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Toda quarta-feira, a equipe de chefes de departamentos do St. Mary's General Hospital se encontrava para uma reunião que era uma exigência de Miranda, a diretora do hospital. Os cirurgiões eram os primeiros a reclamar do encontro semanal, que na concepção da maioria das pessoas poderia ser um e-mail, mas a chefe exigia que eles mantivessem o contato humano, a troca de olhares, porque segundo ela, aquilo estimularia a empatia. Os clínicos não ligavam, no geral, contanto que sua escala casasse com a reunião. Se não casasse, não havia negociação, aquele seria um dia com algumas horas extras e um pouco de satisfação.

A próxima cirurgia de Frank Iero estava marcada para dali a uma hora e meia - ele preferia estar deitado na sala de descanso dos médicos ouvindo seu álbum favorito dos Misfits enquanto ficava entre dormir e acordar, e sair correndo no limite do horário para o centro cirúrgico. Repassaria os processos com a ajuda de Astrid, a jovem estrela que era sua médica assistente, trocaria algumas palavras com o paciente, e começaria a cirurgia.

Frank tinha escolhido a ortopedia porque sempre foi movido pelo desejo de consertar as coisas, de fazer as coisas quebradas - como ossos - ficarem inteiras novamente. Na ortopedia, tinha contato com coisas horríveis, como acidentes, por exemplo, mas a maioria dos procedimentos que fazia era simples como cirurgias do menisco ou procedimentos para colar de volta braços quebrados. Sua cirurgia para aquela manhã, no entanto, era uma prótese de quadril, mais complexa e que levaria algumas horas de seu dia. Não havia nada para a tarde, pelo menos por enquanto. Ele rezava para que pudesse sair daquele plantão e ir direto para sua casa passar a tarde inteira de pijama no sofá com Lois e Soup, suas cachorras, assistindo Breaking Bad enquanto dormia e acordava no sofá sem se preocupar com nada.

Mas o dia de um médico nunca é previsível, especialmente quando este médico é o chefe do departamento de ortopedia, porque além de realizar cirurgias, havia processos burocráticos dos quais ele precisaria cuidar. Sorte que ele tinha Astrid, a melhor médica de sua equipe, um verdadeiro prodígio, em quem ele confiava até sua própria vida.

"Ela sempre marca com a gente um horário e chega dez minutos depois - sempre", Frank falou quando não viu Miranda, segurando a porta da sala de reuniões para que Astrid passasse antes dele. A sala estava cheia e depois de dar um cumprimento geral para os médicos do recinto, Frank e Astrid foram se sentar no sofá que ficava próximo à janela, seu lugar de sempre.

"Estou atrasada, né? Me perdoem", a voz de Miranda ecoou pela sala, calando o burburinho das pessoas conversando e fazendo-as lançarem os olhares para ela. "Hoje vai ser rápido, eu prometo. Sem dinâmicas e jogos de integração", disse rindo desconfortável. Miranda ajeitou seu jaleco e respirou fundo para se recompor.

"Se vai ser rápido, podia não ser, né?" Frank sussurrou para Astrid, que conteve uma risada cobrindo a boca com a mão.

"E ela vai perder a chance de exibir todo o conhecimento que adquiriu? E como vai provar para o conselho que tá massacrando a gente com essas informações inúteis? A gente devia estar se preparando pra prótese de quadril, não esperando", Astrid respondeu Frank, um pouco irritada, mas ainda mantendo seu tom baixo.

"Frank? Astrid? Vocês querem falar alguma coisa?", a chefe cortou Frank antes que ele pudesse responder sua parceira.

"Não, Miranda", ele respondeu.

"Ótimo. Vou prosseguir. Hoje nós temos duas pessoas novas chegando para compor nossa equipe", Miranda falava, gesticulando para que as duas pessoas que estavam no canto da sala se aproximassem. "Esse aqui é o Dr. Ville Valo, que vem pra assumir a pediatria no lugar da Dra. Charlotte Muller e esse é o Dr. Gerard Way, o novo chefe de oncologia."

Os dois homens deviam estar conversando mais por conveniência e por serem novos no lugar do que por real afinidade e estavam ambos extremamente desconfortáveis com apresentação formal. Ville batia o pé em um ritmo frenético porque devia estar ansioso e Gerard enfiava as mãos nos bolsos do jaleco como se pudesse se esconder ali. Frank achou aquilo gracioso. O tempo em que Gerard passou na frente, esperando que Miranda terminasse sua apresentação foi suficiente para que Frank ficasse hipnotizado por uma sensação de familiaridade. Ele já tinha visto aquele homem antes, com certeza.

Gays Anatomy [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora