Ouço a Ella a chamar-me.
Está deitada com a cabeça no meio peito e enquanto vou acariciando os seus cabelos ondulados.
-Sim pequenina.
-Era o teu pai?
-Era...- fui vago como nunca antes.
-O que é que aconteceu ao certo entre vocês?
-Eu tinha cerca de 3 anos, a Joanne já tinha feito 10, ele deixou-nos. Foi embora e nunca mais nos procurou. Nunca mais quis saber se estávamos bem.
Ela olha para mim e faz uma carinha de pena. Odeio isto, mas continuo o que estava a dizer.
-Ficamos muito mal nessa altura. A minha mãe começou a trabalhar muito mais e eu tinha de ficar com a nossa vizinha, que infelizmente faleceu há 2 anos. Nunca tive grandes coisas porque também nunca tive grande dinheiro. Já a Joanne tinha tido tudo, tinha tido uma mãe e um pai presente e por isso é tão mimada.
-E o que ele disse? Acerca da tua mãe?
-Não sei se é verdade. Também não acredito que seja. A minha mãe não nos ia deixar assim.
-Acho que lhe devias perguntar. Tu não tens grande ideia dessa altura e por isso podes não te lembrar destes pequenos pormenores.
-Ella...
-Tens de falar com a tua mãe, se não vais estar a culpar uma pessoa só quando a culpa pode ter sido dos dois.
-Não o defendas assim!
-Só estou a tentar fazer-te ver os dois pontos de vista.
-Agradeço mas já tenho muitos problemas.
Vejo que ela se encolhe ligeiramente e acaba por sair de cima do meio peito.
Coloco-me em cima dela e passo a mão no seu rosto.
-Vou pensar nisso, ok?
-Tu é que sabes John. Desculpa por me ter metido no assunto, nem sequer devia ter ouvido a conversa...
-Não te preocupes, também com tantos gritos era complicado não ficar curioso.
Ela dá um sorriso de leve ainda com um ar de incômodo no rosto.
Aproximo-me e colo os nossos lábios.
-Princesa, obrigado por me dares uma oportunidade.
-Vais dar uma de romântico agora?
-Não posso?- riu-me.
-Claro que podes. Já não está cá quem falou.
-Eu não queria apaixonar-me.
-E apaixonaste-te?
-Claro que sim!
Silêncio instala-se no quarto.
Que ótima maneira de levar com os pés. Agora sim, sei o que é deceção amorosa.Colo os olhos nos dela e vejo-a aproximar-se de leve. Quando chega perto da minha boca diz baixinho.
-Eu também te amo.
Sorri e beija o canto da minha boca.
O meu coração quase salta do peito de tão forte que bate.
O que é que esta rapariga fez comigo?
[...]
-A minha mãe já passa para me vir buscar.- ouço vindo da casa de banho.
-Okk morena. Eu já te levo até lá à frente.
Quando ela sai da casa de banho depois de se ter lavado, estava bastante bonita. Com os cabelos ainda atados num coque que deve ter feito para não os molhar.
Dou um sorrisinho bobo e agarro-lhe pela cintura.
-Estás linda morena.
-Vemos-nos segunda na escola.
Dá-me um beijo rápido e caminha até à porta.
Vou atrás dela e sorrio enquanto ela caminha até entrar no carro. Volto a fechar a porta e vou para o quarto recuperar os jogos perdidos.
[...]
Já são 20:17h, ouço a porta a abrir.
-John?
Percebo imediatamente que se trata da minha mãe. Recordo-me do que a Ella me tinha dito e por isso, e antes que mude de ideias, levanto-me e vou até à cozinha.
-Disseste ao pai para não voltar?
-John tive um dia cansativo, não comeces já a tirar-me a paciência.
-Responde.
-O teu pai quis sair, eu abri-lhe a porta.
-E no caminho disseste-lhe para não nos voltar a procurar?
-Ouve alguns problemas no meio filho. Mas porquê essa conversa agora?
-Porque ele esteve aqui hoje a dizer que a culpa também foi tua.
-O TEU PAI O QUÊ?
-Ouviste muito bem. Ele esteve aqui em casa.
-O que é que ele disse ao certo?
-Algo que eu espero que não seja verdade!
-Ele não tem esse direito.
-Mandaste-o embora ou não?
-John...
-Mandaste? Não quiseste que ele nos ajudasse?
-Sim filho...
-TU PUSESTE-NOS NA MERDA! TENS NOÇÃO DISSO?
-Eu não queria isso John...
Ouço a porta a abrir. Olho e vejo a minha irmã parada a olhar para nós.
-Mas o que é que se está a passar aqui? Dá para vos ouvir na rua toda.
-Pergunta à mãe, pode ser que ela a ti te conte a verdade.
Saio dali e os meus punhos imploram para bater em alguma coisa. Lembro-me então do saco de boxe que o Liam me ofereceu há uns anos. Vou busca-lo à garagem e volto a coloca-lo no teto do meu quarto.
Já só paro quando vejo os laços dos meus dedos a sangrarem.
Entro no chuveiro e rezo para que não tenha de lidar mais com a minha mãe durante todo o fim de semana.
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Amar A Pessoa Certa
Romance"O meu coração bate por ti Ella Clark, mesmo que tu não sintas o mesmo" Ella e John esbarram acidentalmente no corredor da escola e depois disso a vida de ambos torna-se uma inteira confusão. Será que estão os dois dispostos a amar-se ou o passado...