Capítulo 20 - Natural

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  April se sentia nitidamente mais a vontade, e Bryan sentiu-se aliviado por não precisar mais fazer esforço para que ela se sentisse em casa. Agora eles conversavam como pessoas normais, e não havia mais tensão, nervosismo e nem medo naquele lugar. Ele puxou a cadeira para que ela se sentasse, indo em seguida passar as bandejas do carrinho para a mesa. 

 - Eu posso fazer uma pergunta? - Ela disse enquanto o observava naquela tarefa.

- Acho dificil pensar em algo que você não possa fazer, Bela. - A resposta saiu dele de um jeito tão simples e normal, que fez o coração dela aquecer. Ela pensou em fazer alguma piada com aquilo, mas estava curiosa.

- O Bennet, quem ele é? Trabalha pra você? 

- Ele trabalha mais "comigo" do que "pra mim". Agora sirva-se. - Ele disse sentando-se a mesa na frente dela, e servindo algumas coisas em seu prato. 

Ela pegou o prato e enquanto servia, se manteve quieta. Quando terminou, olhou pra ele em expectativa de que ele se aprofundasse no assunto. - E Hillary? trabalha com você tambem?

- E isso é curiosidade ou ciume? - Ele indagou sorrindo de canto, o que a deixou desconcertada, e provavelmente com as bochechas um pouco vermelhas. 

- Depende. - April respondeu, tomando um gole generoso de sua taça de vinho para dar coragem, e recompondo sua postura ela finalizou:

 - Ela é alguém de quem eu deveria ter ciume, Querido?

Bryan jogou a cabeça para trás e gargalhou, uma risada tão gostosa de ouvir que fez o corpo dela se arrepiar. - Você não deveria ter ciume de ninguém, Bela. Começando pelo fato de que eu não sou muito simpático e amigável... e principalmente porque ninguém nunca chegaria a ter o mínimo da beleza que você tem, e da importância que você tem pra mim. Mas você vai notar isso com o tempo. Mas já que você está tão curiosa, Bennet e Hillary trabalham comigo. Eu "gerencio o setor", digamos assim, mas todos nós sempre decidimos e resolvemos tudo junto, somos uma equipe onde cada um é bom no que faz. Mas e você, como foi seu dia? E seus pais?

Ela ouvia atenta, e quando achou que finalmente fosse saber mais sobre o trabalho dele, e do que ele fazia, houve uma súbita mudança de assunto, e ela entendeu que o rumo da conversa tinha que ir para outro lugar porque sabia que ele não gostava de falar sobre o trabalho e quase sempre ficava tenso. Optou por manter o clima leve, e respondeu:

- Você sabe como foi meu dia. Eu acordei triste por não ter notícias suas, então aproveitei o dia sozinha em casa e fui para o studio de ballet. Você me ligou e aqui estamos. 

E depois da ligação? Como foi? Você ainda teve pelo menos umas 6 horas entre esses dois eventos. - Ele rebateu, curioso. 

- Ah sim. você quer a versão verdadeira e vergonhosa ou mentirosa e interessante, meu bem?

- É uma pergunta muito boa... eu tenho certeza de que adoraria ouvir a mentirosa e interessante, mas eu quero a verdadeira, por favor. - Ele riu e tomou um gole de vinho.

- Entendo, mas vai perder uma história e tanto! - Ela debocha e balança a cabeça . - Eu sai do studio, fui pra casa de ônibus e chegando lá liguei para os meus pais, pra ter certeza de que estavam de plantão mesmo. Acho que meu pai ficou desconfiado da ligação mas não pareceu se importar muito. Ele perguntou se eu precisava de alguma coisa, e eu inventei algo sobre querer fazer o jantar suficiente pra não sobrar. Ele disse que chegariam por volta das 3h da manhã, e que eu não precisava me preocupar, que eles se viravam com algo. Foi até meio carinhoso, acredita?

- Não vou entrar no assunto dos seus pais agora, mas você não vai conseguir escapar dessa conversa. - Ele avisou, e ela pareceu agradecida. - Mas então, você precisa estar em casa antes das 3h, é isso?

- Sim, isso. - Ela tinha certeza de que ele continuaria a falar, então só concordou em expectativa.

- Entendi... Bem, é por volta de 00h agora, então assim que você quiser ir, me avise e eu levo você. - Ele completou, educado.

 Eles estavam terminando o jantar, e Bryan havia pedido Pétit Gateau para a sobremesa. Pensou em como seria bom se ela ficasse durante a noite, mas decidiu não expôr isso, com medo de que ela entendesse errado, ou gerasse algum nervosismo. Ele tinha tempo, vontade e prazer em conquistar a confiança dela ao vivo. Sabia desde sempre que namorar April pela internet não ia garantir que continuasse namorando ao vivo. A parte da conquista sempre foi a preferida de Bryan, e colocar em prática com ela... seria delicioso. Principalmente conhecendo cada ponto fraco da sua alma, e desejando saber cada ponto fraco de seu corpo.

Ela concordou balançando a cabeça. O restante do jantar e a sobremesa foi tranquilo, e em algum tempo, já havia resolvido assistir um filme na sala, comendo pipoca e bebendo vinho. A escolha do filme foi simples, já que ambos conheciam os gostos do outro muito bem, e sabiam o que tinham em comum.

Bryan pegou um grande cobertor grande, enquanto April fazia a pipoca. Baixou as luzes da sala e  sentou em uma ponta do sofá para não obrigá-la a sentar em seu lado. Deixá-la confortável era o mais importante. Ela surgiu da cozinha com um balde de pipoca, duas taças de vinho, e a garrafa em baixo do braço. Reuniu tudo na mesinha de centro a frente, sentou no meio do sofá e puxando o cobertor dele, se ajeitou confortavelmente.

 Ele se inclinou, abrindo a garrafa e servindo as taças de vinho. Entregou o dela, pegou o controle da TV, e voltou a se ajeitar no sofá. A única coisa que os ligava era os joelhos que se encostavam delicadamente, mas mesmo assim, se sentiu satisfeito e tranquilo. Durante um ano inteiro ele não havia precisado encostar nela para ter a ligação que tem, porque precisaria agora? O calor que emanava do corpo dela, e ouvir sua respiração eram suficiente. Então a tela se acendeu, e "The Girl on The Train" começou. Os dois já haviam visto, mas falaram dele a um tempo atrás e combinaram de rever. Era um suspense bem feito, que deixava um ar de mistério e loucura.

Assistiram o filme todo com a mesma empolgação, e tudo aconteceu tão naturalmente, que quando os créditos começaram a aparecer, Bryan estava recostado no sofá, e April recostada nele. Seus corpos estavam conectados por todas as partes, a mão dele fazia carinho no pescoço dela gentilmente, enquanto a cabeça descansava em seu ombro, espalhando seu cabelo ruivo por todo o lado.

Quando a tela ficou escura, a sala toda entrou em um silencio confortável e ambos se alongaram saindo de suas posições, mas sem perder a proximidade. Bryan percebeu que ela não se afastou quando o filme acabou, e cuidou durante todo o processo para que ela não se sentisse pressionada. Tudo aconteceu tão naturalmente, que ele ficou contente por essa ligação estar "saindo da internet" tão rápido e de um jeito simples.

Ele tirou os braços que estavam em volta dela, e mexeu as pernas. Ela deu espaço se movimentando pra frente no sofá ainda de costas pra ele, sem pressa e começou a massagear o próprio pescoço. Ficou tanto tempo na mesma posição que parecia estar genuinamente dolorido. Percebendo o incomodo, Bryan aproximou as mãos do pescoço dela e tomou o seu lugar massageando com carinho, mas força.

Maldita ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora