QUATRO

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A verdade é que Frank foi simplesmente atropelado pelo tempo, aquele fenômeno que acontece quando você bate o olho no calendário e já faltam poucos dias para o fim do mês, e se pergunta: Meu deus, como assim é dia 20?

Foi assim que ele se deu conta que já estava saindo com Gerard há pouco mais de um mês - nenhum dos dois pensou muito sobre a data, na verdade. Até porque, com a rotina absurdamente densa e corrida, não haveria tempo. Todo e qualquer tempo que tinham era para se esgueirar juntos em uma das salas de conforto ou sair para tomar uma cerveja ao fim de um plantão longo no Anchor.

Não era a hora ainda de tornar o relacionamento deles público. Por mais que Gerard não tivesse nada a perder, ele não queria chamar atenção. Àquela altura ele já começava a saber sobre a dinâmica das relações entre as pessoas - os grupinhos, os joguinhos- e ele chegava sempre à mesma conclusão: há poucas diferenças entre um jardim de infância e um hospital.

Frank por outro lado, tinha seus motivos para querer esconder o relacionamento dos dois, o principal sendo o fantasma do Dr. Brian Molko, seu ex, que ainda pairava pelo hospital. As pessoas sempre achariam que era cedo demais para Frank se envolver com alguém. Não que ele se importasse com o que pensavam, mas ele queria preservar Gerard. E também porque ele não sabia exatamente em qual direção estavam indo com aquele romance.

De qualquer forma, a preservação não durou muito porque logo foram descobertos por Astrid - que tinha feito estágio nos livros de Agatha Christie e podia resolver qualquer mistério, principalmente se fosse um mistério patético como aquele.

"Frank, você pode tentar esconder de todo mundo, menos de mim", ela disse baixo, virando o rosto para o lado enquanto pegava uma maçã no buffet. Frank ia logo à sua frente na fila e gelou com o comentário. Sem dizer muito mais e sem deixar Frank comentar, Astrid foi se sentar na mesa favorita dos dois.

Frank e Astrid viviam tão juntos que às vezes as pessoas até confundiam seus nomes e ficavam confusas quando viam os dois separados. Uma vez ouviram que era como se estivessem pelados quando não estavam juntos. Mas nos últimos tempos, aquilo estava acontecendo com certa frequência porque o Dr. Iero queria praticar outras coisas além de medicina com o Dr. Way e essa pesquisa não incluía Astrid.

Foi identificação à primeira vista - quando a viu na turma de internos, Frank escolheu Astrid e ela praticamente não teve escolha para sua residência. E assim eles iam há anos - Frank preparava a médica para substituí-lo no futuro, quando ele assumisse a direção do hospital no lugar de Miranda. Esse era seu plano, era tudo muito claro em sua cabeça e em como uma reabilitação de uma perna quebrada, a jornada era longa, mas cada passo deveria ser dado para vir um segundo e assim em diante.

"Eu sei o que tá rolando, Frank", disse Astrid, abrindo a tampa do café para despejar o açúcar e o leite.

"O que você sabe?", perguntou dissimulado, como se realmente não fizesse ideia do que ela estava falando.

"Você e o Dr. Way. Tá óbvio e não sou só eu que sei... Na verdade, eu já desconfiava, mas aí o fofoqueiro do Jack veio perguntar pra mim", ela revirou seus olhos. "Você sabe, mais para confirmar do que qualquer coisa..."

"Jack da pediatria?"

"Ele mesmo."

"Por que ele iria querer saber da minha vida?", Frank indagou, desembalando a maçã que estava envolvida em um plástico filme. Astrid deu de ombros enquanto bebia seu café. "E o que você falou?", mordeu a maçã.

"Falei que não sabia de nada. Ele não acreditou, é claro."

"Foda-se", Frank falou casualmente, dando de ombros.

Gays Anatomy [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora