5 - parte 2

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Estou na cantina finalizando a limpeza quando Açucena, a secretária super legal do meu chefe babaca, entra com mais algumas funcionárias. Elas cochicham algo que parece irritar Açucena, mas as outras três funcionárias à mesa com ela olham para mim e riem.

Continuo meu serviço, mas os cochichos aumentam ao ponto de eu ouvir meu nome. Deixo o esfregão de lado, me aproximo da mesa e cruzo os braços, encarando-as. Seus rostos se tingem de vermelho e elas desviam o olhar, como se não estivessem fazendo nada demais.

— Vamos, desembuchem, o que estão falando de mim? — pergunto.

— Elas acham que você é amante do senhor Baltazi, Anna — Açucena as entrega e elas ficam ainda mais sem graça.

— Me digam uma coisa, o senhor Baltazi por acaso é comprometido? — As quatro negam imediatamente. — Então não posso ser sua amante, certo? No máximo eu seria mais uma na cama dele, mas, por favor, eu não sou. Na verdade, Deus me livre!

Elas parecem confusas e puxo uma cadeira sentando-me com elas.

— Na verdade, eu não suporto esse pervertido e babaca que desde que entrou na minha vida, só me fez cair ladeira abaixo e sequer admite seus erros ou sua falta de noção. Ainda acha que pode me tratar como um cachorrinho e que devo ser muito grata por ele ter me carregado até a cama ontem à noite e ter feito o café da manhã para mim esta manhã! Como se não fosse obrigação dele!

As quatro agora me encaram com a boca aberta, em choque.

— Acho que falei demais — percebo me calando imediatamente, mas já é tarde demais.

Eu até tento explicar que não foi nada romântico como parece e sim uma sessão torturante de humilhação. Que até mesmo sua gentileza tem um propósito ruim depois, mas não adianta. Elas sequer me escutam enquanto falam sem parar sobre os sentimentos que o senhor Baltazi tem por mim, até mesmo Açucena, minha única defensora, caiu na delas. Falam tanto a palavra amor, que me pego rindo, finalmente atraindo a atenção das maluquinhas.

— Sentimentos, sim, ele tem muitos sentimentos por mim, ele até mesmo já escolheu em que lugar de seu quintal poderia enterrar o meu corpo.

— Besteira, ele dorme com muitas mulheres, às vezes elas vêm até aqui e ele sequer sabe o nome delas. Jamais permitiria que uma delas dormisse em sua casa ou faria café da manhã para elas. E ele nunca mesmo quer vê-las de novo, sem exceção, então para ele mantê-la aqui, perto dele todos os dias, é porque está apaixonado por você — Açucena diz convicta.

— Uau! Que imaginação! Bem, digamos que você esteja certa, que espécie de amor é esse em que ele me coloca como sua faxineira? — pergunto e isso as faz pensar, mas então Brenda encontra a solução.

— Ele não quer que você e mais ninguém saiba que ele está apaixonado. Mas é isso, ele está apaixonado.

Minha careta não deve ser das melhores, já que Açucena disfarça um sorriso ao olhar para mim, e imaginar esse babaca sentindo coisas por mim que não sejam uma necessidade assassina, me faz ter embrulhos no estômago.

— Credo! — digo de repente. — Credo mesmo! Bem, não vou discutir com vocês, se vocês acham que ele está apaixonado por mim, eu acredito. É uma pena que eu não esteja por ele. Não mesmo, nem um pouco, nunca. Então, é isso, se ele se declarar vai levar um fora — declaro e me levanto, deixando a cantina, ouvindo suas conversas emboladas e altas demais sobre a primeira mulher a dispensar o chefe.

Daqui a pouco todo mundo estará sabendo que ele morre de amores por mim, uma reles faxineira, e eu não o quero. Até me pego rindo, eu adoraria ver a cara dele quando ouvir isso.


Ligo para o abrigo no final da tarde e garanto minha vaga. Assim que eu começar a receber aqui, vou para uma pensão, mas por enquanto, com o pouco dinheiro que tenho, preciso conseguir mais alguns dias dormindo de graça. Açucena passa por mim apressada, meu trabalho do dia está terminado, mas preciso cumprir horário, então estou escondida no banheiro passando o tempo. Se Lucca me vir sem fazer nada, vai arrumar algo para eu fazer, é sempre assim. Açucena entra agitada com alguns papéis na mão, pede que os segure enquanto corre até a cabine, seu telefone tocando sem parar. Pouco depois ela sai, lava as mãos e o rosto, respira fundo e pega os papéis da minha mão prestes a chorar.

— Está tudo bem?

— Por que ainda não pedi demissão? Por que eu aturo esse ser cruel e sem coração me tratando como lixo?

— Nunca é tarde, você pode pedir agora.

— Não posso, não seria fácil conseguir outro emprego que pague tão bem! Estou muito endividada, mas também, muito cansada. Tenho que imprimir isso porque ele precisa disso para dez minutos atrás. E tenho que fazer duas ligações que ele precisa para vinte minutos atrás. Meu dia tem quarenta e oito horas dentro desta empresa, Anna, quarenta e oito horas de sofrimento.

— Como eu posso ajudá-la?

— Será que você pode imprimir isso para mim? — pede me passando um pen drive. — Tudo o que está aqui, imprima três cópias agora e leve até a sala do senhor Baltazi.

Pego o objeto e corro em direção a impressora. Há duas pastas no pen drive e imprimo o conteúdo das duas. Em seguida, levo até a sala do babaca pervertido, que não parece nada feliz ao me ver entrar com o documento.

— Aqui, senhor Baltazi, Açucena pediu que eu entregasse ao senhor — explico estendendo os papéis.

— Achei que você fosse a faxineira, não minha assistente.

— Deus me livre ser sua assistente! — digo sem querer e seus olhos cinzas se cravam em meu rosto, sua expressão nada contente. — Acho que vou voltar ao meu trabalho.

— Se você não estiver fazendo nada...

— Estou ocupada! — grito saindo de sua sala. Faço um sinal de positivo para Açucena que fala ao telefone e ela sorri em agradecimento.

Acaso ou destino - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora