Tyler

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Eu passei o restante das aulas com a sensação de que deveria falar com ele mas eu tinha um pouco de receio, não queria fazer papel de trouxa, nem eu mesmo sabia que sensações eram aquelas que estavam acontecendo comigo.
Quando a aula acabou a Cler estava me esperando na saída para irmos esperar o ônibus confesso que não estava me sentindo bem, minha nuca doia e mais uma vez estava sentindo minhas mãos queimarem.

_O que você tem Thomas?-perguntou ela meio preocupada.
_Só um pouco de dor de cabeça.

O Alex também estava preocupado comigo.

_Cara você precisa procurar um médico!-disse ele.
_Gente não sei pra quê tanto alarde eu só estou com dor de cabeça!
_Você vive com dores!-disse Cler.

Isso era verdade, eu sempre senti coisas que vão além de dores, as vezes as sensações eram bem mais fortes.
Me despedi do Alex e segui com a Cler até o ônibus mas antes de entrarmos meus olhos encontraram o Tyler, ele olhou pra mim fixamente com aqueles olhos negros e nesse momento eu senti um calafrio que subiu pelas minhas costas e chegou até a nuca minha respiração ficou pesada minhas mãos começaram a suar e do nada ele se vira e sai, eu entrei no ônibus e me sentei ao  lado da janela.

_Thomas você está bem?
_Sim Cler.

Eu estava sentindo um turbilhão de sensações, e estava contando os minutos para chegar em casa e cair na minha cama.
Assim que cheguei encontrei meus pais na sala falei com eles rapidamente e segui pro meu quarto, joguei a mochila na poltrona e cai na cama, mas não demorou muito até meus pais baterem na porta.

_A porta tá aberta!

Eles entraram e minha mãe se sentou na cama.

_Filho sua irmã disse que você está com dor de cabeça.
_Não é nada mãe.
_Filho vou te levar ao médico!-disse meu pai.
_Não tem necessidade disso!
_Como não Thomas!-falou minha mãe.
_Thomas você anda muito diferente esses dias, tá acontecendo alguma coisa que queira nos contar?-perguntou meu pai.
_Eu só ando meio tenso com as provas finais pai, talvez essa febre e essas dores de cabeça sejam apenas tensão.
_Tudo bem, mas se você não melhorar iremos procurar um médico entendeu!-disse ele.
_Quer comer alguma coisa filho?-perguntou minha mãe.
_Não mãe, eu só quero dormir um pouco.

Eles saíram e eu tranquei a porta e quando voltava pra cama percebi que havia um corvo na minha janela e a forma com que ele me olhava sem fazer barulho algum me fez ficar imóvel também, comecei a suar muito que as gotas caiam no chão e do nada tudo ficou escuro.
Eu acordei no chão sem entender o que tinha acontecido e ouvia a minha mãe me chamar e bater na porta, me levantei e mesmo tonto fui abrir.

_Vim ver como você está!-disse ela colocando a mão na testa para medir minha temperatura.

Eu não queria deixar ela nem meu pai preocupado então preferi não falar nada sobre o desmaio.

_Eu tô bem sim mãe, só preciso dormir.
_Você não vai jantar?
_Tô sem fome, só quero dormir.

Ela insistiu para que eu comesse alguma coisa mas eu disse que não queria, então ela me deu um beijo no rosto e se despediu eu tranquei a porta e segui até a janela, já era noite e eu devia ter passado muito tempo desmaiado, uma névoa cobria tudo lá fora e eu não conseguia ver nada além da macieira que ficava na frente da nossa casa, eu já não estava entendendo mais nada, porque eu havia desmaiado e porque aquelas sensações no meu corpo, o que estava acontecendo comigo afinal de contas?
Eu continuei na janela e do nada as nuvens descobriram a lua que clareou por alguns segundos lá fora, e em meio aquela névoa junto com aquela claridade vi alguém perto da macieira parado como se estivesse olhando pra mim, não dava pra ver quem era e aquilo me deixou muito nervoso, saí correndo até a sala onde estavam meus pais.

_Pai tem alguém lá fora!
_Como assim?-perguntou ele.
_Eu vi pela janela está perto da macieira!
_Você viu mesmo alguém Thomas?-perguntou minha mãe.
_Vou pegar meu rifle!-disse meu pai.

Ele pegou o rifle e saiu, minha mãe não deixou eu ir com ele e eu percebi que ela estava nervosa, não demorou muito meu pai entrou.

_O senhor viu ele?-perguntei.
_Se havia alguém lá fora já foi embora, não vi ninguém é também não escutei nada além dos animais da noite.
_Será mesmo que já foi?-perguntou minha mãe.
_Tem certeza que viu alguém lá fora Thomas?-perguntou ele.
_Sim pai eu vi ele perto da macieira e parecia estar olhando pra janela do meu quarto!
_Bom como eu disse não achei nada lá fora, deve ter sido alguém de passagem, mas também com uma névoa dessas não dá pra ver quase nada, amanhã eu procuro algum rastro.
_Bom agora eu acho melhor você ir dormir tem aula amanhã.-disse minha mãe.

Eu tinha certeza que havia alguém lá fora, mas quem seria?

Quando voltei pro meu quarto fui até a janela e a lua já havia sumido e a escuridão reinava, fui pra cama e fiquei tentando entender, mas com o passar do tempo dormi, e do nada acordei no meio da floresta, estava claro devido a luz que parecia ser da lua, eu sentia a brisa fria da noite na minha pele foi aí que percebi que estava nu, então pensei que aquilo só podia ser um pesadelo, olhei pra trás e lá estava o mesmo homem do outro sonho, mas dessa vez eu vi seu rosto iluminado pelos raios da lua, ele se aproximou de mim e eu dei um passo pra trás e quando eu menos esperei cai em um tipo de buraco e do nada senti um impulso no meu corpo sobre minha cama então acordei com o despertador tocando, minha respiração estava ofegante e eu estava suado, e fiquei tentando lembrar se já havia visto aquele rosto em algum lugar mas com certeza não.

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