O CLÃ DOS CORVOS

Thomas

Eu não sei dizer ao certo quando tudo começou, mas eu sempre me senti meio que estranho, sentia coisas e por algumas noites cheguei a ter pesadelos horríveis e sem sentido, mas sempre que acordava na manhã seguinte ficava aflito e depois me acalmava.

Eu me chamo Thomas e morava com meus pais e minha irmã em uma fazenda no interior perto de uma pequena cidade, eu e minha irmã estudavamos na cidade e sempre íamos no ônibus dos estudantes que passava em frente à fazenda, mas naquela manhã eu não acordei me sentindo muito bem.

_Realmente você está com febre!-disse minha mãe olhando o termômetro.
_Deve ser apenas um resfriado.-falei.
_Resfriado ou não você vai ficar em casa hoje!

Meus pais eram muito cuidadosos comigo e com minha irmã e sempre estavam de olho na gente.

_Vou trazer um chá pra você!-disse ela.

Eu sentia meu corpo pesado e minhas mãos queimavam e ao mesmo tempo sentia um frio enorme o que era estranho, eu me levanto e vou até a janela e vejo a Cler entrando no ônibus, ela era um ano mais velha que eu e já estava no terceiro ano do ensino médio, a gente brigava as vezes mas era coisa de irmãos, quando voltei pra cama notei que um pássaro pousou na minha janela, e não era um pássaro comum era um corvo e ficou me olhando fixamente por alguns minutos, aquilo começou a me incomodar então o espantei, meu pai sempre falava que corvos são um sinal de mal presságio não que eu acreditasse nessas coisas mas eu não queria que ele entrasse no meu quarto.

Minha mãe voltou com o chá e eu tomei, logo depois me deitei novamente e me cobri e minutos depois apaguei e tive um pesadelo, bom, não foi bem um pesadelo mas um sonho bem estranho, eu estava no meio da floresta sozinho e sentia minhas mãos arderem muito como se tivessem sido queimadas e quando olhei pra minha frente havia um homem parado me olhando mas eu não conseguia enxergar o rosto dele e em questão de segundos ele já estava bem perto de mim e mesmo assim eu não via seu rosto então acordei molhado de suor e mais uma vez eu fiquei sem entender nada.
Depois de alguns minutos eu já estava me sentindo bem, não tinha mais febre e nem estava mas sentindo frio nem minhas mãos ardiam, fui até a cozinha e minha mãe estava lá com a Cler.

_Você já chegou?-perguntei pra ela.
_Já são quase quatro da tarde!-disse ela.
_Acho que dormi demais.
_Está se sentindo melhor?-perguntou minha mãe.
_Sim, parece até que não tive nada.
_Acho que você estava fingindo pra não ir a aula!-disse a Cler.
_Não começa Cler!
_Calma vocês dois, Cler seu irmão estava realmente com febre, e não é a primeira vez que ele tem essas febres repentinas, acho até que deveria ir ao médico!
_Não precisa se preocupar mãe.
_Só sei que as provas finais estão quase chegando e não é bom você ficar faltando assim!-disse a Cler.
_Não se preocupe com isso, minhas notas estão ótimas!
_Cler se eu não me engano você tem que arrumar seu quarto!-disse minha mãe.
_Tô indo.

As vezes a Cler era insuportável mas sabia que por trás daquela chateação toda havia preocupação comigo.

Na manhã seguinte eu acordei muito bem, não estava sentindo nada e nem havia tido pesadelo algum, como de costume tomamos café juntos e depois seguimos para estrada esperar o ônibus, demorava cerca de quarenta minutos até chegarmos a escola, e como sempre o Alex estava me esperando.
O Alex era como um irmão pra mim estudavamos juntos desde a quinta série e ele sabia todos os meus segredos e eu os dele.

_Tá melhor?-perguntou ele depois que me abraçou.
_Sim estou ótimo, acho que foi apenas um resfriado.
_Você vive tendo resfriado Thomas é melhor ir ao médico e ver realmente o que você tem!
_Não tenho nada, e ontem aconteceu algo de novo?-perguntei.
_Além de um assunto gigantesco de história chegou um garoto novo na sala.
_Garoto novo? Praticamente no fim das aulas!
_Sim, todo mundo achou estranho alguém chegar faltando apenas um mês para o fim das aulas!
_E como ele é?
_Ele se chama Tyler e veio transferido de Londres.
_Londres?
_Isso mesmo.
_Deve ser louco em sair de lá pra morar aqui, não que seja ruim mais olha o tamanho dessa cidade!
_Realmente!

Seguimos pra sala nos sentamos e minutos depois ele entrou, e naquele momento senti uma leve dor na minha nuca um certo incômodo e também senti minha respiração ficar mais pesada, não sabia o que estava acontecendo comigo mas não conseguia tirar meus olhos dele, ele tinha cabelos castanhos e olhos negros era sério e acho que percebeu que estava olhando pra ele, pois olhou pra mim fixamente antes de se sentar, automaticamente senti meu rosto queimar.

_Thomas você está bem?
_Sim Alex estou!
_Você ficou estranho derepente.
_Não foi nada.

Nem eu mesmo sabia descrever aquelas sensações que estavam em mim.

As garotas da sala ficavam em volta dele e dava pra perceber que ele não estava muito a vontade com elas, no intervalo isso se repetiu mas logo depois ele ficou sozinho com um livro.

_Acho que deveríamos ir lá falar com ele.-falei.
_Tá falando sério?-perguntou o Alex.
_O cara tá sozinho, deve ser horrível mudar pra uma escola onde não se conhece ninguém!
_Realmente é, mas ele parece estar bem com o livro dele acho melhor não atrapalhar!
_É, vai ver você tem razão.

Eu não sabia que vontade era aquela de falar com ele, mas uma hora ou outra isso teria que acontecer.