A festa.

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- Te deixo nervosa, srta. Danvers?

Tanto que eu não consigo falar. Qual o meu problema?

- Eu gosto de mulheres que ficam nervosas ao meu comando. Acho que vamos nos dar melhor do que imaginei.

-

Quando percebe que da minha boca não saíra mais do que simples suspiro nervoso, ela solta meu braço e me dispensa com um sorriso.
Respiro fundo ao caminhar de volta para dentro daquela casa branca e sem vida. Vou até o quarto do pequeno Rojas e me sento no pufe ao lado da cama dele, pego meu celular na parte de frente do jeans e começo a rolar as conversas do WhatsApp até chegar na conversa da minha nova superior. A srta. Luthor.

"Está tudo bem?" era a mensagem que iluminava meu rosto enquanto a pouca luz do quarto me abraçava. Não sei se está tudo bem. Essa casa é estranha, a dona dela mais ainda... Não sei nem se devo responder a essa mensagem. Meus dedos suados de nervoso rolam e clicam várias vezes na foto de perfil do seu contato.

Resolvo deixar de lado e assistir o pequeno Rojas dormir.


Naquela mesma noite, às 20h em ponto, como Kara foi saber apenas duas horas antes, haveria uma festa de aniversário. A festa era de gala e ela não havia levado roupa o suficiente nem para uma festa infantil. Após breve conversa com Andrea, mandou mensagem para que Alex levasse até ela um vestido de tubo preto - o que ela julgou ser suficiente para a ocasião.

Assim que Alex entrou na mansão dos Rojas, seus olhos se fecharam de prontidão diante o branco das paredes e seus móveis. Ficou parada imóvel, com medo de tocar e alguma coisa se desfazer em suas mãos, esperando por Kara. Quando a mais nova chegou, com suor na testa, e sua franja parecendo ser uma extensão bizarra de sua cabeça, Alex puxou a mais nova para um canto e disse:

- O que diabos você esta fazendo nesse hospício? - a loira riu sem graça e suspirou fundo em concordância.

- Já não sei mais, mas hoje ainda é o primeiro dia de um final de semana que promete ser longo. Preciso do dinheiro, Alex. Trouxe meu vestido?

- Trouxe... você precisa desse vestido para cuidar de uma criança?

- Não, hoje terá uma festa e aparentemente terei de participar. Coisas da dona da casa.

- Ela bate bem? - as duas riram bem humoradas.

- Espero que melhor do que aparenta. Obrigada, Alex. Te vejo na segunda, certo?

- Certo. - Alex entendeu a deixa e após pousar um beijo na testa suada de sua irmã saiu porta a fora imaginando o quão estranho era aquele trabalho de verão.


Quando o relógio marcava 20h00, o pequeno Rojas estava correndo pela casa enquanto sua mãe ocupava o andar de cima para trocar-se. Kara não viu problema na correria e estava sentada no balcão da cozinha, mexendo em algumas frutas que ali ficavam de enfeite. Ao ouvir os passos pesados do salto alto de Andrea, a loira se colocou de pé e trouxe o menor para perto limpando o suor que já escorria de seus cabelos.

- Vejo que está pronta, srta. Danvers. - Andrea disse olhando a mais nova de cima a baixo, sem questão alguma de disfarçar. A loira se encolheu com o olhar invasor e respondeu com um sorriso amarelo e fraco, balançando a cabeça para cima e para baixo.

- Preciso que coloque meu filho para dormir. Hoje o ambiente não será para crianças.

- Mas... desculpe-me, mas se ele irá dormir, eu também posso ficar lá em cima?

- De forma alguma. A menos que você seja uma criança. Sei que é nova, mas é uma criança, srta. Danvers?

A loira encolheu novamente.

- Não... claro que não.

Ponto de vista de Luthor:

Estou atrasada para a festa estúpida de Rojas, mas estou indo apenas para ver como ela trata a Kara de perto. Nunca fui convidada para uma festa depois do término e imagino que o motivo do convite seja esfregar a loira em minha cara. Rojas pode ser mais velha, mas não perde em nada para crianças da 5a série.

Chegando em sua casa, pude notar que haviam mais carros do que imaginei que teriam. Será que essa mulher arrogante realmente tem muitos amigos ou eles estão aqui por educação? Se as pessoas a conhecem como eu, aposto na segunda opção. Assim que entro, deixo meu sobretudo em algum cabide e me dirijo a sala principal. As cores das paredes incrivelmente brancas ainda conseguem fazer meus olhos se fecharam involuntariamente, por Deus, Rojas, ainda com essa vibe de hospício? Se bem que a vibe lhe cai muito bem. Ouço alguém chamar e vejo que a Diretora também foi convidada. Aposto que está aqui por pura educação como o restante desses pobres coitados. Pouso o vinho que trouxe de presente na mesa recheada de embalagens e me caminho até a voz.

- Diretora! Que raro lhe ver em um lugar que não atrás de sua mesa. Como está?

- Ora, Luthor, não gosta do que vê? - a mais velha roda em seus calcanhares com a graça de quem já bebeu mais do que tem em mãos - Essa sou eu fora do meu habitat natural.

- Não sabia que isso era possível, estou emocionada - debocho, mas acabo rindo de mim mesma e com a Diretora que também ri bem humorada.

Essa festa promete ser estranha, no mínimo.

Ponto de vista de Danvers.

- Acho que não - digo mais próxima a Rojas pois estamos próximas ao alto falante que expele a música ambiente.

- Acha que não? Danvers, você deveria saber se tem alguém em sua vida.

Eu deveria, mas não quero dizer que não, essa não parece a melhor resposta no momento. Por favor, minta, Danvers, só dessa vez!

- Não tenho ninguém, tem razão, eu sei disso. - Parabéns, Kara, você mentiu muito bem! Ameba.

A mais velha se aproximou mais e pousou uma mão em minha cintura, ela sussurra algo em meu ouvido que não ouço pois no momento em que me inclino posso ver Luthor do outro lado da sala, com uma mão no bolso e a sobrancelha arqueada, mas por mais que eu tente, não consigo sair de perto de Rojas. Ela tem esse ar... hipnotizante. Ainda não decidi se isso é bom ou ruim, mas o perfume dela me parece certo demais no momento. Então me inclino um pouco mais, quase que uma forma de provocar Luthor, mas mais porque sou atraída pela mulher a minha frente.

- Pode repetir? - digo quase sussurrando em seu ouvido, mas não vou tão longe.

- Adorei o vestido, ele cai muito bem em você. - ela sussurra novamente e eu sorrio sem tirar os olhos de Luthor que me vira as costas no momento em que o sorriso cruza meus lábios.

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