No começo da manhã seguinte, eu e Benjamim fizemos um acordo silencioso de que nada havia acontecido.
Tipo, nada mesmo.
Estávamos fingindo que ainda eram dias antes do convite de Logan chegar na empresa do meu pai.
Dias antes de ele me pedir um favor e eu fazer uma contraproposta louca.
Quando apenas a visão um do outro já era o suficiente para atiçar os nossos nervos.
Eu acordara com o chiado de uma chaleira e um aroma suave misturado ao cheiro do café da manhã: ovos mexidos.
Minha cabeça doía um pouco, mas não chegava a ser uma ressaca.
Depois de subir os degraus, escovar os dentes, descer novamente e dobrar os lençóis, me alonguei no sofá e sentei esperando ouvir o som de Benjamim se movendo pela cozinha. Contudo, não foi possível ouvir nada além da chaleira.
Será que ele era um louco para esquecer algo no fogão ou estava tentando botar fogo na casa enquanto eu dormia?
Andei um pouco apressada em direção à cozinha e quase trombamos no momento em que eu passava pela entrada e ele entrava no chalé.
Seus cabelos estavam bagunçados provavelmente pelo vento que soprava no lado de fora, seus dedos seguravam um jornal em uma das mãos e um pequeno saquinho de papel em outra.
Algo se agitou dentro de mim ao visualizar o conforto com que Benjamim se movimentava. Como se dividíssemos a casa há anos.
Enquanto isso, eu ainda tinha que me manter calma toda vez que reparava que estava num cômodo sozinha com Marchand, quem dirá numa casa inteira.
Paralisei no meio do caminho, assim como Benjamim e nos encaramos pelo o que foi no máximo cinco segundos, mas que pareceram uma hora. Nossos corpos a centímetros da colisão.
Benjamim foi o primeiro a desviar o olhar.
—Bom dia, Chelly. — foi o que se permitiu dizer. Sem o tom afável que ele estivera usando nos últimos dias, mas sim com um tom projetado para me irritar.
— Bom dia. — respondi sem qualquer animação e essa foi nossa interação mais intensa desde ontem.
Benjamim não tentou se desculpar novamente.
Eu não tentei agradecer pela noite passada.
Ainda não conseguia achar o tom certo para dizer obrigada por ele me ajudar a vestir minhas calças e me pôr na cama como uma babá. Embora eu fosse capaz de lembrar exatamente a textura da mão da "babá" roçando acidentalmente em minhas pernas..
Me apressei para a cozinha ouvindo um suspirar de Benjamim logo atrás de mim.
Desliguei a chaleira. Ele não parecia ter se ausentado por muito tempo, mas a água do chá já estava pronta.
Os únicos barulhos na cozinha eram dos pratos e talheres se chocando contra algo e dos nossos pés dançando algo como "Não devemos encostar de jeito nenhum na outra pessoa no recinto."
Coloquei os ovos no prato e quando fui para mesa pequena de quatro lugares —o meu bem à frente de Benjamim. — notei que ao invés de uma xícara de chá tinha um copo cheio de suco de laranja — um comprimido colorido para dor de cabeça bem ao lado do copo.
Quase engasguei com a minha própria saliva.
Benjamim não pareceu perceber.
Na verdade, ele parecia achar a visão do seu prato a mais impressionante que já vira na vida.
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A Madrinha || DEGUSTAÇÃO
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