Das Angústias do Mar Negro

Capítulo 1

  Era um dia incomum na vida de Apollo , mesmo que tenta-se se convencer do contrário sabia que o Mar Negro o destruiria , mas por que ? Ninguém nunca comentou , era um medo inconstante e de uma caricatura impressionante daquelas águas desconhecidas . Já era manhã e o Sol entrepassava as cortinas e faziam cintilar seus cabelos de castanhos avermelhados , com saudosos fios de ouro .

Suas malas estavam prontas a tanto tempo que agora eram mais vistas como um guarda roupa do que propriamente malas para viagem ,espalhadas pelo chão do quarto . Cidadezinha costeira , com casas que cresciam regradas na vertical como uma grande pintura de um artista do período escravagista no brasil , tinha visão para o porto onde mares de telhado se estendiam, onde os musgos cobriam os mesmos em virtude das decorrentes chuvas que ali sucediam , chuvas secas que não serviam nem para refrescar as almas fervorosas dos adoradores da cidade

Apollo abriu seus olhos , colocou as mãos no rosto tentando juntar forças para finalmente ir para o grande Mar , custoso , levantou-se e olhou pela janela e viu o imenso mar que sempre o chamará desde de sua primária infância . Não precisava de hora marcada , sabia como todos , que o mensageiro estaria a sua espera .

Desceu as escadas da casa , escada tão íngreme que depois dos 40 anos , os pais tiveram que se transferir para o térreo .

—bom dia , mãe - falou ele meio pavoroso e meio custoso , fazendo-se soar uma brisa entre as duas palavras .

—bom dia , garoto , se você estiver acovardado ainda há tempo de fugir . - cortava precisamente os vegetais e legumes para o almoço , era uma mulher de meia idade com expressões enrijecidas e de mãos firmes e caludas , seus cabelos já foram dourados , mas o tempo os sobrepujou .

—Parece que são vocês que nunca pisaram naqueles mares - apoiava-se no portal da cozinha , passava a mão no rosto , e tentava transparecer coragem , nada que um adolescente consiga fazer muito bem .

Olhava ao redor e via sua cozinha pequena com uns vidros altos em vez de janelas , estampado ali no portal que ligava a cozinha ao corredor , o rosto de cristo na cruz , como se o sofrimento dele proteje-se a casa . O pai de Victor já estava sentado a mesa para tomar seu café , eram um senhor de cabelos já meio grisalhos e barbas bem aparadas, já brancas , tinha o olhar meio fechado devido ao trabalho durante a vida toda no sol da tarde , lia o jornal como é habitual depois de um tempo quando já não se pode sair para verificar as noticias por si mesmo .

-sente-se Apollo , sua mãe já vai servir o café .- falou enquanto olhava fixamente para as minúsculas letras .

-Sim , senhor .- disse quando puxava uma cadeira na ponta da mesa .

Apollo sentava-se de maneira um tanto quanto delicada , geralmente sentava-se da metade da cadeira para frente , tinha suas colunas bem eretas , era como se fantasia-se um membro de uma nobreza que nunca existirá , suas mãos eram compridas e magras , e o pomo de Adão era bem destacado , um nariz não muito discreto mas também não tão grande , traziam uma harmonia a face , que não era tão atraente para as pessoas , pelo menos não da cidade .

Todos comeram , tácitos . A convivência era tão pesarosa que a comida estava sendo engolida aos empurrões . Apollo sentia medo , medo do escuro ,mas se ele supera-se essa sombra que projetava na parede e chamava verdade , ele abriria novos horizontes e honraria o nome da família , coisa que ele já não consegue fazer desde que entrou nessa fase terrível , onde não se sabe mais onde está ou o que se é .

Era chegada a hora , e um mórbido vento tratou de entrar pelo alto vitrô , e percorreu na nuca de Apollo como se o beijasse , ele arrepiou da cabeça aos pés , e ficou estático olhando para seu café que refletia seu rosto de uma maneira temerosa . O pai com certa dificuldade trouxe todas as malas de Apollo para a cozinha que dava direto na rua . A mãe olhando o exagero já dizia: