas atrás de lágrimas. Pouco comi.

Acredito que esta semana o cenário se repita. Faz quarta-feira 4 anos que o meu pai teve o acidente e costuma ser sempre uma semana complicada.

Chego à escola e vou até junto da Izza.

-Bom dia, estás melhor?

-Não. Eu sei que vais estar com o Liam hoje por isso não me importo de juntar-me a outra pessoa.

-Claro que não, eu digo-lhe que vou estar contigo.

-Izza não faças isso. Vive a tua vida normal.

Antes de me poder vir embora o Liam chega.

Despacho-me a despedir-me e antes de me afastar o suficiente apanho um pouco da conversa deles.

-O John está na esquadra. Não deve vir hoje, por isso ela não tem de se preocupar.

Viro-me instantaneamente para trás e as palavras saiem-me da boca mais rápido do que eu as penso.

-O que é que ele fez?

Ele olha para mim e desvia novamente o olhar para a Izza.

-Liam fala!

-O Thomas era amigo do John. Bastante por sinal. Ele é também irmão da Amber. Era ele que gravava os vídeos e que naquela foto estava a beija-la.

-Que nojo!- ouço vindo da minha melhor amiga.

-O John não deixa assuntos por resolver e pelo que sei quando saiu de tua casa encharcou-se em álcool e foi até casa dele. A mãe deles teve de ligar para a polícia. A Anne está a fazer de tudo para o tirar de lá.

Não dou uma resposta. Simplesmente viro as costas e dirijo-me até às casas de banho onde volto a chorar como se não houvesse amanhã.

[...]

É quarta de manhã. Não tenho forças para me levantar da cama. Não tenho motivos para isso também.

De qualquer forma levanto-me um pouco mais cedo e vou tomar um banho.

Sigo a minha rotina como sempre fiz.
Desço, como, lavo os dentes e finalmente saio.

-Queres ir lá à tarde?

-Sim, eu sei que estás a trabalhar, por isso a Izza não se importa de ir comigo.

-Okk filha. Sê forte.

Aceno com a cabeça e colo os olhos na estrada.

Chegamos à escola e algumas pessoas mais próximas dirigem-se a mim de modo a mostrarem a sua compaixão.

Sinto-me um pouco melhor confesso, mas isso não vai alterar o facto de o meu pai não poder estar comigo no meu aniversário, na passagem de ano, no Natal. De não podermos voltar a viajar como antes.

Largo os meus pensamentos e vou caminhando até à Izza.

-É como planeamos hoje?

-Sim, não te preocupes.

-Eu vou ao cacifo. Até já.

Caminho até ao cacifo e abro-o. Quando acabo tudo o que tenho para fazer lá fecho a porta e deparo-me com quem menos eu queria.

-Sim?

-Anda tudo bem contigo? Andas meio em baixo? Não te tenho visto com o John.

-Não estou para as tuas merdas. Por isso se fazes favor desaparece.

-Não é contra mim que tens de estar princesinha.

Aproximo-me dela e bem perto do ser rosto falo.

-É sim! A cobra aqui és tu! Não quero contacto nenhum contigo por isso faz-me um favor e não me voltes a aparecer à frente.

Sinto os olhos fulminantes dela em mim. Com ela mais uns tantos que pararam no corredor para ver o que se estava a passar.

-Não têm aulas para estar?

Rapidamente toda aquela gente dispersa.

Vou para a aula e tento manter-me o mais atenta possível.

[...]

O tempo passa a voar. Quando estou a sair da minha última aula para poder finalmente ir embora vejo o John.

Estávamos no exato mesmo sítio que no primeiro dia que nos conhecemos. Eu no cacifo e ele no grande e barulhento corredor.

Passa por mim e não diz nada, o que me magoa bastante, apenas olha e baixa a cabeça.

Mentalizo-me que tenho de seguir em frente.

Finalmente saio da escola junto com a Izza. Vai ser uma tarde dolorosa.

Chegamos ao cemitério onde o meu pai está enterrado. Como de costume sento-me junto da sua lápide e converso com ele. O tempo urge e quando reparo já está a ficar escuro.

Volto a casa e, mesmo sem comer, deito-me e adormeço.

[...]

Amar A Pessoa CertaOnde histórias criam vida. Descubra agora