10. A verdade

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— AÍ ESTÁ VOCÊ! – disse o Bruxo, me alcançando entre a aglomeração de criaturas mágicas e arrumando o meu cabelo, com um leve afago

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AÍ ESTÁ VOCÊ! – disse o Bruxo, me alcançando entre a aglomeração de criaturas mágicas e arrumando o meu cabelo, com um leve afago.

Havia acabado de ser levado pela fada de volta ao solo. Estava desarrumado e um pouco triste porque meu dia na Terra estava quase no fim.

O pior, era que agora não conseguia parar de pensar no Ramon e em como reencontrá-lo.

— Se divertiu? – ele perguntou, chegando perto e me dando um selinho. – O dia está acabando, tem certeza de que não prefere continuar na festa?

— Estou bem. Acho que curti o suficiente. Agora só quero te ajudar com a poção e depois procurar o Ramon para voltarmos pra casa.

— Neste caso, seu pedido é uma ordem!

Ele estalou os dedos, fazendo um portal prateado surgir novamente à nossa frente.

A fada, um pouco mais distante de nós, piscou para mim e acenou como despedida. Retribui o gesto, agradecido pela conversa que tivemos.

— Vamos pra onde? – perguntei.

— Buscar confusão, é claro.

Sua frase me assustou um pouco. Levantei uma sobrancelha e hesitei entrar no portal.

No fim, dei de ombros. Não me importava em ficar no meio de alguma bagunça porque era exatamente o tipo de lugar onde poderia encontrar o Ramon.

Precisava conversar com aquele demônio, dizer o que sentia e as dúvidas que começavam a me corroer.

Será que os meus sentimentos eram reais ou fruto da minha descida à Terra? Fazia tanto tempo que não me sentia atraído por alguém, que não tinha certeza se estava interpretando as coisas da maneira certa...

— Espera. – falei, assim que deixei o portal. – Conheço esse lugar!

Um corvo preto passou por nós, quase me atacando, e pousou próximo à casa do outro lado da rua.

Reconheci a caixa de correio e o gramado malcuidado. Aquela era a casa onde despertei mais cedo, o lugar onde os dois jovens foram assassinados para que Ramon e eu tivéssemos um corpo.

Me virei para o Bruxo, buscando uma explicação.

— Vem, devem estar nos esperando.

— Quem?

Não tive uma resposta.

Continuei caminhando próximo dele enquanto o corvo parecia ficar mais agitado, incomodado com algo. O animal parecia ameaçador, fazendo barulhos irritantes conforme nos aproximávamos da casa.

O Bruxo ignorou o pássaro e caminhou para dentro da residência, fechando a porta atrás de nós.

— O que está acontecendo? – perguntei, confuso. – Por que estamos nessa casa?

Ele estalou os dedos para que as luzes se acendessem.

Estava evidente que tentava me esconder algo, mas quando a lareira da sala de estar acendeu, pude ver um pentagrama pintado num tapete desbotado.

— Antigamente eu invocava demônios para absorver o poder deles. – Contou. – Foi como te falei, queria ser o feiticeiro mais poderoso do mundo e, como todo jovem babaca, não media as consequências das minhas ações.

— O que isso tem a ver com a sua poção? – perguntei, incomodado com aquele ambiente mórbido.

— Um dos que absorvi foi o Ramon. Aprisionei ele durante alguns anos até perceber que não precisava disso para ser poderoso. Então libertei todos os demônios que aprisionei...

Ele estava sério e evitava me olhar nos olhos enquanto encarava o fogo da lareira.

— Deve ter sido um erro, porque muitos deles voltaram para tentar se vingar de mim. Com exceção do Ramon.

As peças começavam a se encaixar. Isso significava que os dois já se conheciam antes e que foi por isso que meu amigo recorreu ao Bruxo quando estávamos presos.

Mas o que aquela casa tinha a ver com tudo isso?

— Então, hoje, recebi uma ligação com uma notícia terrível e um pedido nada singelo do Ramon. No início, recusei tirar vocês dois da cadeia, então ele me contou tudo o que aconteceu nesta casa.

— Espera. – falei, vendo os olhos dele se enxerem de lágrimas.

Minha mente voltou para o que houve na delegacia. A expressão dele antes de me ver era de uma seriedade assustadora. Isso antes dos seus olhos encontrarem os meus e um leve sorriso aparecesse.

— Você conhecia esse garoto. – falei, aterrorizado. – Ele era...

— Sim, ele era o Jonathan, meu ex-namorado. E, graças ao seu amiguinho, você entrou no corpo dele.

— Ai, meu Deus...

Ouvi um estalo no assoalho.

O fogo da lareira aumentou, o círculo do pentagrama brilhou e, bem no centro dele, surgiu Ramon. E ele segurava um homem pelo pescoço, enquanto com a mão livre esfregava a orelha.

Qualé! – ele disse, incomodado. – Falei para não dizer o nome desse cara perto de mim. Para um demônio, isso dá MUITO azar.

Ramon jogou o homem na direção do Bruxo. O pobrezinho caiu aos pés do mais alto, que o observou com um misto de repulsa e tristeza.

— Desculpem o atraso, mas cá estou eu. – Continuou Ramon, abandonando o círculo do pentagrama. – Sentiu minha falta, anjinho?

As travessuras de Vinícius (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora