Jardim de infância

1.6K 233 59
                                    


O jardim de infância era o lugar favorito dos gêmeos — depois da casa do tio Kenma, com seus vídeo games e o baú de doces —, era a parte do dia em que passavam com seus amigos e professores.

Onde podiam brincar na caixa de areia e pular do topo do escorrega. Até mesmo as aulas eram divertidas.

Isso até dois dias atrás, quando eles ainda estudavam juntos na mesma sala.

Hayato e Hikaru eram verdadeiros anjinhos, acreditem. Contudo seus professores não concordavam muito com aquilo.

Não quando eles fingiam ser um ao outro para enganar os estagiários, ou quando pintaram uma colega de classe de azul.

Era difícil para Keiji e Koutarou reconhecer que seus filhos eram a causa do aposentamento precoce das professoras. Depois de muitas idas a diretoria por traquinagem de seus bebês, eles entraram em um acordo com a escola; separando os dois.

Enquanto Hayato participava das aulas da turma cordeirinhos, Hikari foi para outros pastos, ficando na sala dos gafanhotos. O que era um grande passo para ele, sendo transferido para a sala dos alunos dotados. Aos cinco anos, o garoto já lia e compreendia textos longos, assim como sabia não apenas escrever seu nome, mas também o de seu irmão e seus pais.

Tanto Keji quanto Koutarou concordaram que aquela seria uma ótima mudança de ambiente, teriam a chance de fazer novos amigos e aprender mais. E claro, sem mais ligações durante o dia para avisá-los que outro estudante ficou atolado na caixa de areia.

Todavia, ninguém pediu a opinião dos envolvidos. Hayato e Hikari não estavam nem um pouco felizes com aquilo.

Então o mau humor infantil acabou virando rotina ao amanhecer. Sempre com eles resmungando sobre não querer ir para a escola e choro aqui e ali.

Keiji estava terminando de colocar o uniforme de Hikari, quando viu as lágrimas em suas bochechas rosadas. Ele suspirou, pegando o garotinho nos braços, sentando com ele no sofá.

— É pro bem de vocês, querido — disse. Não podia dizer claramente que aquela era a última opção, ou eles seriam expulsos de uma boa escolha.

— Eu não gosto daquela sala, eu fico sozinho e tem muita tarefa. Minhas mãos ficam doendo. — Ele levantou as mãos, mostrando ao pai, como se Keiji pudesse ver ali todo seu esforço durante as aulas. — Eu quero ficar com o Hayato.

— Mas vocês ficam juntos o tempo todo em casa, e podem se encontrar nos intervalos.

— Não é a mesma coisa.

Keiji abriu a boca, porém foi interrompido pelo grito de seu marido chamando por ele.

— Tô na sala! — respondeu, esperando. E logo Koutarou apareceu no cômodo, completamente molhado. Keiji segurou a risada. — O que aconteceu?

— Eu tava dando banho no Hayato, e conversei com ele sobre a escola, como a gente planejou. Mas ele se irritou e jogou água em mim enquanto gritava que odiava a escola e todo mundo. Eu tô no mundo, então ele me odeia também. Eu sou um péssimo pai. — Keiji notou os sinais do modo depressivo do seu marido se aproximando, então levantou-se, indo até ele. Afastou o cabelo molhado de sua testa, deixando um beijinho ali.

— Você é um pai maravilhoso, meu amor. Ele só tá irritado com a mudança. — Esfregou os braços de Koutarou, deixando outro beijo em sua bochecha. — Eu vou lá falar com ele, vá se trocar.

Keiji seguiu para o banheiro, enquanto Koutarou buscava roupas secas. O caminho até o banheiro estava repleto de pegadas molhadas graças a ele. Keiji esquivou delas, encontrando o filho sentado no chão em sua banheira infantil.

Hayato, que olhava para a porta esperando seu pai voltar, virou o rosto ao ver que se tratava de seu outro pai. Com Koutarou, as coisas eram mais fáceis, ele sabia que não ficaria de castigo se o problema fosse resolvido sob a supervisão dele. No entanto, tudo mudava quando se tratava de Keiji.

Começando pelo seu olhar pesado e voz grave ao falar.

— Você deve desculpas ao seu pai.

Hayato nada falou, seu dedo se movendo para frente e para trás no fundo da banheira. Keiji suspirou, andando até ele, agachando ao seu lado.

— Sei que está irritado, mas não foi legal o que você fez com o seu pai, ele ficou muito triste.

— Ele chorou? — O garotinho enfim olhou para ele.

— Muito. — Keiji exagerou, porém não era como se as lágrimas de Koutarou fossem uma mentira. Como previu, o garotinho se sensibilizou, ameaçando sair da banheira, mas desistiu, evitando olhar para o pai.

Keiji levantou, pegando sua toalha sobre a tampa do vaso sanitário, abrindo-a de frente ao corpo. Hayato entendeu o recado, levantando e indo até ele, sendo abraçado tanto pela toalha quanto por seu pai.

Depois de ter o corpo completamente enxugado, Keiji começou a separar seu uniforme. Foi quanto o rosto do garotinho se transformou em uma carranca novamente.

— Eu ainda preciso ir para a escola?

— Depois do que você fez? É claro.

Hayato jogou a cabeça pra trás, soltando suas frustrações.

— Deixa de show, Xuxa. — Keiji o ajudou a vestir a cueca, assim como o calção azul do uniforme e a blusa branca. Pegando a toalha uma última vez para secar seu cabelo. — Vá calçar seus sapatos.

Batendo pé no chão e completamente amuado, Hayato saiu do banheiro, fazendo o que lhe foi mandado.

Depois de deixar o banheiro em ordem, Keiji saiu, voltando para sala. Encontrando seus bebês carrancudos, porém vestidos para mais um dia na escola. Estavam agarrados a perna do pai que, assim como Hayato e Hikari, tinha uma expressão chorosa no rosto.

Keiji cruzou os braços, arqueando as sobrancelhas. Ele esperou. Koutarou foi o primeiro a falar.

— Eles precisam mesmo ir?

— A gente promete se comportar, Ji. Deixa a gente ficar — disse Hayato, ao que Hikari expressava suas súplicas com os olhinhos brilhantes.

Keiji não cedeu, permanecendo da mesma forma.

Koutarou suspirou, entendendo que aquela luta estava perdida. Abaixou-se, abraçando os ombros dos filhos.

— Foi mal, Bubos, eu tentei.

Keiji descruzou os braços, apontando com a mão direita na direção da porta. O recado foi muito bem entendido, Koutarou e os garotos saíram de casa, seguindo para a escola. 

Baby OwlOnde histórias criam vida. Descubra agora