Império

Lágrimas I

Império

Arco II — Lágrimas de Sangue

Lágrimas I — Oceano

Tóquio, Japão

09 de Abril de 2022

Uchiha Sasuke

O tempo passou lentamente. Quebrei aquilo que não deveria existir, meus inimigos, aqueles que tiraram a única coisa boa que tive em minha vida, todos sentiram o gosto amargo, provaram da vingança que planejei cuidadosamente.

— Sasuke...

Me inclino sobre a cadeira vermelha, o escritório amplo, o espaço pigmentado de um intenso rubro. Kakashi está sentado na cadeira a minha frente, hoje faz cinco anos desde a morte de meu pai, do sumiço misterioso de Ashura, esse sumiu após a destruição da mansão onde fui criado.

Seguro o cigarro entre os dedos, não o coloco na boca, fico vendo a fumaça subir, cobrindo o ambiente com o odor forte de nicotina. Havia parado de fumar, Hinata pediu encarecidamente para que ele parasse, pois Rei não gostava do cheiro forte que vinha da nicotina. Contudo, em momentos assim não conseguia controlar, o mau hábito rapidamente para em seus dedos, sua mente pedia por um calmante, para algo que diminuísse a agitação. Tão compulsivo que nem ao menos notava quando o fazia.

— Fugaku mereceu, tudo o que aconteceu com ele foi o seu carma. A sequência arrebatadora de "tragédias"... todas as vezes em que fiz aquilo com ele — comentei sem graça.

Era a primeira vez em anos que citava aquele homem, minha mente constantemente tentou apagar a desastrosa existência da minha cabeça, recordar do nosso passado me causava ânsia, uma forte vontade de vomitar. Criei aversão ao seu nome, trono e herança.

Pois para que ninguém mais sofresse, aceitei a mancha. O trono que ninguém ousou desejar, o único louco que tentou fez do oceano a sua morada final. Um descanso que ele jamais mereceu. 

Katrina. Minha dama.

Hinata. Minha rainha.

— Seu pai...

— Ele nunca foi um "pai", somente me criou... se bem que não posso chamar aquilo que ele fez comigo de criação, pois pai alguém tenta matar o próprio filho por ciúme e nem o destrói somente por se parecer com a mãe.

Tento quebrar a imagem criada, essa que sempre me associa ao meu homem que fez da minha vida um inferno, da mulher que me abandonou e do irmão que ignorou a minha existência durante uma vida.

A minha "família" nunca me escolheu. Fugaku queria um herdeiro, um ser tão maléfico e lascivo quanto ele. Mikoto deu a ele, Itachi, o filho perfeito, sem falhas! A máquina que ele sempre quis, tanto que o poliu e refinou quase que a perfeição. Isso até a única pessoa que ele amou dar a luz ao seu estorvo, a criança que ele nunca quis, mas que passou a aceitar quando a sua "perfeição" foi embora junto com a mãe.

Só deixando o indesejado, o filho imperfeito, o único na qual ele nunca quis passar o seu trono, o assento aveludado preto e ouro.

— Eles nunca foram a minha família de verdade, foram pessoas que só me aceitaram por não terem escolha. Mikoto nunca me amou, comprovei isso quatro anos atrás quando a vi pela última vez, o mesmo acontece com Itachi e seu egocentrismo. Coisas assim me enjoam.

Disse áspero, ignorando a cara feita por Kakashi.

— Se isso não te afeta, então porque está chorando?

— Kakashi sou o que para você? — perguntei abatido. Limpando as lágrimas, quentes e persistentes lágrimas.

— Você é meu amigo, uma pessoa querida, uma pessoa amada por Obito e por mim — respondeu sem hesitar, quase que mecanicamente.

— Oh, você foi rápido em responder. — Digo tragando o cigarro, destruindo os meus pulmões, entupindo lentamente as minhas veias. — Meu pai me chamou de puta quando eu perguntei isso a ele, minha mãe e irmão me deram respostas falhas, tão vazias quanto o meu coração em dias frios. 

— Sasuke aconteceu algo? — Perguntou preocupado. — Você não me chamaria aqui sem motivo, então me diga o que aconteceu.

— Um fantasma, um que foi entregue para o oceano.

— Ashura? — Kakashi me encarou assustado.

— Um desgraçado que não morre, um quer me ver chorar lágrimas de sangue novamente — murmurei choroso. — Hinata e Rei. Minha família, aquele desgraçado veio atrás delas.

— Sasuke...

— Um bilhete, tão intenso quanto sangue — disse pegando a carta escrita com uma marcante letra, essa pigmentada de vermelho. — Meu segundo maior inimigo está de volta.

"Você chorará sangue, lamentará por cada morte. Esse é o destino de um herdeiro."