6. A delegacia

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— PRESOS POR ATENTADO AO PUDOR! – falei, irritado, andando de um lado para o outro naquela cela minúscula enquanto Ramon continuava deitado

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PRESOS POR ATENTADO AO PUDOR! – falei, irritado, andando de um lado para o outro naquela cela minúscula enquanto Ramon continuava deitado. – Não era o que eu esperava do meu único dia na Terra.

— Não fique irritado, anjinho. Logo tiram a gente daqui.

— Isso se não ficarmos tempo demais, perdermos o portal e virarmos almas penadas vagando por aí!

— Olha, por mais que eu ache uma gracinha quando você fica irritado, tente se acalmar um pouco. Relaxe!

Ele falava isso como se fosse algo corriqueiro, como se já tivesse feito aquilo inúmeras vezes e estivesse no controle da situação.

Quanto a mim, só conseguia pensar nas coisas que eu perderia.

— Queria participar de uma festa de Halloween. – falei, me escorando nas grades e me afundando em culpa. – Te falei isso quando estávamos no portão, eu só queria... Sei lá, me divertir!

— Eu te levei para uma festa, a gente já se divertiu. Ou vai dizer que não gostou de tudo o que fizemos no carro?

Ramon percebeu o meu mal-estar, por isso levantou-se e veio me abraçar por trás, beijando meu pescoço e massageando meus ombros.

— Pare com isso, vai colocar a gente em mais problemas. - resmunguei. 

— Não gosto de te ver assim, anjinho. Se quiser, eu assumo o B.O. e te tiro daqui.

— Isso não seria certo.

— Me chupar no meio da rodovia também, mas você conseguiu engolir aquilo.

Dei um tapa no ombro dele, arrancando uma risada do demônio e chamando a atenção dos guardas, que começaram a nos observar e vigiar.

— É melhor a gente não incomodar nenhum deles agora. Parecem um monte de feras prontas pro abate.

— Tá com medinho, é? Esqueceu que estamos mortos?

— Estou aqui para aproveitar os prazeres da vida, não ser socado por homofóbicos armados.

Me sentei num canto da cela enquanto Ramon usava seu charme para chamar a atenção de um dos guardas. Ele emanava aquela energia sexual que todo demônio possuía.

— Vou bater um papo com o capitão da polícia...

— Quis dizer "transar" com ele? – perguntei.

— Algum problema? Ou vai começar a bancar o ciumento agora?

Mordi o lábio, tentando esconder a minha irritação.

Ramon tinha esse dom de me deixar incomodado em qualquer situação. 

Por isso não queria transar com ele no começo.  Não dá para se confiar em um demônio.

— Faz o que achar melhor. Não me importo!

Cruzei os braços, encarando-o e esperando que ele tivesse coragem de fazer a sua "mágica" e seduzisse algum policial bem na minha frente.

Geralmente aquela minha cara de bravo não funcionaria, mas a expressão do rosto dele revelou hesitação. 

Ramon aproximou-se das grades e gritou por um dos guardas.

Acompanhei tudo, sem tirar os olhos dele.

— Oi, guarda gostosão.

— O que você quer, garoto? – perguntou o homem fardado, alto, de bigode mal-cuidado e um jeito sério.

— Quero fazer a minha ligação agora. Pode ser?

Fiquei intrigado. Queria saber para quem ele ligaria, mas Ramon apenas saiu da cela, algemado, e demorou bastante para voltar.

Suspirei, incomodado por saber que provavelmente meu amigo estava em algum canto, aproveitando os prazeres mundanos da vida humana, enquanto eu chupava o dedo. 

Não sei por que aquilo me irritava tanto, porque foi exatamente para isso que descemos para a Terra. 

Nunca tinha sentido ciúmes antes, jamais tive motivos para sentir isso, então a sensação de estar sendo deixado de lado me fez apertar os dedos no punho. Tive vontade de socar a cara daquele capetinha metido a besta. 

A minha raiva só não durou mais porque logo um sujeito alto, de terno preto e olhar suspeito aproximou-se da cela.

— Você é o tal de anjinho? – perguntou o sujeito.

Ele tinha uma áurea estranha. Sentia uma energia diferente nele, que me deu um certo receio de dizer quem eu era.

O rapaz estava bem-vestido. Era um homem alto, barba por fazer e olhos brilhantes que me observavam de cima a baixo, talvez analisando a minha alma ao invés daquela capa de carne e osso que eu vestia.

— Quem é você? – perguntei, receoso.

Ele levantou uma das sobrancelhas.

— Curioso, pensei que o apelido fosse uma ironia... Você não é um demônio, é? Não sinto cheiro de enxofre. 

— Não sei do que você está falando. – Desconversei. – Como os guardas te deixaram passar?

— Usei um feitiço para me livrar deles. – dizendo isso ele estalou os dedos e as grades da prisão se contorceram, afastando-se uma da outra como se fossem feitas de elástico, até ficarem no comprimento perfeito para que eu atravessasse.

Me afastei, às pressas.

Sim, sabia que magia existia e que bruxos e feiticeiros eram reais, mas jamais estive tão perto de um .

— Venha, não temos o dia todo.

— Quem é você? – repeti a pergunta, sem ousar chegar perto daquele sujeito.

— Pode me chamar de O Bruxo. Ramon pediu para tirar você daqui.

— E onde ele está?

— Isso já não é comigo. – Ele estendeu a mão para que eu viesse com ele. – Ande, não tenho o dia inteiro, garoto.

— Não sou nenhum "garoto". – respondi, ignorando a mão dele e saindo da cela por conta própria. – Tenho idade para ser o seu bisavô!

Ele sorriu, gostando um pouco daquela minha mudança de atitude.

Depois que passei pelas grades, o Bruxo estalou os dedos novamente para que o metal voltasse ao lugar. Ele estendeu o braço e um portal nasceu bem na nossa frente — era em círculo prateado que cresceu e mostrou uma espécie de janela para um outro lugar. 

— Uau. – falei, surpreso. – Isso é mesmo magia?

— Você é engraçado... – Ele disse, segurando meu pulso e me levando para o portal. – Vem, fui encarregado de te levar a uma festa de Halloween.

As travessuras de Vinícius (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora