4 - parte 2

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DISPONÍVEIS APENAS 6 CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO.---------------------

— Mais uma perda para sua conta, sua maluca — resmungo jogando-a no sofá.

Ela se senta e me encara, olha em volta, reconhecendo onde está e ri. Ri alto, dobrando a barriga e perdendo o fôlego. Me sento em uma mesa de centro de frente para ela e espero. Por que mesmo ela está na minha casa agora? Que merda estou fazendo?

— Sua companhia da noite foi embora. Mas não se preocupe, o porteiro vai pagar o táxi dela — comenta arrastado. — Eu também não tenho companhia essa noite — comenta depois, o riso sumindo. — Nunca tenho companhia.

— Coitadinha de você. Deite-se aí e durma — ordeno levantando-me para ir tomar um banho e dormir, mas então ela soluça e começa a chorar.

Ela chora alto, deita em uma das minhas almofadas e não tenho certeza se está passando mal.

— Ela não me quis, me abandonou na porta de um convento. Não parece uma novela mexicana triste? A pobre menina órfã. Mas é minha vida. Minha mãe não me quis. As crianças não me quiseram, eu não tinha amiguinhas. Nem na escola. Eu não gostava de ninguém porque achava que todo mundo ia me deixar.

Ela chora mais alto e não sei o que fazer.

— Ok, fique aí chorando, quando terminar você deita nessas almofadas e dorme, tudo bem?

Me viro para deixar a sala e encerrar a noite de um jeito totalmente oposto ao que eu havia planejado, mas ela se joga em minhas pernas, quase me desequilibrando.

— Não! Não me deixa você também! Conversa comigo! — pede aos prantos.

— Isso é mesmo necessário?

— Por favor.

— Cinco minutos — me viro levantando-a do chão e a ajeitando no sofá da maneira mais confortável possível.

Ela leva as mãos à cabeça, como se sentisse dor.

— Antes que você comece com sua novela mexicana, é possível que esta seja a primeira vez que você bebe, Anna? Eu preciso providenciar um balde?

Ela parece confusa.

— Eu não bebo — responde, deixando claro que sim, preciso de um balde.

— Continue com a ladainha, seu tempo está passando.

— Eu esperei por anos alguém me adotar, mas ninguém me escolhia. Eu nunca fui boa o bastante. Então eu desisti, parei de me arrumar quando era dia de visitação, parei de sorrir e tentar parecer inteligente. Eu nunca fui muito inteligente — confessa como se isso fosse um grande segredo.

— Não diga!

Volto a me sentar na mesa de centro enquanto ela fala sua verdadeira vida de novela mexicana. Se ela não viu isso que está contando numa tarde qualquer no SBT, sua vida foi mesmo uma merda. E então reparo o quanto seu rosto está vermelho por conta da bebida e como ela ri e chora, como uma maluca. E ainda assim é tão bonita!

— Quantos anos você tem, Anna? — interrompo curioso.

— Vinte e três!

— Como foi que você se virou quando saiu do orfanato? Eu imagino que tenha saído aos dezoito, certo? Como é que você está viva até hoje?

Ela parece confusa por um momento, há um toque de hostilidade em seus olhos, mas logo desaparece e ela sorri. Tem um sorriso imenso e lindo no rosto. Os olhos de mel fixados em mim.

— Eu dormia em abrigos, ou na rua. Então arrumei um emprego em um restaurante e conheci o meu noivo. O meu ex-noivo, graças a você — corrige pouco depois. — Trabalhei anos lá e depois ele abriu o próprio restaurante e foi assim que me mantive viva, se é o que você queria saber.

Acaso ou destino - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora