TREZE

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O celular de Gerard vibrava sobre a mesa. Ele tinha certeza que tinha deixado o aparelho no modo silencioso, mas aparentemente não, tinha sido burro o suficiente para esquecer. Aliás, essa não era a primeira burrice que faria naquele dia, de qualquer forma.

"Alô?", Gerard atendeu ao celular.

"Hey, baby. Estou te esperando aqui no estacionamento", era Ville. Adicione isso para a lista, Gerard: você esqueceu do jantar. Merda. Em questão de segundos, Gerard roeu as unhas e foi e voltou à porta umas três vezes. Não só tinha esquecido do jantar como a barra de sua camisa endurecida, com o seu próprio gozo, era um lembrete que ele tinha esquecido de Ville mesmo.

"Oi, Ville. Você tá bem?", tentou ganhar tempo, enquanto pensava nas suas opções: largaria tudo para ir jantar com Ville (o plano inicial), daria qualquer desculpa para Ville e para Frank (o que deveria fazer), dispensava Ville para jantar com Frank (o que tinha vontade).

Ville parecia impaciente - e estava. Gerard sabia que precisava sair para jantar com ele para alinhar suas expectativas em relação àquele relacionamento. O ideal era terminar, pôr um ponto final. Gerard jamais daria a Ville o que ele buscava porque Frank ainda ocupava muito sua mente e ele simplesmente não queria.

"Eu estou completamente atolado de trabalho aqui", Gerard começou, mexendo nos prontuários para fazer barulho de papel ao telefone e ilustrar sua fala. "Achei que fossem seis horas ainda, me perdi no horário até," suspirou.

"Você acha que vai demorar muito? Posso te esperar no carro se quiser", Ville insistia.

"Perdão, mas acho que sim, Ville. Um paciente vai começar um novo protocolo amanhã e eu quero me certificar de que estamos tomando a decisão correta." Aquele era o artifício mais antigo do mundo - usar trabalho para escapar de um encontro indesejado.

"Oh, tudo bem. Então amanhã?"

"Okay, amanhã. Combinado. Desculpa novamente", Gerard dizia, lamentando. Era mentira, mas pelo menos para alguma coisa as aulas de teatro do ensino médio tinham servido. "Sem falta", ele dizia mais para si mesmo, porque deveria reunir a coragem e terminar com o pediatra. E não importa quem termina, fins são sempre horríveis.

"Tudo bem. Tchau", Ville se despediu e Gerard viu o horário. Eram oito e quinze, ou seja, faziam quinze minutos que ele deveria estar na casa de Frank caso ainda fosse. Ou ele saía voando do hospital, ou dava uma desculpa para Frank e declinava o convite.

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"Desculpe o atraso, estou a caminho", dizia a mensagem de Gerard que Frank lia em seu celular. Já eram oito e meia e ele estava atrasado, mas Frank - que achava que tinha tomado um fora - , não estava chateado, ele estava feliz, então sorriu.

"Eu sei que falei muito mal do Gerard pra vocês, mas vocês se comportem, okay?", Frank falava para Soup e Lois enquanto mexia o risoto com toda paciência do mundo, aliviado de não ter que comer o prato sozinho.

As duas cachorras estavam sentadas no chão, ao seu lado, a cabeça esticada e o olhar atento para Frank - só esperando que ele lhes jogasse algum ingrediente, mas ele podia jurar que elas prestavam atenção ao que ele dizia. Ele tinha essa relação extremamente próxima com as duas - pensava nelas o dia inteiro e durante todo tempo que passava em casa, ficava com as duas. Onde ele ia, elas iam atrás.

O amor de Soup e Lois mostrava para Frank que uma boa relação se construía com ações, mais do que com palavras. Elas sabiam quando ele estava chateado e deitavam ao seu pé. Elas dormiam com ele toda noite, fazendo com que ele jamais se sentisse só. Elas latiam em resposta e ele podia jurar que conversava com elas - não era algo que ele dizia a todo mundo porque só entenderia quem tinha animal, de qualquer forma. Mas ele sabia que adotar as duas tinha sido a melhor coisa que ele fez em sua vida inteira, porque todo dia aprendia um pouco mais com elas. Principalmente sobre entrega.

Gays Anatomy [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora