Iris voltava por volta do horário onde iriam pro almoço , pois Apollo não deu as caras por lá , o corredor estava maior , como se separando a distância que as pessoas teriam de percorrer até um outro coração ; foi quando ele bateu no quarto de Apollo, estava claramente trancado mesmo com a porta aberta , então caminhou terrivelmente para seu quarto .
A primeira vista não enxergou muito além do comum , mas logo suspeitou que alguém tinha passado por ali , por simples instinto , quando olhou para a mesinha e viu esplendorosa sobre o terrível azul que entrepassava as janelas ... a carta ; Iris pegou a carta com delicadeza , e a colocou perto de seu peito , e caiu rente a parede , derramando mares de lágrimas , quando cessado , juntou toda coragem de seu ser para ler tamanha carta temendo por uma perda que não existia .
Seu olhar carregava um pesar , de épocas outras as quais não ainda existia Apollo , e não tardou como nunca tarda para aparecer a dama , a sua mesa , mas dessa vez a ignoraria , ele a olhou com um olhar de raiva , e seguiu para o quarto de Apollo , o mesmo estava jogado na cama como habitualmente , e as lágrimas marcaram suas faces ficou ali de pé encarando o ser , criando qualquer coragem que sempre colocavam em si para agir .
Mas , a coisa , era rápida , e chegou devagar perto de Iris ... e tomou-lhe a mão num gesto de prisão , eles sentaram ali ... E Iris , conversou novamente com seu passado , tão pouco explorado , e tão semelhante ao de Apollo .
-por que ...
-eu não posso devolver ... tudo o que eu levei de você , Iris .
-você ainda usa a aparência ... dela . - falou olhando para qualquer canto no chão pra disfarçar as lágrimas .
-você sempre foi ... um garoto terrível .
Iris , apoiava as mão na mesa e remoía , remoía tragicamente os acontecimentos , os quais não são relevados .
-você sabe ... que um dia vai ventar ...
-...
-saiba que eu ainda o amo , meu pequeno .
As palavras eram subjugadas pela temerosa atmosfera , Iris , esqueceu de fechar sua porta , e a atmosfera pesarosa , tratou de invadir o quarto de Apollo ,e apertar seu coração , o mesmo acordou ... abriu seus olhos lentamente , tão lentamente que seria difícil notar ... e encarou , aquela garota , ou garoto , um monstro ou qualquer coisa ... que sempre ficava no canto de seu quarto .
Queria ser feliz ... talvez , seria demais pedir alguma coisa assim estando em suas condições ... ele chorou ... profundamente , por dentro , mas aquelas lágrimas não eram de tristeza , eram de um inicio de uma redenção , iria se render , de si mesmo . Apollo sabia que o caminho era longo até que encontrasse a felicidade nas respirações , até que tirasse toda a pele adicional de seu rosto , que mascarava sua verdadeira face , que imaginava muito mais brilhante que essa que se dispunha ao mundo , mas e se não fosse .... se seu verdadeiro rosto fosse talvez mais temeroso , talvez mais triste ... talvez mais cruel .
Riscos , estava disposto a correr eles ... para voltar , para aquela estrada no campo onde ouvia os camponeses cantar alegremente , e onde abandonara si mesmo , perto de um fardo de feno , mas esperava que seu campo até lá fosse como os campos de Monet ... mas sabia que provavelmente ... e esperava que o céu estivesse terrivelmente transparente, para que ali onde se extende o firmamento , não tivesse sua visão corrompida ou enganada pelas nuvens , queria ver a forma do azul celeste , sobre a sombra de qualquer árvore , quando estivesse bem consigo mesmo , e talvez estivesse deitado com mais alguém ... só a ideia fazia-lhe corar a face .
Talvez , estivesse muito esperançoso de sair do navio , ainda suspeitava que era qualquer coisa sombria e fantasmagórica ; sua longa viagem , teve seu temeroso fim , quando o som de algo pesado caindo no quarto ao lado espantou seus devaneios . Apollo não teve dúvida , correria para o quarto de Iris , para ver uma trágica cena de uma obra expressionista e disforme .
Estava lá , apoiado na cadeira tentando se levantar , como qualquer drama descreve , e uma mulher passava pela porta do banheiro , e sumia tragicamente , Apollo se aproximou de Iris , que estava frágil , como uma flor , mesmo tendo ainda um corpo vigoroso .... apoiou-se em Apollo como apoiava na cadeira , e deixou-se ser levantado pelo mesmo , estava vulnerável , e umas gotas que escapavam a vigília de Apollo mostravam que também estava vulnerável .
Talvez , alguém lá fora ... convenceu-os que deveriam não ser vulneráveis , que deveriam criar cascas ... que não podiam tirar uma camada do passado , mas talvez vulnerabilidade seja uma dádiva , que nos permita pintar os mais fabulosos quadros em nossas vidas , e nos quadros ... as palavras são poucas , quando os mesmos descrevem a alma do compositor .
Eles ficaram ali , apoiados ... até que Iris tivesse força nas pernas para ficar de pé novamente , e então frente a frente a Apollo , ele colocou a mão em seu ombro e encarou-lhe profundamente , com um afeto que seria indiscritível , a face de Apollo era a mesma admirado , triste , extasiado ... a mensagem foi entendida ... mesmo que não houvesse palavras , quando Iris deixou a mão cair e encostou a cabeça , no cabelo de Apollo .
Era intranscritivel .... nessa hora talvez o silêncio superou a palavra , digo talvez ,pois o estou corrompendo a medida que o descrevo .
- tudo bem , pra você -disse cabisbaixo .
-sim ... - disse meio receoso .
-acho que estamos na mesmo - um leve sorriso apareceu na face de Iris .
-.... - um olhar pra cima e um sorriso fino e trágico .
Sabe , eles não se abraçaram , mas estavam com certeza abraçados ... o toque , é o último dos estágios numa relação humana , primeiro nos tocamos , nos cheiramos , de longe ... sentimos a pele com os olhos , o primeiro contato , é o da mente ... e talvez , seja ai que as coisas fiquem complicadas ... porque , podemos colocar tantas máscaras , que quando chegamos mais perto do coração , já não seja nada daquilo , e ai nos decepcionamos ..
- posso ?
-sim ...
Apollo , o abraçou e sentiu o calor e o frio de sua alma fatigada , e ouviu o galope de seu coração ... que parecia correr desnorteado pela vida , por mais que não falasse e se escondesse atras de qualquer rosto ou expressão seria , Apollo , agora sentia ... novamente , como na noite do baile , o cheiro ... o cheiro daquele que queria estar deitado junto nos campos olhando a grande forma do vazio , encarando o abismo , vendo Monet pintar ... mesmo que não fosse mais possível , tendo qualquer impressão ...
-Se tudo isso for criação , e se eu estiver vendo só um passado , se tudo for pinceladas rápidas sem contorno ou forma ... só impressões , você , Iris , é a impressão mais bela , e mais real que já tive .
-Sabe ... muito me custa , saber ter alguém , que eu faça correr as batidas do peito - e um pouco mais baixo - , e faça as minhas saltarem , eu , direi-te o mesmo , somos muito parecidos ... contarei a você Apollo ... se você for corajoso o suficiente ... para quando abrir os olhos , vir me encontrar .
-com certeza , eu irei ... minha impressão , tão detalhada , que tive que limpar os pinceis ... para fazer suas nuances .
Apollo , abriu os olhos , e se afastou aos poucos de Iris , virou-se e encontrou em seu quarto , onde deixou a porta um pouco mais aberta ... o outro , ficou ali parado mais um tempo , sentindo o cheiro do Sol em seu nariz cortês , depois deitou-se sorriu , e chorou , mas as lágrimas não eram geladas , eram aquelas lágrimas quentes que saltam aos olhos quando vemos alguma coisa emocionante... mas , não queremos chorar .
era como se tivesse lido , uma carta com uma palavra só ... estava em um misto de sensações , nunca outrora havia se sentido tão humano , belo quadro ... tão lúdico , tão real ; Do outro lado Apollo fazia o mesmo , hoje ... guardará espaço para deitar-se junto a sua sombra , que deixava transparecer a forma .
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Das Angústias do Mar Negro
Storie d'amoreApollo , é um jovem como qualquer outro , cheio de indecisões , e para honrar o nome de sua família decide ir para o grande Mar , mas não esperava que encontraria lá , uma verdadeira paixão , ou uma sombra .