6 - parte 2

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DISPONÍVEIS APENAS 6 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.---------------------

A noite está estrelada e a música baixa que soa nos autofalantes consegue me acalmar de um dia particularmente entediante. Estou na terceira taça de Malbec quando minha campainha soa. Vejo Anna pela tela do monitor, ela parece desconfortável, tem uma expressão fechada e nada contente por ter vindo até aqui me pedir desculpas. De repente minha noite acaba de melhorar.

Vou girando a taça nos dedos, andando a passos lentos, deixando que ela espere. Abro a porta devagar e logo que a encaro, sua expressão emburrada some e um falso sorriso surge em seu rosto. É um sorriso engraçado.

— Anna, que surpresa! A que devo a honra?

— Ah, senhor, desculpe vir sem avisar, estou fazendo por pura e espontânea chantagem!

— Você veio reclamar?

— De jeito nenhum! — Sua voz é calma e o sorriso forçado deixa seus dentes à mostra de uma maneira engraçada, mas ali, em seus olhos cor de mel eu vejo, ela está prestes a explodir. — Vim apenas me desculpar.

— É mesmo? E pelo que você veio se desculpar?

Ela revira os olhos, o sorriso forçado ainda ali.

— Por ter sido um pouquinho agressiva e ter te dado balinhas quando o senhor não as queria.

— Não foi o que você fez, meu bem. Você tentou me matar sufocado com tantas balas.

— E falhei, ou não precisaria passar por isso agora.

— Graças a Deus — confirmo com um sorriso e ela revira os olhos de novo, seu sorriso falso sumindo. — O sorriso, Anna, esperava suas mais doces e sinceras desculpas, não essa cara fechada de quem não se arrepende.

O sorriso volta, sua voz doce e calma quando diz:

— Soube que o senhor foi o centro das atenções hoje, senhor. De nada por isso.

Sorrio, a observo por um momento, tomo um pouco do vinho. Ela usa uma blusa colorida demais e um short jeans. Tem os cabelos marrons presos em um rabo de cavalo, e nada de maquiagem. Aprecio mulheres mais sofisticadas e bem vestidas, mas Anna tem de beleza o que lhe falta em sanidade. Entendo perfeitamente o fascínio de Leandro por ela.

— Acho que não vai funcionar, Anna, você é assim, atrevida demais, respostas rápidas, zero noção. Sua cabecinha está em um mundo à parte. Você não vai se dar bem com Lorenzo e o chef dele, não. Mancharia nossa amizade se eu indicar você — digo e tento fechar a porta, mas ela me impede colocando o pé.

A abro sentindo-me vitorioso e não há sorriso falso em seu rosto. Nem raiva em seus olhos. Há algo como desespero.

— Sinto muito, senhor Baltazi. Vamos ser sinceros aqui, não sinto muito pelas jujubas, você não ia morrer por elas, vamos ser realistas. Mas sinto muito por ter invadido seu espaço e ter ido trabalhar em sua empresa. Foi um erro e eu verdadeiramente sinto muito. Por favor, eu prometo que vou me comportar. Eu não sou assim, sou calma e centrada. Em três anos nunca tive uma discussão com o Igor, e trabalhávamos juntos.

— É difícil acreditar nisso.

— É você que desperta o meu pior lado.

— A culpa então é minha?

— E de quem mais seria? O fato é que eu preciso desse emprego. Por favor. Prometo que não irei desapontá-lo. Se eu o fizer, você pode encher minha boca com jujubas.

Não queria rir, mas não consigo evitar. Abro a porta e deixo que ela entre. Ela o faz desconfiada, ofereço uma taça de vinho e suas bochechas coram quando diz que se comporta diferente quando bebe.

Acaso ou destino - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora