3 - parte 3

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Tomo banho cantarolando, o alívio que sinto por saber onde vou passar minha noite parece deixar minha alma com apenas metade do peso de minutos atrás. Encaro o banheiro espaçoso o suficiente, com água quente e que não dá choque. E eu ficaria aqui por horas se não tivesse que fazer o café do meu novo chefe.

Visto um vestido leve, prendo os cabelos em um coque rápido e vou fazer o seu café. Abro a geladeira ainda com vontade de cantarolar, quando me dou conta que não faço a menor ideia do que fazer a seguir.

— Você pode fazer ovos mexidos cremosos, um suco natural de laranja com acerola e torradas. Algo simples para seu primeiro dia — uma voz ordena atrás de mim e me viro para encontrar meu novo chefe sentado, observando meus passos.

Sorrio e assinto, procurando os ovos nessa geladeira enorme.

— Se você não achasse um lugar no seu quintal para esconder um corpo, poderia fazê-lo tranquilamente nessa geladeira — comento e escuto um riso. Dura pouco, mas sei que ouvi. — Ovos, ah, claro, laranjas. Achei a acerola.

Coloco tudo sobre a bancada e volto a geladeira. Como será que se faz ovos mexidos cremosos? Com alguma espécie de creme? Não parece ter creme algum aqui. Por que raios Igor nunca fez isso para mim em um café da manhã qualquer?

Sob o olhar atento do meu chefe, pego os ovos que saparei, encontro uma variedade de temperos enorme e demoro um pouco para saber o que é o sal, então fico mais vinte minutos procurando a frigideira. Tento esconder o leve tremor em minhas mãos quando quebro os ovos na frigideira e adiciono o sal. Ele me observa em silêncio, então ainda não fiz nada errado. Viro os ovos pouco depois e ele se levanta. Aproxima-se em silêncio e finalmente diz:

— Que merda você está fazendo? Eu disse ovos mexidos.

Balanço a frigideira bem diante dos seus olhos que agora não estão mais cinza. Não consigo decifrar qual a cor deles agora.

— Estou mexendo, não está vendo?

Ele me encara prestes a chorar, é essa sensação que tenho.

— Você está brincando comigo, não está? Anna, você sabe o que são ovos mexidos?

— Claro que eu sei! Eu trabalhei em restaurantes nos últimos três anos!

— Então você só está fazendo isso para me irritar? Você trabalhava em que função no restaurante do seu estimado noivo?

— Hostess.

— Não na cozinha.

— Eu raramente ia à cozinha.

— Estou percebendo. Você sabe cozinhar alguma coisa, Anna?

— Não sou nenhuma tapada, ok?

— Ok. O que você sabe cozinhar? Porque ovos mexidos você não sabe! — pergunta irritado desligando o fogão e abandono a frigideira admirada com meus ovos fritos tão bonitos.

— Outras coisas — tento enrolar, mas encaro seu olhar impaciente e decido ser sincera — quase nada — respondo baixinho.

— O que você disse? Fale mais alto. Repita em alto e bom som sua resposta, porque tenho certeza que você não aceitaria um emprego de cozinheira se sua resposta fosse mesmo quase nada.

— Oras, mas eu aprendo a cozinhar em um segundo.

— É mesmo? — Ele cruza os braços, nada divertido. — Como?

— YouTube, claro — respondo pegando o celular, mas ele o tira da minha mão e o arremessa longe.

— Saia da minha casa agora mesmo! Eu ainda tentei ser legal com você, mas você não passa de uma maluca! Oportunista e maluca! Pegue suas coisas e suma daqui!

— Mas eu juro que aprendo... — tento argumentar, mas ele já saiu da cozinha e não me resta outra coisa a não ser ao menos por hora, pegar minhas coisas e sair.

Vou tentar mais uma noite no abrigo e amanhã de manhã estarei de prontidão em sua empresa até que ele me dê algum cargo lá. Algo que eu possa realmente fazer.


Não tive sorte no abrigo esta noite, então, antes que seja tarde demais, pego um táxi até a casa dele, de novo. Como ontem, vou esperar que durma e entrar pela janela. O porteiro me deixa passar e paga o táxi mais uma vez. Uma garota poderia se acostumar com isso. A casa parece escura quando me aproximo, o que me faz questionar se ele não tem empregados numa casa tão grande! Dou a volta pelo imóvel e não parece ter ninguém em casa, o carro da outra noite não está na garagem, ele não está em casa.

Sorrio, feliz com minha sorte, já que estou faminta e cansada e vou até minha janela secreta, passo por ela sem dificuldade e saio na lavanderia escura. Acendo a luz para enxergar o caminho e dou de cara com alguém alto, trajando camisa social branca e uma expressão carrancuda, que me faz gritar imediatamente de susto.

— Então foi por aqui que você entrou.

— Não! Foi uma feliz coincidência — minto.

— Saia! — ele ordena com uma sombra de sorriso surgindo em seu rosto.

— Você parece estar rindo, então não sei se está mesmo me mandando embora ou...

— Não me irrite, Anna, saia daqui agora mesmo! Ande! Vou chamar a polícia, saia!

Sem saída, saio pela mesma janela por onde entrei, e o monstro cruel que me tirou tudo a fecha e a tranca, certificando-se de que não vou entrar de novo. Pouco depois, seu carro passa por mim e ele ainda buzina ao se despedir.

— Ele nem ia ficar em casa e não me deixou ficar também. Esses ricos metidos! — reclamo sozinha andando de um lado a outro em frente sua casa enquanto penso no que fazer.

— Boa noite, princesa, está perdida? — uma voz alta demais e alegre me faz perceber a presença de dois homens jovens. Sorrio em resposta, já que eles exibem sorrisos calorosos para mim.

— Não exatamente, era pra eu dormir aqui, mas parece que não poderei mais.

— Você não tem para onde ir? — um deles pergunta. Percebo que, apesar do porte alto e forte, ele tem o rosto jovem demais. Não tenho certeza que já seja maior de idade, mas possui um copo de alguma bebida colorida na mão.

— Na verdade, não.

— Gostaria de participar da nossa festa? Vai durar até de manhã. Você pode comer alguma coisa, beber um pouco, se divertir. E quando se sentir cansada, há muitas camas disponíveis onde pode dormir.

Abro o meu maior sorriso, mal acreditando em tamanha sorte.

— Jura? Não vou atrapalhar vocês?

Ele aponta para a mansão ao lado da de Lucca, de onde saem várias luzes, música alta e há tantos carros estacionados na porta, que sequer consigo conta-los.

— A casa está cheia, uma pessoa a mais não vai incomodar em nada, além do mais, você é minha convidada. Vamos?

— Claro! Meu nome é Anna, a propósito, como vocês se chamam?

Assim, os sigo até sua casa, como algo logo que entramos, e mesmo me sentindo tão deslocada aqui dentro, pois claramente as pessoas nessa festa tem muito dinheiro, eles me tratam como se eu fosse a convidada de honra aqui. Provo um pouco da bebida colorida que estão tomando e logo estou enturmada e dançando pela primeira vez em público.

— Chupa Lucca, pervertido babaca! — grito amimada, recebendo apoio e peço mais um pouco da bebida colorida. A noite vai ser ótima.

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Até terça, amores!

Acaso ou destino - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora