12. Saudades de você

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— MATEI ELE UMA VEZ

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MATEI ELE UMA VEZ. Mato de novo se precisar! – gritou o assassino, apertando a faca contra o meu pescoço e cuspindo as palavras com nervosismo. – Afastem-se de mim, suas aberrações!

Bruxo e Ramon pararam de brigar. Os dois se recompuseram, ajeitando as roupas e segurando toda a adrenalina daquele momento de insensatez em que atacaram um ao outro.

Pensei na dor que sentiria se fosse degolado. Seria uma morte terrível, nada do que eu esperava quando resolvi descer à Terra.

— Calma lá, cara. Sabe o que acontece se fizer isso – disse Ramon, aproximando-se com cautela. – Eu mesmo vou te torturar no inferno.

— Fique longe! Não podem me machucar...

— Deveria ter pensando nisso antes de matar o meu Jonathan. – Resmungou o Bruxo. E aproximou-se de forma comedida. – Você já era.

— Não era para ter ninguém aqui. – seu peito subia e descia de maneira acelerada. – Eu só queria a porra do cofre! Não era para eles estarem aqui!

O Bruxo cerrou o punho, demonstrando toda a raiva que sentia por aquele homem.

Nossos olhos se encontraram e ele percebeu a minha súplica.

Não queria morrer daquele jeito, seria pesado demais.

Por que as coisas não tinham sido apenas doces e travessuras como me prometeram?

— Sabe, Bruxo – disse Ramon, com um sorriso largo. Ele percebeu que o clima ali não era dos melhores e estava tentando acalmar o homem ao seu lado – Sempre me perguntei se você é bom de arremesso.

Os dois trocaram um breve olhar. O Bruxo não entendeu aquelas palavras de imediato, mas logo seus olhos se iluminaram e esboçou o mesmo sorriso que o do demônio.

— É, sou muito bom em arremessos.

Senti a lâmina arrancar um facho de sangue do meu pescoço. Ele estava pressionando mais, a ponta estava quase afundando na minha pele.

— Seu problema não foi ser um ladrão ruim. – disse Ramon. – Foi só má sorte mesmo. Devia ter escolhido outra casa. Agora, já era pra você!

Aquilo foi uma deixa.

Tudo, em seguida, aconteceu rápido.

Vi quando o Ramon arremessou o pedaço de cerâmica na minha direção.

— AGORA! – gritou o demônio.

O Bruxo ergueu a mão e uma forma invisível, a mesma que arremessou o Ramon contra a parede, atingiu a cerâmica, dando um impulso para que ele acelerasse o caminho em direção ao alvo: a testa do assassino.

Quase perdi o fôlego, com medo daquilo me atingir sem querer.

Senti um jato de sangue na minha cara, então mantive os olhos fechados para que nada caísse nos meus olhos.

Pouco depois, senti a pressão em meus pulsos acabar.

Ainda estava de olhos fechados quando Ramon correu até mim e me ajudou a levantar, me abraçando forte e parecendo aliviado por nada de ruim ter acontecido comigo. Não era bem a atitude de um demônio, ele me abraçava como se fosse esmagar meus ossos e a respiração acelerada era algo novo para mim.

Ele realmente estava preocupado comigo.

Quando percebeu que eu mantinha os olhos fechados, tirou a camisa e arrastou o pano no meu rosto até tirar o máximo do sangue que podia.

Ao abrir os olhos, vi o Bruxo próximo de nós.

— É, acho que não teremos poção desta vez. – Ele jogou o frasco no chão, depois olhou para nós com um meio sorriso culpado. – Sinto muito, Vinícius.

— Tá tudo bem. Foi um pouco mais de aventura do que eu esperava, mas que bom que vocês trabalharam juntos no final.

— Eu conseguiria sozinho, mas, é, foi bom ter ajuda. – respondeu Ramon, aproximando-se do Bruxo e estendendo a mão.

Fiquei tenso quando o Bruxo recuou.

— Ainda não confio em demônios.

— Faz bem. – Disse Ramon, afastando-se. – Além disso, da próxima vez que tentar fazer algo assim com o meu namorado, pode apostar que magia alguma vai te salvar de mim.

Namorado???

Quase engasguei quando ouvi aquilo, ainda mais porque, levando em conta tudo o que havia acontecido — principalmente o corpo próximo da gente —, não esperava que Ramon dissesse algo assim.

— Desculpem. – Continuou o Bruxo. – Espero que aproveitem o resto da noite, antes de terem que pegar o portal de volta pro além.

Ele estalou os dedos e um portal se abriu do outro lado da sala.

Ramon sorriu, satisfeito por ter afastado aquele homem da gente, mas corri até o Bruxo antes que ele fosse embora. 

— Espera.

Coloquei a mão sobre o seu ombro e o olhei nos olhos.

Ele ajeitou a gola da camisa. Estava um pouco desgrenhado por conta da luta, com o cabelo bagunçado e a camisa manchada. Havia recebido um soco no queixo e mesmo assim estava de cabeça erguida.

— O que quer que eu diga para ele?

— Como?

— O Jonathan – completei. – Sinto que ele era uma boa pessoa, então com certeza deve estar no céu. Posso procurá-lo quando voltar pra casa e falar sobre você.

Ouvi um barulho estranho na janela da sala. Lá fora, um corvo bicava a janela, agitado. O mesmo corvo de quando entramos na residência.

O Bruxo estalou os dedos, fazendo a janela abrir-se. O animal voou para perto dele, pousando em seu ombro e enfim se acalmando um pouco.

— Diga a ele que vou cuidar do Alef.

— Alef? O corvo? Quer dizer que esse pássaro... Era dele?

— Mais ou menos. É um animal mágico.

O bicho soltou um grunhido para mim, não sei bem se amigável.

Sorri para ele, depois aproximei minha mão das costas dele e arrisquei um carinho.

— Nesse caso, pode deixar. Vou falar para ele.

— Obrigado. – o Bruxo segurou minha mão. Ele ficou me observando durante um bom tempo, enquanto o portal atrás dele brilhava intensamente. – Seus olhos são diferentes dos dele, mas a alma parece a mesma. Duas pessoas bondosas. Talvez boas demais para este mundo.

— Ainda quero te ver no céu. – falei. – Não deixe a escuridão tomar conta, tá bem? Você merece ser feliz.

— Você até fala como ele... - o Bruxo tocou meu rosto, alisando minhas bochechas. Depois aproximou-se, deu um beijo na minha bochecha e se afastou alguns passos. — Nos vemos no próximo Halloween.

E dizendo isso, ele sumiu no portal. Me deixando com um Ramon que observou tudo de braços cruzados. 

As travessuras de Vinícius (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora