EU MORRI AOS 21 ANOS, em 15 de maio de 1968.
Naquela época, entendia pouco sobre o mundo, sobre o amor e sobre o sexo. Era considerado pelos meus amigos um homem "puro" — fui criado acreditando que o caminho para o céu era a castidade e por pouco não virei padre.
Meus ideais eram:
Transar com alguém? Só depois do casamento.
Beijar alguém? Só se eu gostasse de verdade da pessoa.
Me masturbar? Nem em sonhos!
Foi assim que trilhei meu caminho para o paraíso. E, sim, eu realmente fui para o céu, mas digamos que não foi por conta dessa história estúpida de castidade.
Na realidade, eu só era uma pessoa boa mesmo. Fui um excelente filho, um bom marido e uma pessoa que se preocupava com os outros (o básico, tratando-se de um ser humano decente), mas adivinhem a minha surpresa quando cheguei do outro lado e descobri que ninguém lá teve uma vida tão engessada e CHATA como a minha?
Cada um ali tinha uma história incrível. Ouvi sobre inúmeros feitos heroicos, histórias de amor, paixões, experiências estimulantes e realizações vibrantes. Perto deles, eu parecia um monge tibetano que não fez nada além de sentar e esperar a vida passar.
Não fiz nada que me trouxe real prazer. Isso até encontrar Ramon, um demônio diferente dos demais...
— É bem simples, o portal abre às 00h01 e fecha às 23h59. – explicou meu amigo, enquanto nos reuníamos perto dos portões do céu. – Você pega um corpo, circula entre os vivos durante todo o dia e depois tem que voltar, senão fica que nem uma alma penada até o próximo Halloween.
— Isso parece perigoso.
— Todas as coisas boas do mundo são perigosas. Mesmo assim, você não é como eu. Vai seguir as regras e voltar pra cá sem grandes problemas.
— E se eu fizer algo errado? Algo que me impeça de voltar pro céu?
— Torço por isso. Aí seríamos colegas de quarto.
Ele sorriu maliciosamente, mostrando os dentes afiados.
Era estranho ser amigo de um demônio, mas lá estava eu: conversando entre as grades do paraíso com alguém que me devoraria vivo se eu estivesse do outro lado com ele.
— Se eu tenho chance de ir ao inferno, talvez você também tenha de vir para o paraíso. – Sugeri.
Ramon sempre me achava ingênuo quando eu falava essas coisas, mas realmente gostava dele e esperava que algum dia o demônio se arrependesse de tudo o que fez na Terra para entrar no paraíso.
Afinal, a vida após a morte ainda era uma vida. Você podia cometer erros ou acertos e mudar sua realidade, mas Ramon não era o tipo de pessoa que sentia remorso pelos crimes que cometeu no passado.
— O Halloween para mim é uma data especial para trepar, beber, comer ou até matar. – Ele confessou. – Não sou do tipo de pessoa que comemora o feriado numa igreja.
— Obrigado por jogar isso na minha cara.
— Por nada, velho amigo.
Olhei para ele, pensativo.
Nunca tinha saído do céu desde que morri. Outros espíritos até atravessavam os portões para tentar salvar demônios como Ramon, convencê-los de que também mereciam o céu, mas eu não conseguia passar daquele ponto. Era covarde demais.
— Vamos, lá anjinho. Você sempre reclamou que nunca teve a chance de viver de verdade, essa seria a sua oportunidade de fazer tudo o que sempre quis.
— Não sei se conseguiria, chegando lá embaixo eu provavelmente só andaria de um lado pro outro sem saber o que fazer.
— Posso até ser seu guia no início da noite, mas o restante é com você. Tenho meus próprios planos na Terra e isso não inclui ficar andando de um lado pro outro com um padre.
— Fui casado, esqueceu? Não cheguei a virar realmente um padre!
— Qualé, Vinícius, sabemos o suficiente um sobre o outro. Se transou tanto quanto um padre, então pode-se dizer que você foi um.
Ele se aproximou da grade, colocando o rosto entre elas e me encarando com aqueles olhos amarelos e sexys. Se eu não soubesse que ele me arrastaria para o fogo na primeira oportunidade viria aquilo como um gesto inofensivo.
Ramon encarou meus olhos, sem tirar aquele sorriso sacana dos lábios.
— Você é uma gracinha, sabia? Esses olhos castanhos da cor da terra são tão fofos.
— Não comece com isso.
— Não tá curioso para saber como é ser fodido por um demônio? Posso realizar todos os seus desejos lá embaixo.
— Eca! Dispenso. Não tô a fim de transar com você. É tipo um irmão mais velho e palhaço.
— Hum, nesse caso não me importaria em encenar um incesto.
Revirei os olhos, sem achar graça daquela piada.
Mesmo assim, imaginei as coisas que poderia fazer lá embaixo para agitar um pouco a minha vida.
Eu estava morto, mas ainda podia curtir a noite de Halloween para andar com os mortais e acabar com os meus arrependimentos.
— Tá legal. – falei, me dando por vencido. – Só desta vez! Eu desço com você.
— É isso aí, cara! Vai ser uma noite épica!
— Nem adianta me olhar desse jeito, não vamos transar.
— É o que você diz.
— Não vamos transar!
— Já ouvi isso antes. E adoro a parte em que você não resiste ao meu pau.
Levantei o dedo do meio, dando as costas em seguida e indo embora dali antes que ele começasse a falar mais alguma bobagem.
— Vejo você em três dias, no portal! – ele gritou. – Não vá se esquecer!!!
Acenei, indo embora e tentando conter todo o nervosismo que começou a aflorar dentro de mim.
O Halloween estava mais perto do que nunca. Seria a noite dos fantasmas dizerem "doces ou travessuras?".
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As travessuras de Vinícius (Romance Gay)
General Fiction+18 | Erótico | É Halloween e, nesta única época do ano, Vinícius vê uma oportunidade para andar novamente entre os vivos e aproveitar seu único dia aqui embaixo para viver como nunca imaginou: indo a festas, transando loucamente, conhecendo seres m...