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Quando a comida chegou, nossos núcleos separados de conversa se tornaram um só.

Ou pelo menos tentamos fazer isso acontecer.

A verdade era que todos parecíamos estar dando espaço para Jane desenrolar a parte da interação porque se algum de nós — eu, Benjamim ou Logan — tentássemos contribuir levando em conta nossas bagagens do passado, certamente as coisas ficariam bem tensas.

Logan parecia querer ignorar a existência do meu acompanhante até que fosse completamente necessário reconhecer que ele estava ali. Então ele tentava se manter a par do que tinha acontecido na minha vida nos últimos anos.

Benjamim também não parecia muito disposto a tolerar o meu amigo, logo, de cinco em cinco minutos, eu era forçada a "esbarrar sem querer" em sua canela quando uma farpa sem graça saía de sua boca. A única pessoa que ele ainda estava levando a sério era Jane, que parecia tão encantada por ele quanto ele por ela.

Eu, por minha vez, estava na corda bamba entre mostrar que o que eu e Benjamim tínhamos era real, não magoar os sentimentos de Logan — estando com uma pessoa que ele não se dava bem — e matar Marchand.

Estava quase certa que aquela tensão toda tinha me custado uns 3 quilos.

Para a sorte de todos nós, Jane parecia estar alheia a qualquer conflito interno que estivesse rolando ali. Ela estava achando fascinante toda aquela interação de "velhos amigos".

Quase me senti mal por estar tão aliviada quando a conta chegou, mas é claro que Benjamim e Logan resolveram disputar quem pagaria.

Enquanto eles se decidiam e trocavam frases passivo-agressivas, perguntei se Jane não queria dar uma passada no banheiro antes de irmos embora e ela aceitou na hora.

— Eles sempre implicaram assim um com o outro? — Jane perguntou quando passamos pela porta.

— Você nem imagina o quanto. — Nós duas rimos, embora a minha risada fosse do mais puro desespero.

— Pensei que Benjamim não viria. Quer dizer, Logan tinha o colocado na lista de convidados, mas ele acabou recusando.

— Consegui convencê-lo de última hora. — respondi focando na minha imagem no espelho em vez de encará-la. — Ele estava... bem atarefado no trabalho.

Eu a conhecia há um pouco mais de uma hora e estava com a consciência pesada por toda aquela mentira que eu tinha tecido.

Minha mente acusava que a qualquer momento ela perceberia em meus olhos que eu só estava ali porque estava apaixonada por seu futuro marido desde sempre.

Jane deu um risinho ao dizer:

— Ele parece ser o tipo de namorado que faz qualquer coisa por você.

Não consegui conter a gargalhada.

Benjamim Marchand? Fazendo qualquer coisa por mim?

Era uma boa piada.

— Ah, não. Benjamim é bem... teimoso. Ainda é um mistério para mim como estamos juntos brigando tanto.

Jane terminou de ajeitar o cabelo e se apoiou contra a bancada da pia, sorrindo suavemente.

— Meus pais também são assim, sabia? Se não houver uma discussãozinha a cada vinte e quatro horas, tem algo errado. — eu ri. — Eles se conheceram na faculdade e se odiavam. Minha mãe costumava dizer que naqueles tempos ela preferia ver o próprio diabo na sua frente do que o meu pai. Ele, por sua vez, achava engraçado aquela raiva toda que ela sentia e a provocava sempre que podia. E voilá, estão juntos até hoje.

A Madrinha || DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora