Gays Anatomy [FRERARD]

DOZE

A culpa não era de Ville se Gerard era um ser humano adorável. Desde o primeiro instante em que pôs os olhos nele, viu o potencial de viverem um grande romance. Gerard foi gentil com ele desde o primeiro segundo e viu que havia abertura para amizade ali e depois, até mais. Ville não contava, porém, com o baixinho chato da ortopedia e o quanto ele ia tirar Gerard do seu caminho.

Mas tudo bem. Ele prometeu a si mesmo que ia trabalhar para o fim daquele relacionamento das formas mais éticas possíveis (ok, as vezes não tão éticas) e ia ter seu final feliz com Gerard. Era claro que ele queria ser considerado à promoção para a vaga de Miranda, mas jamais magoaria Gerard com aquilo como Frank fez.

Gerard disse que ia passar o fim de semana com o irmão, mas que tipo de pessoa some assim? Ele sabia que estava ficando paranóico, mas não era por menos. Frank seguia Gerard como um carrapato, não deixava ele em paz. E por mais que tentasse pensar o contrário, Ville sentia que Gerard era distante e frio com ele, quase impaciente - mas ele tentava se dizer que era só o jeito de Way.

Mas ele sumiu no fim de semana.

E também tinha o paciente que ele dividia com Frank.

Ville sabia que não deveria ficar neurótico com isso, mas... E se Frank usasse dos mesmos artifícios que ele? Afinal de contas, trabalhar em conjunto era algo que acontecia o tempo inteiro - ele mesmo iria se ver obrigado a trabalhar com Frank mais cedo ou mais tarde. Mas a vantagem que Iero tinha em relação a ele com Gerard, era a existência de um (breve) histórico. Poxa, Frank, pena que tinha sido um puta de um cuzão. Okay, nisso Ville tinha vantagem.

Na quarta-feira, Miranda finalmente anunciaria seu sucessor e Ville esperava que fosse o escolhido, mas até lá, ele teria que engolir a reunião de Frank e Gerard na segunda-feira - que Gerard não tinha comentado, mas ele ficou sabendo por Jack, que sabia de tudo.

Mas talvez fosse só paranoia.

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"Bom dia, Gerard. Você queria me ver?", Miranda questionava o oncologista enquanto ele entrava em sua sala. Ainda não tinha certeza de que estava fazendo o correto, mas estava em paz com sua decisão. Seus passos eram hesitantes enquanto ele caminhava para se sentar à frente da mesa da chefe.

"Sim, doutora, precisava conversar com você", disse, ajeitando o jaleco ao que ia se sentando na poltrona à frente da mulher. Correu a mão pela barba porque estava nervoso.

"Pode falar."

"Eu...", cruzou suas mãos, os polegares se tocando irrequietos. "Eu quero retirar minha candidatura." Ao que ele ia falando as palavras, elas soavam irreais para si. No segundo em que verbalizou a decisão, arrependeu-se. Talvez não por completo, mas ainda assim não parecia algo tão lúcido.

Gerard e Mikey passaram muito tempo discutindo sobre aquilo no fim de semana e a visão do irmão fez com que Gerard fosse, aos poucos, reencontrando o seu eixo. Ele não estava ali para dirigir um hospital. Até porque, se essa fosse realmente sua vontade, ele poderia ter permanecido em Los Angeles, mexido uns pauzinhos e falado com algumas pessoas e pronto, feito, seria diretor de um hospital. Mas não. Ele queria paz. Ele queria começar de novo em lugar onde as pessoas não sabiam seu nome..

A percepção constante de que só se vive uma vez vinha batendo mais forte à sua porta nos últimos anos e ele sabia que tinha a chance ainda de viver outras vidas dentro daquela. E era isso que ele buscava.

"Por que?", Miranda questionou incrédula. "Por que isso agora?"

Ele podia entrar num debate filosófico, questionando o ponto de sua existência e como aquilo o afastava de seu propósito, mas não ia seguir essa linha, então apenas suspirou.